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COSMOLOGIA
Descoberta ajuda a decifrar a matéria escura
Astrônomos britânicos localizam galáxia completamente invisível
SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Apontando radiotelescópios
para o céu, astrônomos identificaram uma "assinatura" de rádio
que denunciava a presença de hidrogênio, numa quantidade equivalente à de 100 milhões de sóis. A
velocidade de rotação do conjunto também parecia grande. Usando telescópios ópticos, esperavam
ver uma galáxia de porte razoável,
que seria visível até com equipamentos amadores. Mas o que viram foi... nada. O grupo liderado
pelo astrofísico Robert Minchin,
da Universidade de Cardiff, no
Reino Unido, acabava de descobrir uma galáxia invisível.
As estimativas com base na taxa
de rotação também indicaram
uma presença de matéria bem
maior do que os estimados 100
milhões de sóis detectados na forma de hidrogênio disperso. Na
verdade, a imensa maioria da
massa daquela galáxia é indetectável em todas as freqüências do
espectro eletromagnético, indo
do infravermelho aos raios gama,
passando pela luz visível.
Os astrônomos primeiro haviam tropeçado na galáxia em
2000. Mas o resultado era tão bizarro que eles tiveram todo o cuidado de verificar tudo antes do
anunciar o achado. A conclusão
dos trabalhos levou a um estudo,
divulgado agora no Reino Unido.
"A explicação viável que restou
é a de que VIRGOHI21 [nome dado ao objeto] é um halo escuro
que não contém a esperada galáxia brilhante", escreveram os pesquisadores em seu artigo.
Já se sabia havia tempo que todas as galáxias do Universo, inclusive a nossa, tinham mais massa
do que aquela que compõe todas
as estrelas, os planetas, as luas e as
nebulosas -a chamada matéria
bariônica, feita dos átomos e das
partículas que formam tudo que
se conhece hoje. À massa faltante,
cuja atuação gravitacional pode
ser sentida, convencionou-se chamar de matéria escura.
Agora, uma coisa completamente diferente é uma galáxia
sem estrelas, feita somente de matéria escura e uma nuvem difusa
de hidrogênio. Foi isso que os
cientistas "viram" com os radiotelescópios em Cheshire (Reino
Unido) e Arecibo (Porto Rico), a
uma distância de uns 50 milhões
de anos-luz, no aglomerado de
Virgem, um vasto conjunto de galáxias que se prenderam umas às
outras pela força gravitacional.
"É algo notável, sim", diz Cássio
Leandro Barbosa, do Instituto de
Astronomia, Geofísica e Ciências
Atmosféricas da USP (Universidade de São Paulo). "Se a definição de galáxia pelo dicionário
Houaiss é "sistema estelar isolado
no espaço cósmico", como chamar uma galáxia sem estrelas?"
A descoberta pode vir a ajudar
os cientistas a decifrar o mistério
do que é de fato a matéria escura,
que responde por 23% de tudo
que há no cosmos (apenas 4% são
a matéria "normal", e todo o resto
é composto pela ainda mais misteriosa "energia escura"). "Uma
região em que tanta matéria escura impediu a formação de estrelas,
mas manteve o gás sem se dissipar é algo para pensar", afirmou
Barbosa à Folha.
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