São Paulo, sábado, 25 de novembro de 2000

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RÉPTEIS
Médicos e biólogos querem descobrir por que mordidas provocam infecções
Grupo do AM estuda baba de jacaré

DO ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA

Baba de jacaré não parece ser lá algo muito fascinante de estudar, mas um grupo de médicos e biólogos do Amazonas não pensa em outra coisa. Eles querem descobrir que tipos de bactéria moram na saliva desses répteis, para tentar produzir um tratamento contra as mordidas do animal.
Cerca de 80% dos acidentes envolvendo seres humanos e jacarés levam à infecção. E boa parte deles, à amputação do membro atingido pelo animal.
"São pessoas mordidas no interior e que têm de fazer viagens longas de barco para serem tratadas em Manaus", explicou o ortopedista Nelson Carvalho de Oliveira, da Universidade do Amazonas, coordenador do estudo. "Às vezes a infecção evolui nesse meio tempo e é preciso amputar."
Segundo Oliveira, o objetivo do estudo é conhecer os agentes causadores da infecção para treinar os médicos no interior a dar o atendimento inicial aos ribeirinhos mordidos por jacaré.
"Como ninguém sabe que bactérias estão agindo, a tendência é dar um coquetel de antibióticos ao paciente, o que é pouco eficaz", afirmou o ortopedista.

Em 10 anos, 200 mordidas
Na última década, segundo o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), agência ligada ao Ministério do Meio Ambiente, cerca de 200 pessoas foram mordidas por jacaré no Amazonas. Quatro morreram.
"Os EUA demoraram 50 anos para chegar a essa marca", afirmou o biólogo Ronis da Silveira, do Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia).
De quatro espécies do réptil que vivem na região amazônica, só duas -jacaré-açu e jacaretinga- atacam humanos.
"A geração de ribeirinhos de hoje nasceu numa época em que os jacarés haviam sumido da área visível dos rios, devido à caça", disse Silveira. "Hoje, as populações do animal estão crescendo nas zonas habitadas, e as pessoas simplesmente não sabem lidar com eles." (CLAUDIO ANGELO)



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