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Cérebro imigrado
Pesquisador
que trocou
Buenos Aires
por Porto Alegre diz que
país precisa
concentrar
recursos em
grupos de
excelência já
estabelecidos
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Por mais problemas
que os brasileiros enfrentem para fazer
ciência, isso não impediu que o país tenha centros de excelência que
se destaquem por fazer pesquisa de qualidade. USP e Unicamp costumam chamar mais
a atenção, mas grupos no Rio,
na Amazônia e no Sul do país
não só têm feito a lição de casa
como ainda atraem pesquisadores estrangeiros para cá.
É o caso do neurocientista
argentino Martín Cammarota,
38, que há cinco anos trocou
Buenos Aires por Porto Alegre,
onde faz parte do laboratório
de estudos da memória da PUC
do Rio Grande do Sul. E ele
nem pensa em voltar para a
beira do rio da Prata.
O grupo gaúcho é coordenado pelo argentino-brasileiro
Iván Izquierdo, autoridade
mundial no estudo de fisiologia
da memória. Izquierdo, a quem
Cammarota chama de "pai
científico", é um dos motivos
pelos quais ele decidiu se mudar para o Brasil. O outro é que
ele se casou com uma brasileira
que conheceu na Universidade
de Buenos Aires.
"Eu trabalho com o maior
cientista do Brasil e duvido que
alguma outra universidade na
América Latina fosse melhor.
Mas estou aqui também por razões familiares e culturais. Hoje me sinto brasileiro. Seria um
estrangeiro na Argentina."
Sobre os problemas da ciência nacional, ele concorda que
eles existem e que são complicados, às vezes, limitantes, mas
diz acreditar na capacidade do
país. "É claro que poderia ser
melhor, mas não tenho dúvida
de que o Brasil será um potência científica. Seu tamanho
continental o obriga a ser uma
potência científica. Agora, o
tempo que vai levar para isso
ocorrer depende de quanto os
políticos vão roubar."
Um dos pontos positivos no
Brasil para Cammarota, na
comparação com a Argentina, é
o sistema de bolsas de doutorado. "Na Faculdade de Medicina
da Universidade de Buenos Aires são concedidas três bolsas
para 20 mil alunos. Eles têm
mais estudantes que a Federal
do Rio Grande do Sul inteira.
Mas aqui, só para o departamento de bioquímica e genética, que tem 500 alunos, há 30
bolsas por ano. Então nesse
sentido, a vantagem é enorme."
Apesar disso, ele defende que
talvez seja o momento de passar a redirecionar esse investimento. "A política de distribuição de recursos não pode parar,
mas acho que hoje, ao menos
aqui no Sul, alcançamos uma
massa crítica suficiente. É hora
de fortalecer os grupos de excelência já consolidados. Criar
políticas de premiação para a
qualidade da produção. Repartir é fácil, selecionar é antipático, eu sei, mas faz parte do processo de evolução", afirma.
Então vale a pena ficar aqui?
"Sim, por fazer parte de algo
que está sendo construído."
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