Bauru chic

Era março de 1922. Um italiano fanático por futebol e amante da boemia abria o Ponto Chic no número 27 do largo do Paissandu, no centro antigo de São Paulo, onde se concentrava a agitada vida noturna da cidade.

Seu batismo veio depois de abrir -e fez todo o sentido: eram "luxuosas instalações, com espelhos decorados, azulejos franceses, cristais importados, balcão e mesas com tampo de mármore" que, sem demora, fizeram dali um ponto de encontro de intelectuais.

Foi a trajetória desse boêmio Ponto Chic, que resiste ao tempo e esconde ares de antigamente, que o jornalista Angelo Iacocca toma emprestada para remontar, com romantismo e riqueza de detalhes, a história de São Paulo, em "Ponto Chic - Um Bar na História de São Paulo".

E assim recupera a São Paulo provinciana, do início do século 20, com bondinhos puxados a burros, lampiões, casarões dos barões do café.

Iacocca passeia pelo surgimento do Theatro Municipal, do Cinema Central, do edifício Martinelli. Pela Semana de Arte Moderna de 22, pelo enraizamento do futebol como esporte das massas, pelo surgimento do rádio e da televisão, pela vida política -e ardente e conturbada.

Desdobra o folclore que envolve a criação do bauru, o sanduíche que virou símbolo da noite paulistana. Recolhe depoimentos de antigos habituês, garçons e familiares dos proprietários para desenhar a história original.

Conta-se que nos anos 1936, Casimiro Pinto Neto, um camarada que veio de Bauru para estudar na faculdade de direito do largo de São Francisco, estava faminto e pediu um sanduíche com queijo derretido, fatias de rosbife e umas fatias de tomate -a conserva de pepino foi agregada só mais tarde.

Amarra os relatos ao contar como o Ponto Chic morreu e como renasceu. Deixa claro (claríssimo!) por que diabos um simbolismo tão encantador envolve esse local, que ajuda a contar a história de São Paulo.