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PESQUISA
Medicamento está sendo testado em humanos; patente da fórmula pode ser vendida a uma indústria farmacêutica
USP produz primeiro anestésico brasileiro
KÁTIA STRINGUETO
DA REPORTAGEM LOCAL
Um novo tipo de anestésico para uso local é desenvolvido na
Universidade de São Paulo e promete ser mais eficaz e menos tóxico do que as drogas disponíveis
no mercado. A invenção é da
anestesista Maria Simonetti, do
Departamento de Farmacologia
do Instituto de Ciências Biomédicas da USP.
É o primeiro anéstesico brasileiro. Batizado de simocaína, numa
referência ao sobrenome da pesquisadora, o medicamento é injetável e nasceu de uma idéia simples. Ajustar a fórmula de antigos
anestésicos a fim de retirar parte
dos ingredientes que faziam mal e
aumentar a dose do que faz bem.
A matéria-prima da pesquisa foi
a bupivacaína -o anestésico de
uso local mais utilizado no mundo. Ele é formado por 50% de
compostos chamados de "isômeros bons" (que têm a função de
relaxamento muscular) e por 50%
de compostos considerados
"ruins" (tóxicos para o coração).
"Já se tentou fazer um anestésico com 100% de isômeros bons,
mas ele se mostrou pouco eficaz
na prática", disse a pesquisadora.
"O que eu fiz foi mexer na receita
original. Coloquei 75% de isômeros bons e uma pitadinha de 25%
de isômeros ruins."
O resultado foi surpreendente.
Testes em ratos demonstraram
que a simocaína tem tripla vantagem: começa a fazer efeito antes
dos outros anestésicos, seu tempo
de anestesia é mais longo (o que
beneficiará pacientes submetidos
a cirurgias demoradas) e seus
efeitos colaterais são menores.
Em comparação com a bupivacaína, a droga desenvolvida na
USP causa 30% a 40% menos problemas ao coração, principal risco
quando se aplica uma anestesia.
"Em tese é uma ótima invenção.
E será um grande avanço. Mas
precisamos ver como a droga se
comporta nos pacientes", disse o
professor Pedro Thadeu Galvão
Vianna, do departamento de
anestesiologia da Faculdade de
Medicina de Botucatu.
Segundo Maria Simonetti, os
testes clínicos em humanos já começaram. "Vários centros de treinamento em anestesia do Brasil
estão testando. O Hospital das
Clínicas é um exemplo."
Caso tenha a aplicação aprovada, a simocaína poderá ser usada
em todas as cirurgias em que for
necessária uma anestesia local
(peridural ou raquidiana, por
exemplo) e também para alívio da
dor pós-operatória.
A Universidade de São Paulo
entrou com o pedido de patente
da droga no Instituto Nacional da
Propriedade Industrial, do Ministério da Ciência e Tecnologia. Ao
mesmo tempo, está negociando
com uma indústria farmacêutica
brasileira a venda da patente para
que a simocaína possa ser produzida em escala industrial.
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