São Paulo, quinta-feira, 01 de fevereiro de 2001

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PESQUISA

Medicamento está sendo testado em humanos; patente da fórmula pode ser vendida a uma indústria farmacêutica

USP produz primeiro anestésico brasileiro

KÁTIA STRINGUETO
DA REPORTAGEM LOCAL

Um novo tipo de anestésico para uso local é desenvolvido na Universidade de São Paulo e promete ser mais eficaz e menos tóxico do que as drogas disponíveis no mercado. A invenção é da anestesista Maria Simonetti, do Departamento de Farmacologia do Instituto de Ciências Biomédicas da USP.
É o primeiro anéstesico brasileiro. Batizado de simocaína, numa referência ao sobrenome da pesquisadora, o medicamento é injetável e nasceu de uma idéia simples. Ajustar a fórmula de antigos anestésicos a fim de retirar parte dos ingredientes que faziam mal e aumentar a dose do que faz bem.
A matéria-prima da pesquisa foi a bupivacaína -o anestésico de uso local mais utilizado no mundo. Ele é formado por 50% de compostos chamados de "isômeros bons" (que têm a função de relaxamento muscular) e por 50% de compostos considerados "ruins" (tóxicos para o coração).
"Já se tentou fazer um anestésico com 100% de isômeros bons, mas ele se mostrou pouco eficaz na prática", disse a pesquisadora. "O que eu fiz foi mexer na receita original. Coloquei 75% de isômeros bons e uma pitadinha de 25% de isômeros ruins."
O resultado foi surpreendente. Testes em ratos demonstraram que a simocaína tem tripla vantagem: começa a fazer efeito antes dos outros anestésicos, seu tempo de anestesia é mais longo (o que beneficiará pacientes submetidos a cirurgias demoradas) e seus efeitos colaterais são menores.
Em comparação com a bupivacaína, a droga desenvolvida na USP causa 30% a 40% menos problemas ao coração, principal risco quando se aplica uma anestesia.
"Em tese é uma ótima invenção. E será um grande avanço. Mas precisamos ver como a droga se comporta nos pacientes", disse o professor Pedro Thadeu Galvão Vianna, do departamento de anestesiologia da Faculdade de Medicina de Botucatu.
Segundo Maria Simonetti, os testes clínicos em humanos já começaram. "Vários centros de treinamento em anestesia do Brasil estão testando. O Hospital das Clínicas é um exemplo."
Caso tenha a aplicação aprovada, a simocaína poderá ser usada em todas as cirurgias em que for necessária uma anestesia local (peridural ou raquidiana, por exemplo) e também para alívio da dor pós-operatória.
A Universidade de São Paulo entrou com o pedido de patente da droga no Instituto Nacional da Propriedade Industrial, do Ministério da Ciência e Tecnologia. Ao mesmo tempo, está negociando com uma indústria farmacêutica brasileira a venda da patente para que a simocaína possa ser produzida em escala industrial.


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