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Nessa região, uma advogada que militava na área foi ameaçada de morte e teve que buscar exílio
Em Sapopemba, 10% apóiam maus-tratos
DA REPORTAGEM LOCAL
Situação um: 10% dos moradores de uma região de São Paulo
afirmam que a polícia deve sempre utilizar a tortura como meio
de obter a confissão de um suspeito de ter cometido um crime.
Situação dois: quase duas dezenas de denúncias de violação de
direitos humanos em um ano numa mesma área da cidade. Ali, a
polícia é acusada de tortura, assassinato e de ameaçar de morte
uma advogada que defendia
quem denuncia a ação truculenta
de policiais. Acolhida pela Anistia
Internacional, essa advogada vive
hoje fora do país.
Regiões distintas, antagônicas?
Não, é a mesma: Sapopemba/São
Mateus, na periferia leste de São
Paulo -pela metodologia do Datafolha, a área inclui ainda Cidade
Líder e Parque do Carmo.
Sapopemba não é o bairro mais
violento da cidade, mas está entre
os cinco principais. Em 2000, conforme a Fundação Seade, ocorreram ali 95 homicídios, contra 135
do Grajaú ou 109 do Jardins Ângela, ambos bairros da zona sul e
os campeões desse tipo de crime.
Mas é de Sapopemba que chega
às entidades de defesa dos direitos
humanos grande parte das denúncias de violência policial. Eis
três casos relatados à Comissão
Municipal de Direitos Humanos:
Em março de 2002, um jovem
de 20 anos que transitava à noite
pelo bairro foi alvejado com cinco
tiros. Os disparos teriam partido
de um policial à paisana que alegou ter sentido medo do rapaz.
Em 2003, durante operação para elucidar um seqüestro, policiais civis teriam invadido residências do bairro, prendendo um
casal numa delas. Segundo a comissão, "o casal foi barbaramente
torturado na própria residência".
Ainda durante essa mesma operação, um adolescente foi morto
com um tiro nas costas, após ter
sido preso e liberado pelos policiais, que, segundo os denunciantes, teriam atirado.
Os casos foram apresentados
pela advogada Valdênia Aparecida Paulino, do Centro de Defesa
dos Direitos Humanos de Sapopemba, à secretária-geral da Anistia Internacional, Irene Khan, que
visitou o bairro no ano passado.
Valdênia é conhecida como militante contra abusos policiais e
recebeu recados segundo os quais
estaria "fazendo hora extra na
Terra". Em julho de 2003, discutiu
na Secretaria Nacional dos Direitos Humanos os problemas da região e o seu próprio. Até o final do
ano, as ameaças aumentaram, e
Valdênia, sob proteção da Anistia, mudou-se para os Estados
Unidos. Agora, vive na Europa.
"Quem trabalha nessa área sofre ameaças e sabe que os denunciantes são freqüentemente vítimas de represálias", diz a socióloga Beatriz Affonso, da Comissão
Municipal de Direitos Humanos,
criada em setembro de 2002 com
o objetivo de recolher denúncias e
acompanhar casos. Nos primeiros 12 meses de trabalho, houve
143 comunicações de violações de
direitos humanos. Dessas, 62 foram "adotadas" pela comissão e
31 têm policiais como acusados.
"Mas, de setembro até agora, recebemos cem comunicações",
afirma Beatriz.
(LUIZ CAVERSAN)
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