São Paulo, domingo, 01 de fevereiro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Especialistas criticam TV

DA REPORTAGEM LOCAL

Os programas populares de televisão que exploram a criminalidade são um dos principais responsáveis pelo sentimento reinante em boa parte da população de que a polícia deve agir com mais agressividade, inclusive lançando mão da tortura.
Essa é a opinião de três estudiosos das relações cidadão-polícia ouvidos pela Folha: o ex-ministro da Justiça e advogado José Carlos Dias, o ex-promotor, advogado e vice-prefeito de São Paulo, Hélio Bicudo, e o ex-Secretário Nacional de Segurança Pública, José Vicente da Silva.
Eles também apontam o medo da violência e a desinformação como determinantes. "Os defensores da retórica repressiva ocupam muito espaço na mídia, sobretudo em programas populares de televisão, e influenciam a população sofrida e amedrontada. Acaba prevalecendo o sentimento de que "só matando essa gente'", diz José Vicente da Silva.
Para ele, a reação mais comum da população submetida à falta de segurança é o medo, "principalmente daqueles que não têm condições éticas mais adequadas".
Silva alerta, porém, para o fato de a criminalidade "não estar regredindo sensivelmente em nenhum Estado. Em São Paulo, estima-se que 1 em cada 20 cidadãos já tenha sido assaltado".
Com histórico de combate à violência policial desde a década de 50, quando era promotor, Bicudo diz que "os programas populares de rádio e TV provocam na população mais pobre sentimento de medo de tal ordem que ela acaba achando que o criminoso deve ser encontrado por qualquer meio, inclusive a tortura".
Na opinião de Bicudo -que também é o presidente da Comissão Municipal de Direitos Humanos-, esses programas levam à população "maneiras distorcidas de ver a realidade. É um equívoco, porque quem vai ser torturado é alguém como ele mesmo, pobre e desinformado".
Além desse "equívoco" das camadas mais humildes da população, Bicudo diz que há "complacência" com a tortura por parte das classes mais privilegiadas. "Veja o caso dos meninos da Febem sendo espancados em corredor polonês sem que ninguém diga absolutamente nada."
José Carlos Dias, que foi ministro também no final do governo FHC e, como Bicudo, milita na área de direitos humanos em São Paulo, apresenta sua visão: "É um problema de educação. Veja que, nas áreas em que há melhor formação, o apoio à tortura é menor, porque as pessoas aceitam as regras do Direito".
Mas ele não se furta a apontar os programas de TV que mostram prisões e perseguições policiais e "que fazem a apologia da violência contra os criminosos" como responsáveis pelo problema. (LUIZ CAVERSAN)


Texto Anterior: Em Sapopemba, 10% apóiam maus-tratos
Próximo Texto: PM exemplar é 1º oficial preso por abuso
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.