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Especialistas criticam TV
DA REPORTAGEM LOCAL
Os programas populares de televisão que exploram a criminalidade são um dos principais responsáveis pelo sentimento reinante em boa parte da população
de que a polícia deve agir com
mais agressividade, inclusive lançando mão da tortura.
Essa é a opinião de três estudiosos das relações cidadão-polícia
ouvidos pela Folha: o ex-ministro
da Justiça e advogado José Carlos
Dias, o ex-promotor, advogado e
vice-prefeito de São Paulo, Hélio
Bicudo, e o ex-Secretário Nacional de Segurança Pública, José Vicente da Silva.
Eles também apontam o medo
da violência e a desinformação
como determinantes. "Os defensores da retórica repressiva ocupam muito espaço na mídia, sobretudo em programas populares
de televisão, e influenciam a população sofrida e amedrontada.
Acaba prevalecendo o sentimento
de que "só matando essa gente'",
diz José Vicente da Silva.
Para ele, a reação mais comum
da população submetida à falta de
segurança é o medo, "principalmente daqueles que não têm condições éticas mais adequadas".
Silva alerta, porém, para o fato
de a criminalidade "não estar regredindo sensivelmente em nenhum Estado. Em São Paulo, estima-se que 1 em cada 20 cidadãos
já tenha sido assaltado".
Com histórico de combate à
violência policial desde a década
de 50, quando era promotor, Bicudo diz que "os programas populares de rádio e TV provocam
na população mais pobre sentimento de medo de tal ordem que
ela acaba achando que o criminoso deve ser encontrado por qualquer meio, inclusive a tortura".
Na opinião de Bicudo -que
também é o presidente da Comissão Municipal de Direitos Humanos-, esses programas levam à
população "maneiras distorcidas
de ver a realidade. É um equívoco,
porque quem vai ser torturado é
alguém como ele mesmo, pobre e
desinformado".
Além desse "equívoco" das camadas mais humildes da população, Bicudo diz que há "complacência" com a tortura por parte
das classes mais privilegiadas.
"Veja o caso dos meninos da Febem sendo espancados em corredor polonês sem que ninguém diga absolutamente nada."
José Carlos Dias, que foi ministro também no final do governo
FHC e, como Bicudo, milita na
área de direitos humanos em São
Paulo, apresenta sua visão: "É um
problema de educação. Veja que,
nas áreas em que há melhor formação, o apoio à tortura é menor,
porque as pessoas aceitam as regras do Direito".
Mas ele não se furta a apontar os
programas de TV que mostram
prisões e perseguições policiais e
"que fazem a apologia da violência contra os criminosos" como
responsáveis pelo problema.
(LUIZ CAVERSAN)
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