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SAÚDE
Pesquisa mosta juventude deprimida
AURELIANO BIANCARELLI
da Reportagem Local
A depressão em populações jovens é mais comum do que se acreditava. Pesquisa realizada entre estudantes universitários de São
Paulo revelou que 19% deles já tinham vivido um transtorno depressivo importante pelo menos
uma vez na vida.
Entre esses estudantes, 7,9%
apresentavam a doença por ocasião da entrevista. Um em cada
dois entrevistados tinha sintomas
depressivos, como falta de motivação ou tristeza.
Os números encontrados são até
dez vezes mais altos que os achados em estudos com a população
em geral. A pesquisa fez parte da
tese de doutoramento do psiquiatra Dartiu Xavier da Silveira, defendida no mês passado na Universidade Federal de São Paulo
(Unifesp). O orientador da tese foi
o professor Miguel Roberto Jorge,
do Departamento de Psiquiatria
da Unifesp.
Os transtornos quantificados pelo estudo não incluem as depressões esperadas, aquelas causadas
por perdas importantes como o luto e a separação, por exemplo.
Foram estudados 523 universitários do curso de Arquitetura da
USP (FAU), da Medicina da Unifesp e de Economia das Faculdades
Metropolitanas Unidas (FMU).
"Era de se esperar que entre jovens a prevalência de depressão
fosse menor", diz Jair Mari, professor titular do Departamento de
Psiquiatria da Unifesp. Uma pesquisa de 1991, coordenada pela
Unifesp e pela Universidade Federal da Bahia e realizada em três capitais, mostrou que cerca de 3% da
população tinham sofrido uma depressão grave no último ano.
Segundo vários estudos internacionais, 6% da população apresentam pelo menos um episódio depressivo maior na vida.
A crença dominante, pelo menos
até agora, era a de que a depressão
atingia apenas as pessoas idosas.
"O estudo serve de alerta", diz
Mari. "Mostra que jovem também
tem depressão e com frequência
relativamente alta. Se não cuidada,
em alguns casos pode evoluir para
o suicídio."
Em outros, pode levar à dependência química, como o uso de
drogas e o alcoolismo.
"As pessoas tendem a associar
depressão com idade mais avançada, mas não foi isso que encontramos", diz Silveira.
Wagner Gattaz, chefe do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP, diz que
só nos últimos anos passou-se a
diagnosticar depressão em jovens.
"A tendência era diagnosticá-la
como transtorno de personalidade
depressiva", diz. "Isso tinha implicações no tratamento. Se o diagnóstico é depressão, a pessoa deve
ser tratada com antidepressivos e
psicoterapia cognitiva."
Até recentemente, nos EUA,
acreditava-se que depressão em
jovens era apenas uma crise da
adolescência ou da juventude. Nos
últimos anos, alguns estudos vêm
indicando um aumento dos sintomas depressivos em grupos cada
vez mais jovens.
Em seu trabalho, Dartiu da Silveira utilizou a escala para depressão do Centro de Estudos Epidemiológicos dos EUA, com algumas adaptações para o Brasil.
Entre os 523 estudantes estudados, um grupo de 50 foi sorteado e
entrevistado. Entre os dependentes de drogas, 50 foram sorteados
para entrevistas de um grupo
maior em tratamento no Proad,
programa de acompanhamento ligado à Unifesp.
Os cem sorteados foram submetidos a entrevista psiquiátrica padronizada por modelo internacional. Essas entrevistas, com mais de
uma hora de duração cada uma,
possibilitaram os resultados qualitativos do pesquisa.
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