São Paulo, domingo, 1 de fevereiro de 1998

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SAÚDE
Pesquisa mosta juventude deprimida

AURELIANO BIANCARELLI
da Reportagem Local

A depressão em populações jovens é mais comum do que se acreditava. Pesquisa realizada entre estudantes universitários de São Paulo revelou que 19% deles já tinham vivido um transtorno depressivo importante pelo menos uma vez na vida.
Entre esses estudantes, 7,9% apresentavam a doença por ocasião da entrevista. Um em cada dois entrevistados tinha sintomas depressivos, como falta de motivação ou tristeza.
Os números encontrados são até dez vezes mais altos que os achados em estudos com a população em geral. A pesquisa fez parte da tese de doutoramento do psiquiatra Dartiu Xavier da Silveira, defendida no mês passado na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). O orientador da tese foi o professor Miguel Roberto Jorge, do Departamento de Psiquiatria da Unifesp.
Os transtornos quantificados pelo estudo não incluem as depressões esperadas, aquelas causadas por perdas importantes como o luto e a separação, por exemplo.
Foram estudados 523 universitários do curso de Arquitetura da USP (FAU), da Medicina da Unifesp e de Economia das Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU).
"Era de se esperar que entre jovens a prevalência de depressão fosse menor", diz Jair Mari, professor titular do Departamento de Psiquiatria da Unifesp. Uma pesquisa de 1991, coordenada pela Unifesp e pela Universidade Federal da Bahia e realizada em três capitais, mostrou que cerca de 3% da população tinham sofrido uma depressão grave no último ano.
Segundo vários estudos internacionais, 6% da população apresentam pelo menos um episódio depressivo maior na vida.
A crença dominante, pelo menos até agora, era a de que a depressão atingia apenas as pessoas idosas. "O estudo serve de alerta", diz Mari. "Mostra que jovem também tem depressão e com frequência relativamente alta. Se não cuidada, em alguns casos pode evoluir para o suicídio."
Em outros, pode levar à dependência química, como o uso de drogas e o alcoolismo.
"As pessoas tendem a associar depressão com idade mais avançada, mas não foi isso que encontramos", diz Silveira.
Wagner Gattaz, chefe do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP, diz que só nos últimos anos passou-se a diagnosticar depressão em jovens. "A tendência era diagnosticá-la como transtorno de personalidade depressiva", diz. "Isso tinha implicações no tratamento. Se o diagnóstico é depressão, a pessoa deve ser tratada com antidepressivos e psicoterapia cognitiva."
Até recentemente, nos EUA, acreditava-se que depressão em jovens era apenas uma crise da adolescência ou da juventude. Nos últimos anos, alguns estudos vêm indicando um aumento dos sintomas depressivos em grupos cada vez mais jovens.
Em seu trabalho, Dartiu da Silveira utilizou a escala para depressão do Centro de Estudos Epidemiológicos dos EUA, com algumas adaptações para o Brasil.
Entre os 523 estudantes estudados, um grupo de 50 foi sorteado e entrevistado. Entre os dependentes de drogas, 50 foram sorteados para entrevistas de um grupo maior em tratamento no Proad, programa de acompanhamento ligado à Unifesp.
Os cem sorteados foram submetidos a entrevista psiquiátrica padronizada por modelo internacional. Essas entrevistas, com mais de uma hora de duração cada uma, possibilitaram os resultados qualitativos do pesquisa.



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