São Paulo, domingo, 1 de fevereiro de 1998

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Doença pode levar ao uso de droga



da Reportagem Local

Três em cada quatro usuários de drogas que sofrem de depressão já eram deprimidos antes de se tornar dependentes. A constatação permite supor que o uso da droga foi uma forma de se tentar sair das crises depressivas.
Partindo desse princípio, pode-se dizer que o diagnóstico e o tratamento da doença depressiva poderiam evitar que o jovem começasse a usar droga.
Esta é outra conclusão importante da pesquisa realizada por Dartiu Xavier da Silveira e que faz parte de sua tese de doutoramento.
Até recentemente -diz o psiquiatra-, acreditava-se que o alto índice de depressão em dependentes se devia ao próprio uso da droga. A pesquisa mostrou outro quadro: no grupo de 50 dependentes estudados, 77,3% dos que apresentaram transtorno depressivo ao longo da vida já sofriam de depressão antes de usar drogas.
"Significa que, para muitos, o uso da droga foi um meio encontrado para aliviar a depressão", diz Silveira. "A farmacodependência poderia ser entendida como uma forma de automedicação por parte destes jovens."
Entre os 50 dependentes estudados, 44% tinham sofrido um transtorno depressivo ao longo da vida; e 32% revelaram estar sofrendo da doença depressão no momento da entrevista.
Para Silveira, o diagnóstico da depressão é fundamental no próprio tratamento da dependência. "Uma vez feito o diagnóstico, qualquer tratamento de dependência terá que levar em conta a doença depressiva." Poucas clínicas de tratamento estão atentas à depressão de seus pacientes.
A.C.M, 32, se enquadra entre os dependentes de drogas que sofrem de depressão, embora acredite que não tenha sido ela que o empurrou para a cocaína.
M. diz que começou a usar drogas com 16 anos. "A depressão só apareceu muitos anos depois", relata. "Hoje, assim que passa o efeito da coca, a depressão volta. Acontece com quase todos os meus amigos."
No seu caso, a depressão se manifesta como tristeza, desânimo e desinteresse pelo trabalho, pelo estudo e mesmo pelos amigos. M. está fazendo psicoterapia e sendo medicado com antidepressivos.
A pesquisa de Silveira revelou também que apenas 2% dos dependentes tinham "personalidade anti-social". "Isso derruba o mito de que o drogado é sempre marginal", afirma o psiquiatra. (AB)


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