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Doença pode levar ao uso de droga
da Reportagem Local
Três em cada quatro usuários de
drogas que sofrem de depressão já
eram deprimidos antes de se tornar dependentes. A constatação
permite supor que o uso da droga
foi uma forma de se tentar sair das
crises depressivas.
Partindo desse princípio, pode-se dizer que o diagnóstico e o
tratamento da doença depressiva
poderiam evitar que o jovem começasse a usar droga.
Esta é outra conclusão importante da pesquisa realizada por
Dartiu Xavier da Silveira e que faz
parte de sua tese de doutoramento.
Até recentemente -diz o psiquiatra-, acreditava-se que o alto
índice de depressão em dependentes se devia ao próprio uso da droga. A pesquisa mostrou outro quadro: no grupo de 50 dependentes
estudados, 77,3% dos que apresentaram transtorno depressivo
ao longo da vida já sofriam de depressão antes de usar drogas.
"Significa que, para muitos, o
uso da droga foi um meio encontrado para aliviar a depressão", diz
Silveira. "A farmacodependência
poderia ser entendida como uma
forma de automedicação por parte
destes jovens."
Entre os 50 dependentes estudados, 44% tinham sofrido um
transtorno depressivo ao longo da
vida; e 32% revelaram estar sofrendo da doença depressão no momento da entrevista.
Para Silveira, o diagnóstico da
depressão é fundamental no próprio tratamento da dependência.
"Uma vez feito o diagnóstico,
qualquer tratamento de dependência terá que levar em conta a
doença depressiva." Poucas clínicas de tratamento estão atentas à
depressão de seus pacientes.
A.C.M, 32, se enquadra entre os
dependentes de drogas que sofrem
de depressão, embora acredite que
não tenha sido ela que o empurrou
para a cocaína.
M. diz que começou a usar drogas com 16 anos. "A depressão só
apareceu muitos anos depois", relata. "Hoje, assim que passa o efeito da coca, a depressão volta.
Acontece com quase todos os
meus amigos."
No seu caso, a depressão se manifesta como tristeza, desânimo e
desinteresse pelo trabalho, pelo estudo e mesmo pelos amigos. M. está fazendo psicoterapia e sendo
medicado com antidepressivos.
A pesquisa de Silveira revelou
também que apenas 2% dos dependentes tinham "personalidade
anti-social". "Isso derruba o mito
de que o drogado é sempre marginal", afirma o psiquiatra.
(AB)
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