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CPI DOS MEDICAMENTOS
Em depoimento, Everardo Maciel disse que é "indispensável" a quebra do sigilo bancário
Receita defende devassa em laboratórios
VALÉRIA DE OLIVEIRA
free-lance para Folha
ABNOR GONDIM
da Sucursal de Brasília
O secretário da Receita Federal,
Everardo Maciel, defendeu ontem na CPI dos Medicamentos a
quebra do sigilo bancário de laboratórios para que seja feita uma
investigação mais profunda sobre
abuso de preços dos remédios.
"Se é para uma ação de fiscalização (nas empresas), não considero importante, considero indispensável", disse Maciel, ao responder uma pergunta do deputado Geraldo Magela (PT-DF) sobre a necessidade da devassa para
investigar 21 laboratórios acusados de formar cartel contra os
medicamentos genéricos.
Maciel defendeu também incentivos fiscais para os genéricos
e informou aos deputados da CPI
que o setor de medicamentos tem
uma margem de lucro maior que
o de cigarros e o de cervejas.
As empresas do setor de medicamentos, disse, têm um lucro de
45%, enquanto o de cervejas lucra
33% e o de cigarros, 23,5%.
Hoje, a CPI vota dois requerimentos sobre a quebra de sigilo.
Um deles, de autoria de Fernando
Zuppo (PDT-SP), prevê a devassa
no sigilo telefônico além do bancário e não estabelece parâmetros
para a quebra de sigilo bancário.
Outro pedido, do relator Ney
Lopes (PFL-RN), enumera quesitos a serem respondidos pelo
Banco Central e não inclui devassa telefônica. "Desafio o relator a
trazer, à comissão, argumentos
melhores (que os de Maciel) e tentar evitar a quebra de sigilo bancário", disse Magela.
Lopes reafirmou que é a favor
da medida, "como instrumento
para complementar a investigação fiscal, mas não se pode quebrar sigilo à margem da lei". Acusou os deputados da oposição de
se julgar "deuses" e defendeu a
demarcação de "limites", ou seja,
dos quesitos que o seu requerimento prevê.
O depoimento de Everardo Maciel frustrou alguns deputados,
que esperavam conseguir, com as
informações da Receita, provar o
superfaturamento nos preços das
importações de matéria-prima
para os remédios, praticado pelos
laboratórios e, assim, explicar o
abuso nos preços dos remédios.
Maciel disse que o superfaturamento existe no setor, mas que
"não constitui ilícito ou crime do
ponto de vista fiscal", uma vez
que, mesmo que a empresa pague
caro por uma matéria-prima importada, se ela pagar todos os impostos devidos, do ponto de vista
fiscal não há problema.
A expectativa dos parlamentares era que as empresas pudessem
ser punidas por comprar insumos
com diferenças de preços de até
5.200%. Segundo Maciel, quando
o superfaturamento é detectado
- por confissão do laboratório
ou resultante de fiscalização da
Receita -, a base de cálculo do
imposto é ampliada ou é aplicada
uma multa. Pago o imposto ou a
multa, a empresa deixa de ter problemas com o Fisco.
Segundo Maciel, de 96 a 99, foram aplicados R$ 180 mil em autos de infração nas indústrias do
setor farmacêutico. Desse total,
46% foram aplicados em 99. Das
38 maiores indústrias farmacêuticas, 10 estão sob fiscalização.
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