São Paulo, quarta-feira, 01 de março de 2000


Envie esta notícia por e-mail para
assinantes do UOL ou da Folha
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

VIOLÊNCIA
Disputa de grupos rivais em morro de Niterói deixa 5 mortos e fecha comércio e posto de saúde na favela
Guerra do tráfico expulsa 200 de casa

FERNANDA PONTES
da Sucursal do Rio

Cinco pessoas morreram, quatro ficaram feridas e cerca de 200 não puderam dormir em suas casas devido à guerra pelo controle do tráfico de drogas travada desde a madrugada de segunda-feira no morro do Estado, em Niterói (14 km do Rio).
O pior momento aconteceu na madrugada de ontem, quando traficantes e policiais se enfrentaram em um tiroteio. Segundo a polícia, supostos traficantes chegaram a explodir três granadas.
O conflito começou quando Alan Oliveira Farias, 17, foi degolado por supostos traficantes na madrugada de segunda-feira. Até então, a violência estava localizada dentro da favela.
Na noite de anteontem, porém, cerca de 20 homens armados, de uma facção criminosa chamada ADA (Amigos dos Amigos), invadiram a favela e trocaram tiros com supostos traficantes da área. O morro do Estado é controlado por uma facção rival chamada Terceiro Comando.
Com o tiroteio, os moradores da favela não puderam sair de casa. Os que chegavam do trabalho eram alertados pela polícia para que não subissem o morro. A maioria teve que dormir em uma praça pública perto do morro.
Na troca de tiros, um transformador de luz foi atingido e deixou o morro às escuras. Um rapaz não identificado morreu antes da chegada da polícia. O corpo foi achado ontem de manhã.
Os estilhaços dos vidros decorrentes do tiroteio e da explosão de granadas acabaram ferindo dois policias militares. Eles foram levados para o hospital Antônio Pedro (Niterói) e liberados.
Dois rapazes, não identificados até a tarde de ontem, foram baleados pela polícia quando trocavam tiros em cima de uma laje. Eles chegaram a ser hospitalizados, mas morreram ainda na noite de anteontem.
Um terceiro garoto também morreu quando tentava fugir. Segundo a polícia, ele estava carregando um fuzil AR-15.
Ontem de manhã, houve nova troca de tiros entre a polícia e três rapazes que estavam escondidos em uma caixa d'água. Dois dos supostos traficantes ficaram feridos no ombro e na perna. O outro, Marcos Leandro Carneiro, 28, foi preso.
Carneiro, segundo a polícia, disse que morava na favela do morro do Adeus, em Ramos (na zona norte do Rio). Esta favela fica a cerca de uma hora de carro do morro do Estado. A polícia tenta descobrir o motivo de os supostos traficantes invadirem uma área tão distante da sua. Uma das hipóteses é vingança por dívida do tráfico.
Depois do confronto, os moradores da favela estavam assustados e não quiseram comentar o assunto. "Aqui vale a lei do silêncio", disse uma diarista de 49 anos. O comércio da favela permaneceu fechado durante todo o dia. "Recebemos ordens dos homens para não abrir", disse um comerciante, sem especificar se estava falando da polícia ou dos traficantes. O posto médico e a escola do morro também ficaram fechados. "Ninguém pode ficar doente quando essas coisas acontecem", disse uma moradora. Ontem, havia cerca de 60 policiais por toda a favela.
O secretário da Segurança Pública, Josias Quintal, disse que os invasores pertencem ao grupo do traficante Ernaldo Pinto Medeiros, o Uê, que está preso.
Para o secretário, "esse é o resultado da pressão da polícia na favela. Os traficantes se sentem fragilizados e procuram outra". Ele disse ainda que "é possível" que os moradores do Rio ainda tenham que passar por isso algumas vezes.


Texto Anterior: Córrego vira rio na periferia
Próximo Texto: Morador da favela diz que foi uma noite de horror
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.