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VIOLÊNCIA
Disputa de grupos rivais em morro de Niterói deixa 5 mortos e fecha comércio e posto de saúde na favela
Guerra do tráfico expulsa 200 de casa
FERNANDA PONTES
da Sucursal do Rio
Cinco pessoas morreram, quatro ficaram feridas e cerca de 200
não puderam dormir em suas casas devido à guerra pelo controle
do tráfico de drogas travada desde a madrugada de segunda-feira
no morro do Estado, em Niterói
(14 km do Rio).
O pior momento aconteceu na
madrugada de ontem, quando
traficantes e policiais se enfrentaram em um tiroteio. Segundo a
polícia, supostos traficantes chegaram a explodir três granadas.
O conflito começou quando
Alan Oliveira Farias, 17, foi degolado por supostos traficantes na
madrugada de segunda-feira. Até
então, a violência estava localizada dentro da favela.
Na noite de anteontem, porém,
cerca de 20 homens armados, de
uma facção criminosa chamada
ADA (Amigos dos Amigos), invadiram a favela e trocaram tiros
com supostos traficantes da área.
O morro do Estado é controlado
por uma facção rival chamada
Terceiro Comando.
Com o tiroteio, os moradores
da favela não puderam sair de casa. Os que chegavam do trabalho
eram alertados pela polícia para
que não subissem o morro. A
maioria teve que dormir em uma
praça pública perto do morro.
Na troca de tiros, um transformador de luz foi atingido e deixou
o morro às escuras. Um rapaz não
identificado morreu antes da chegada da polícia. O corpo foi achado ontem de manhã.
Os estilhaços dos vidros decorrentes do tiroteio e da explosão de
granadas acabaram ferindo dois
policias militares. Eles foram levados para o hospital Antônio Pedro (Niterói) e liberados.
Dois rapazes, não identificados
até a tarde de ontem, foram baleados pela polícia quando trocavam
tiros em cima de uma laje. Eles
chegaram a ser hospitalizados,
mas morreram ainda na noite de
anteontem.
Um terceiro garoto também
morreu quando tentava fugir. Segundo a polícia, ele estava carregando um fuzil AR-15.
Ontem de manhã, houve nova
troca de tiros entre a polícia e três
rapazes que estavam escondidos
em uma caixa d'água. Dois dos
supostos traficantes ficaram feridos no ombro e na perna. O outro, Marcos Leandro Carneiro,
28, foi preso.
Carneiro, segundo a polícia,
disse que morava na favela do
morro do Adeus, em Ramos (na
zona norte do Rio). Esta favela fica a cerca de uma hora de carro
do morro do Estado. A polícia
tenta descobrir o motivo de os
supostos traficantes invadirem
uma área tão distante da sua.
Uma das hipóteses é vingança
por dívida do tráfico.
Depois do confronto, os moradores da favela estavam assustados e não quiseram comentar o
assunto. "Aqui vale a lei do silêncio", disse uma diarista de 49
anos. O comércio da favela permaneceu fechado durante todo o
dia. "Recebemos ordens dos homens para não abrir", disse um
comerciante, sem especificar se
estava falando da polícia ou dos
traficantes. O posto médico e a
escola do morro também ficaram
fechados. "Ninguém pode ficar
doente quando essas coisas acontecem", disse uma moradora.
Ontem, havia cerca de 60 policiais por toda a favela.
O secretário da Segurança Pública, Josias Quintal, disse que os
invasores pertencem ao grupo do
traficante Ernaldo Pinto Medeiros, o Uê, que está preso.
Para o secretário, "esse é o resultado da pressão da polícia na
favela. Os traficantes se sentem
fragilizados e procuram outra".
Ele disse ainda que "é possível"
que os moradores do Rio ainda
tenham que passar por isso algumas vezes.
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