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INVESTIGAÇÃO
Revelação de apoio de cineasta a traficante abriu novo confronto entre assessores do governador
Garotinho abafa crise na segurança
FERNANDA DA ESCÓSSIA
da Sucursal do Rio
Um ano e dois meses depois de
assumir o governo do Rio, Anthony Garotinho (PDT) abafou
ontem a pior crise na segurança
pública em seu governo, "enquadrando" publicamente seu coordenador de Segurança, o antropólogo e cientista político Luiz
Eduardo Soares.
Garotinho apoiou o principal
desafeto de Soares, o secretário de
Segurança, Josias Quintal, nas críticas ao cineasta João Moreira Salles, que deu dinheiro ao traficante Márcio Amaro de Oliveira, o
Marcinho VP, para que escrevesse um livro e deixasse o tráfico.
"Ele (Salles) ajudou a um foragido. Na minha opinião, isso é crime. É justo que alguém dê a um
foragido, matador, estuprador,
R$ 1.200 para levar boa vida em
Buenos Aires?", ironizou o governador depois de uma reunião
com seus dois assessores no Palácio Laranjeiras (zona sul).
Mais de uma vez Garotinho ironizou a fuga de Marcinho VP para
a Argentina: "Lugar de traficante
é na cadeia, não dançando tango
em Buenos Aires".
VP é um dos traficantes mais
procurados pela polícia fluminense. É apontado como integrante do Comando Vermelho.
Foi dirigente do tráfico de drogas
no morro Dona Marta, em Botafogo (zona sul do Rio).
Foi preso em 1996. Oito meses
após a detenção, fugiu. No ano seguinte, foi condenado a passar 25
anos na cadeia.
Apreço de Garotinho
Ideólogo da política de segurança e co-autor de livro escrito
por Garotinho sobre violência no
Estado do Rio, Soares havia
apoiado o autor do documentário
"Notícias de Uma Guerra Particular". Saiu do episódio enfraquecido, mas fica no cargo.
Assessores avaliam, porém, que
sua simples permanência já é um
sinal do apreço que o governador
tem por ele. Qualquer outro teria
saído. Soares e Quintal nem se falam, apenas se cumprimentam
formalmente.
Quintal chegou ao Palácio Laranjeiras sabendo ter o respaldo
do governador. Anteontem, suas
críticas ao que chamou de "atitude indigna" de Soares (no apoio a
Salles) tinham sido tacitamente
autorizadas por Garotinho.
Na reunião, o governador perguntou a Soares e a Quintal se era
possível conciliar as divergências
ou se ele, Garotinho, teria de decidir. Os dois assessores se disseram dispostos a uma conciliação
em nome da manutenção da política de segurança pública.
Trocaram críticas de parte a
parte e relembraram os três últimos conflitos: o topless (Soares a
favor, Quintal contra), a ação da
Polícia Militar na investigação sobre a participação de angolanos
no tráfico (Soares contra, Quintal
a favor), e os batalhões comunitários da PM (Soares a favor, Quintal contra).
Para Quintal, Soares fala demais
sobre projetos que ainda estão em
estudo. O coordenador, na defensiva, reclamou das críticas abertas
que vem sofrendo do secretário.
Na entrevista, Garotinho ratificou a posição de Quintal e quis reduzir o confronto a uma diferença de opinião. "Não há divergência essencial. Ambos concordam
que ele (Marcinho) é um bandido
e tem de ser preso. Interpretaram
de forma diferente a atitude do
João Salles, mas isso não é motivo
para romper um relacionamento
que vem dando tantos frutos."
Soares disse que mantinha seu
ponto de vista pessoal. O secretário de Segurança, ao responder
uma pergunta sobre um tiroteio
perto de sua casa, acabou resumindo sua vitória de ontem depois das derrotas no caso do topless e dos angolanos: "O secretário é vulnerável, mas está forte e
bem disposto."
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