São Paulo, quarta-feira, 01 de março de 2000


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INVESTIGAÇÃO
Revelação de apoio de cineasta a traficante abriu novo confronto entre assessores do governador
Garotinho abafa crise na segurança

FERNANDA DA ESCÓSSIA
da Sucursal do Rio

Um ano e dois meses depois de assumir o governo do Rio, Anthony Garotinho (PDT) abafou ontem a pior crise na segurança pública em seu governo, "enquadrando" publicamente seu coordenador de Segurança, o antropólogo e cientista político Luiz Eduardo Soares.
Garotinho apoiou o principal desafeto de Soares, o secretário de Segurança, Josias Quintal, nas críticas ao cineasta João Moreira Salles, que deu dinheiro ao traficante Márcio Amaro de Oliveira, o Marcinho VP, para que escrevesse um livro e deixasse o tráfico.
"Ele (Salles) ajudou a um foragido. Na minha opinião, isso é crime. É justo que alguém dê a um foragido, matador, estuprador, R$ 1.200 para levar boa vida em Buenos Aires?", ironizou o governador depois de uma reunião com seus dois assessores no Palácio Laranjeiras (zona sul).
Mais de uma vez Garotinho ironizou a fuga de Marcinho VP para a Argentina: "Lugar de traficante é na cadeia, não dançando tango em Buenos Aires".
VP é um dos traficantes mais procurados pela polícia fluminense. É apontado como integrante do Comando Vermelho. Foi dirigente do tráfico de drogas no morro Dona Marta, em Botafogo (zona sul do Rio).
Foi preso em 1996. Oito meses após a detenção, fugiu. No ano seguinte, foi condenado a passar 25 anos na cadeia.

Apreço de Garotinho
Ideólogo da política de segurança e co-autor de livro escrito por Garotinho sobre violência no Estado do Rio, Soares havia apoiado o autor do documentário "Notícias de Uma Guerra Particular". Saiu do episódio enfraquecido, mas fica no cargo.
Assessores avaliam, porém, que sua simples permanência já é um sinal do apreço que o governador tem por ele. Qualquer outro teria saído. Soares e Quintal nem se falam, apenas se cumprimentam formalmente.
Quintal chegou ao Palácio Laranjeiras sabendo ter o respaldo do governador. Anteontem, suas críticas ao que chamou de "atitude indigna" de Soares (no apoio a Salles) tinham sido tacitamente autorizadas por Garotinho.
Na reunião, o governador perguntou a Soares e a Quintal se era possível conciliar as divergências ou se ele, Garotinho, teria de decidir. Os dois assessores se disseram dispostos a uma conciliação em nome da manutenção da política de segurança pública.
Trocaram críticas de parte a parte e relembraram os três últimos conflitos: o topless (Soares a favor, Quintal contra), a ação da Polícia Militar na investigação sobre a participação de angolanos no tráfico (Soares contra, Quintal a favor), e os batalhões comunitários da PM (Soares a favor, Quintal contra).
Para Quintal, Soares fala demais sobre projetos que ainda estão em estudo. O coordenador, na defensiva, reclamou das críticas abertas que vem sofrendo do secretário.
Na entrevista, Garotinho ratificou a posição de Quintal e quis reduzir o confronto a uma diferença de opinião. "Não há divergência essencial. Ambos concordam que ele (Marcinho) é um bandido e tem de ser preso. Interpretaram de forma diferente a atitude do João Salles, mas isso não é motivo para romper um relacionamento que vem dando tantos frutos."
Soares disse que mantinha seu ponto de vista pessoal. O secretário de Segurança, ao responder uma pergunta sobre um tiroteio perto de sua casa, acabou resumindo sua vitória de ontem depois das derrotas no caso do topless e dos angolanos: "O secretário é vulnerável, mas está forte e bem disposto."



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