São Paulo, quarta-feira, 01 de maio de 2002

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TRÂNSITO

Obras nas marginais vão reduzir enchentes, acabar com mau cheiro do Pinheiros e aumentar coleta e tratamento de esgoto

"Benefícios compensarão transtornos"

DA REPORTAGEM LOCAL

"O paulistano que queira um ambiente com condições de salubridade e que possa ser usufruído vai ter de ter um pouco de paciência. Essa é a contribuição que ele vai dar, e os ganhos serão grandes.
Quem está parado na marginal tem de pensar que, a 20 km dali, existe uma comunidade carente que passará a ter o esgoto recolhido. É isso [coletar o esgoto" que se cobra do agente público, mas, quando ele chega, a população tem de fazer a sua parte."
É apelando para argumentos como esse, defendido por Silvio Leifert, da Sabesp, que o governo quer convencer os motoristas a aceitar o tempo perdido em eventuais congestionamentos causados pelo aprofundamento e despoluição do rio Tietê. De acordo com a companhia e o DAEE, os benefícios das obras para a qualidade de vida de quem mora ou trafega pela cidade de São Paulo compensarão os transtornos.

Saneamento
As metas do projeto de despoluição, por exemplo, prevêem o fim do mau cheiro do rio Pinheiros (um dos formadores do rio Tietê) -que passará a ter até 2 mg de oxigênio dissolvido por litro de água e algumas espécies vivas- e a redução da quantidade total de esgoto lançado no Tietê de 397 para 270 toneladas por dia.
A instalação de 141 km de coletores e interceptores e de 1.180 km de rede na região metropolitana (cerca de 800 km desse total na capital) deverá aumentar a cobertura de coleta de esgoto doméstico de 80% para 90% dos domicílios paulistanos. Cerca de 70% do total de efluentes produzidos passarão a ser tratados (hoje o percentual gira em torno de 60%).
Por meio do interceptor que será instalado na marginal Pinheiros -e que causará impacto no trânsito local-, efluentes recolhidos na zona sul deixarão de ser jogados in natura nas represas Billings e Guarapiranga e no próprio rio Pinheiros e passarão a ser levados para a estação de tratamento de Barueri (Grande SP), onde serão devidamente tratados.
Quase meio milhão de pessoas poderão ter suas casas ligadas pela primeira vez à rede coletora de esgoto, que chegará a pelo menos 20 bairros no extremo sul da capital paulista, onde estão os piores índices de atendimento sanitário, de acordo com o censo do IBGE.
Por outro lado, a redução do despejo de esgoto doméstico nas represas representará uma melhoria na qualidade da água para abastecimento público de pelo menos 4,5 milhões de pessoas.
"É uma grande obra, e a expectativa é que leve à redução da poluição na bacia da Billings, hoje subaproveitada para o fornecimento de água por causa da contaminação", diz Marussia Whately, do Instituto Socioambiental e co-autora de um diagnóstico ambiental da área da represa.
Além da coleta de esgoto doméstico, a implantação do interceptor na marginal Pinheiros tornará possível ainda o recolhimento dos efluentes de 290 indústrias na bacia do rio Pinheiros.
Metade da verba para a despoluição (cerca de R$ 473 milhões) vem de financiamento do BID.

Fim das enchentes
O rebaixamento da calha, por sua vez, promete acabar com os transbordamentos do rio Tietê na marginal e dos seus afluentes num raio de 4 km a partir do local onde eles deságuam. Isso porque o Tietê é o grande "ralo" da cidade de São Paulo, para onde correm em última instância todos os rios, riachos e córregos da capital.
Os efeitos do aprofundamento, que aumentará em cerca de 60% a capacidade de vazão do rio, já deverão ser sentidos no próximo verão, afirma o superintendente do DAEE, Ricardo Daruiz Borsari.
"É uma obra esperada pela cidade há muitos anos, promessa que se tornará realidade. E quem lucra não é só que mora em São Paulo; quase todo caminhão que passa pela cidade indo para outros Estados vai também pela marginal."
No verão de 2000/2001, a marginal Tietê foi a campeã em pontos de alagamento, com 186 dos 511 registrados pela CET.
(MARIANA VIVEIROS)


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