São Paulo, quarta-feira, 01 de maio de 2002

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Resultados de pesquisas podem ser revistos

DA SUCURSAL DO RIO

As mudanças nos critérios de apresentação e cálculo de estatísticas da violência no Rio podem levar estudiosos a reverem resultados de pesquisas. Essa é a opinião de um dos maiores especialistas no assunto, o sociólogo Ignácio Cano, da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro).
A polêmica sobre os indicadores foi levantada pelos novos dirigentes da Secretaria de Segurança Pública, empossados em abril pela governadora Benedita da Silva (PT). Eles acusaram o governo de Anthony Garotinho (PSB), antecessor de Benedita, de manipular os números da violência para produzir resultados favoráveis.
"Quem estiver usando dados do governo vai ter que rever. No caso dos roubos a pedestres, isso estava claramente distorcido, porque não era divulgado o conjunto de todos os roubos para efeito de comparação." No final de 2000, o Estado deixou de incluir roubos de celulares nas estatísticas de assaltos a pedestres no "Diário Oficial". "É difícil provar se houve má-fé, mas esse exemplo serve para mostrar como uma divulgação parcial pode ser enganosa. Pelos números, parecia haver uma trajetória descendente, quando, na verdade, ela era ascendente, somando-se o furto de celulares."
Para o pesquisador Túlio Khan, do Ilanud (Instituto Latino-Americano das Nações Unidas para a Prevenção do Delito), não haveria problema em separar nas estatísticas de roubos a pedestres os casos de roubo de celulares, desde que os dados fossem apresentados em conjunto. "É legítimo separar um tipo de crime para facilitar o estudo de um novo fenômeno, mas é preciso deixar isso claro para permitir a comparação com os indicadores anteriores", disse.
A coordenadora de Segurança do Estado, Jacqueline Muniz, anunciou que o governo está ouvindo pesquisadores para mudar a maneira de apresentar os dados no "Diário Oficial". Segundo ela, o Estado usará dados da Polícia Civil no caso de furtos de veículos, outro indicador em que a nova secretaria apontou subnotificação. Para ela, o registro da polícia indica sempre um número maior que o do Proderj (Centro de Processamento de Dados do Estado do Rio de Janeiro), usado anteriormente.
O registro de outros casos de mortes violentas, como em confronto com a polícia e encontro de cadáveres, também será apresentado no "Diário Oficial". Esses indicadores não entravam nas estatísticas de homicídios do Estado.
Garotinho nega as acusações de manipulação, argumentando que os roubos de celulares não eram contabilizados na estatística geral porque muitas pessoas que davam queixa tinham, na verdade, perdido o aparelho. No caso de furtos de veículos, ele disse que muitos dos registros de ocorrência do crime eram, na verdade, casos em que o carro havia sido rebocado sem o dono saber. Sobre os homicídios, Garotinho afirma que a decisão de não incluir mortos em confrontos com a polícia e encontro de cadáveres já era adotada por outros governos.



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