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EDUCAÇÃO
Medo de mudanças na Previdência causa corrida de professores pela aposentadoria; nas federais, 13% podem se retirar do trabalho
Reforma pode desfalcar universidades
ARMANDO PEREIRA FILHO
DA REPORTAGEM LOCAL
JULIANNA SOFIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O medo da reforma previdenciária ameaça desfalcar ainda
mais as universidades públicas.
Dados da Andifes (Associação
Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior) mostram que, neste ano, até
13% dos professores dessas instituições podem se aposentar.
Mudanças que o governo pretende fazer na Previdência, como
aumento do tempo de contribuição e cobrança de funcionários
públicos inativos, são alguns fatores que assustam a categoria.
Levantamento feito pela Folha
revela que, em universidades estaduais e federais, essa corrida já
começou.
Na Universidade Estadual de
Campinas (Unicamp), por exemplo, a média mensal de aposentadorias concedidas cresceu 117%
em 2003 em relação ao ano passado.
Na Universidade de São Paulo
(USP), quase triplicou o número
de pedidos de contagem de tempo. Em dezembro do ano passado, foram feitos 42 pedidos. Em
fevereiro, eram 118.
Os pedidos de contagem de
tempo não se transformam necessariamente em aposentadorias, mas revelam maior interesse
dos docentes em verificar sua situação e, eventualmente, retirar-se do trabalho.
Federais
Segundo a Andifes, há 45.476
professores nas universidades federais. Desses, 5.954 estão em
condições de se aposentar. De janeiro a 15 de março, de acordo
com a entidade, 307 professores
efetivamente se retiraram.
A saída dos professores piora a
falta de pessoal nas federais. Segundo a Andifes, há um déficit de
8.000 profissionais contratados.
No lugar deles, estão professores temporários, que podem ficar
apenas dois anos no cargo. Isso
atrapalharia o desempenho deles
e a evolução do projeto pedagógico, segundo a Andifes.
A entidade diz que as universidades não têm autonomia para
fazer concursos e contratar professores, e o MEC (Ministério da
Educação) liberaria menos vagas
do que o número de professores
que saem.
Segundo a nova presidente da
Andifes e reitora da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul
(UFRGS), Wrana Panizzi, em
2002 a UFRGS teve 84 aposentados, mas só recebeu autorização
para contratar 36 professores.
A Sesu (Secretaria de Educação
Superior) do MEC, que cuida das
federais, não havia se pronunciado sobre o assunto até a conclusão desta edição.
O secretário de Recursos Humanos do Planejamento, Luiz
Fernando Silva, afirma que a corrida às aposentadorias por causa
da reforma tem preocupado o governo. Na avaliação dele, as universidades federais são o setor
mais atingido.
Silva comentou que a corrida às
aposentadorias nas universidades
faz com que o governo perca os
melhores quadros. "O professor
com 48, 53 anos está no auge de
sua produção intelectual."
O secretário disse ainda que,
além da perda de bons profissionais, o aumento das aposentadorias eleva o déficit previdenciário
do setor público e aumenta a necessidade de concursos.
Wrana Panizzi teve encontro
anteontem com o ministro Ricardo Berzoini (Previdência). Ela
disse que o governo incluiu no
texto da reforma um artigo para
deixar claro que os direitos adquiridos serão respeitados. A informação foi confirmada pela assessoria de imprensa de Berzoini.
"O ministro nos pediu para
tranquilizar os servidores nas universidades, porque os direitos serão preservados", declarou Panizzi. Participaram da reunião com
Berzoini reitores de todo o país
para falar sobre reforma.
A reunião estava marcada para
as 10h30, mas o ministro só apareceu no final da tarde. No período
da manhã, depois de esperar por
mais de duas horas, os reitores
acabaram desistindo do encontro
e foram embora. "Pegou muito
mal", disse o ex-presidente da entidade Paulo Speller.
Análise
A Andifes não se definiu sobre o
projeto de reforma previdenciária. "Vamos pôr nossos técnicos
para estudar isso a partir da próxima semana", afirma Panizzi.
"Não se trata de ser contra ou a favor, mas de a reforma dar ao servidor público o reconhecimento
que ele merece."
Segundo ela, os funcionários
são muitas vezes incorretamente
responsabilizados pelos problemas da Previdência. "Nós executamos uma função estratégica para o desenvolvimento do país."
Panizzi diz que os professores
estão longe do teto de R$ 17.170
proposto para aposentadorias
dos atuais funcionários públicos,
mas não soube informar qual a
média dos valores recebidos pela
categoria. A Sesu também não informou esse dado.
Reitor aposentado
Paulo Jorge Sarkis, reitor da
Universidade Federal de Santa
Maria (UFSM), que teve crescimento de 71,4% na média de aposentadorias mensais, foi um dos
que se aposentaram.
"Não é preciso ter pressa, mas
como eu estou exercendo um
mandato, poderia haver perdas.
Então resolvi me aposentar."
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