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Utilização de poluente para adubação preocupa a Cetesb
Estudo busca saber se resíduo da produção de álcool polui mais que fertilizante
Área agrícola ocupada pela cana-de-açúcar no Estado de São Paulo cresceu 54% desde 2002 e expansão ainda continua em SP
DA REPORTAGEM LOCAL
Os efeitos nocivos provocados no ambiente pelo uso da vinhaça como fertilizante de canaviais preocupa a Cetesb, mas não há um consenso sobre que
tipo de adubação é menos
agressiva: a orgânica, com o resíduo da cana, ou o uso dos adubos comuns, os industriais.
Diante da dúvida sobre o melhor método, a indústria, após
acordo com a agência ambiental, começou no ano passado a
comparar como o ambiente
reage aos dois tipos de adubo. O
estudo termina em 2010.
A vinhaça é usada para irrigar
e fertilizar as plantações, mas,
quando chega a rios e lagos,
derruba os índices de oxigênio
na água. Pode ainda afetar depósitos subterrâneos de água.
Além dos impactos e danos já
provocados pela cultura, há expectativa de que a situação possa de agravar no futuro, devido
à expansão da área de cana no
Estado, que foi de 54% desde
2002, segundo o IEA (Instituto
de Economia Agrícola). "São
Paulo passa hoje por uma fase
agrícola só comparável à do café, que devastou as matas", diz
Carlos Bocuhy, do Conselho
Estadual do Meio Ambiente.
Um estudo realizado no rio
Ipojuca, em Pernambuco -outro grande produtor de cana-
provou que a vinhaça pode levar ao acúmulo de potássio no
solo em níveis tóxicos. O volume de potássio no solo subiu de
2,2 g/ kg para 5,1 g/kg.
Houve um aumento de até
3C da temperatura da água do
rio nos pontos abaixo de locais
irrigados com a vinhaça. Além
disso, a quantidade de oxigênio
dissolvido, vital para a vida
aquática, caiu pela metade.
Um dos problemas é que, de
acordo com a distância entre a
plantação e a usina e a declividade do terreno, o custo para
usar o resíduo na lavoura fica
inviável. É que as usinas usam a
gravidade para espalhar a vinhaça. Se o terreno for plano, é
necessário bombear ou transportar a vinhaça em caminhões, encarecendo o processo.
Para evitar abusos, a Cetesb
criou em 2006 um protocolo
que determina os limites máximos e seguros para a aplicação
do resíduo no solo.
Hoje, a agência considera que
a situação está sob controle,
mas, em sigilo, pessoas ligadas à
área dizem que não há como garantir que usinas não despejem
vinhaça em rios longe dos olhares da fiscalização.
Otávio Okano, da área de
controle ambiental da Cetesb,
afirma que somente com o fim
do estudo, em dois anos, é que
será possível indicar que tipo
de adubo é mais adequado. "Pode ser que o fertilizante inorgânico contamine mais", diz.
Para a pesquisadora Regina
Monteiro, do Laboratório de
Ecologia Aplicada do Cena
(Centro de Energia Nuclear na
Agricultura)/USP, é necessário
buscar novos usos para a vinhaça, de alto valor comercial.
Como exemplo, a pesquisadora cita o uso da vinhaça como
meio de cultura para cogumelos comestíveis. "O fungo produz uma substância [exopolissacarídio] que possui diversas
aplicações nas indústrias de alimentos, farmacêutica e cosmética. E transformam a vinhaça
em um líquido claro e inodoro,
podendo mais bem aproveitada
na irrigação", diz.
(JOSÉ ERNESTO CREDENDIO e AFRA BALAZINA)
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