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SAÚDE
Diretor-presidente do laboratório admite demora na comunicação e diz que vai indenizar vítimas comprovadas
Pílulas desviadas são poucas, diz Schering
CARLA CONTE
LUCIA MARTINS
da Reportagem Local
O laboratório Schering do Brasil
afirmou ontem que pretende procurar as possíveis vítimas do Microvlar e pagar indenização para
as mulheres que ficaram grávidas
enquanto tomavam a pílula.
"Vamos tomar a iniciativa e entrar em contato com elas ou com o
representante delas para discutir
uma forma de como podemos ajudar", afirma Rainer Bitzer, diretor-presidente da Schering.
Na primeira entrevista do diretor-presidente da empresa desde o
início do caso das pílulas de farinha, concedida ontem à Folha,
Bitzer manteve a versão que já vinha sido divulgada pela empresa.
O diretor-presidente reafirmou
que os lotes falsos que chegaram
às farmácias foram roubados da
empresa após teste de uma máquina de embalagem mais rápida, feito com pílulas de placebo (substância inócua).
Bitzer afirma que não sabe como
o roubo ocorreu, mas que os testes
foram feitos seguindo todas as
normas de segurança e com a participação de, pelo menos, dez pessoas -três deles técnicos alemães
enviados pela matriz.
Os testes, realizados entre janeiro e abril, produziram cerca de 650
mil cartelas de Microvlar de placebo, que eram, segundo ele, guardadas separadamente e depois recolhidas por caminhões de lixo
para serem incinerados.
A única hipótese levantada pela
direção da empresa é a de que uma
pessoa -provavelmente um funcionário- tenha agido de má-fé e
sabotado a empresa.
Bitzer diz que não está preocupado com os prejuízos financeiros
causados pelo escândalo -que ele
não divulga-, mas só com "as
consumidoras do Microvlar".
A empresa diz que conseguiu
uma liminar anteontem para voltar a funcionar, mas optou por
manter as atividades suspensas até
o fim da vistoria de técnicos da Vigilância Sanitária, que deve acabar
na próxima quinta-feira.
Bitzer afirma que as pílulas de
teste foram encontradas em área
geográfica reduzida e em pequena
quantidade. A empresa está recolhendo todas as cartelas que ainda
estão no mercado para saber
quantas pílulas de placebo realmente foram distribuídas.
Folha - Como o senhor explica o
roubo do material?
Rainer Bitzer - Não sabemos.
Vamos deixar essa parte da investigação para a polícia. Nossos controles internos estão em ordem.
Folha - Existe algum funcionário
suspeito?
Bitzer - Tomamos todos os cuidados internos para que tudo fosse
destruído. Fechar essas unidades
em lugar separado para não entrar
em contato com outros produtos,
contratar uma transportadora para levar para ser incinerado. Eles
eram colocados em caixas com a
inscrição "placebo". E essas cartelas eram colocadas em sacos
plásticos lacrados e levados pelos
caminhões da Vega Sopave para a
Ciba, que iria queimar. Existia um
laudo de quantos quilos saíam daqui e quantos chegavam lá. E tudo
está certo.
Folha - Quantas pessoas acompanhavam esse processo?
Bitzer - Da Alemanha, foram
três. Da nossa empresa, umas sete
pessoas.
Folha - O senhor acredita que o
roubo tenha acontecido dentro da
empresa, por algum funcionário?
Bitzer - Existe essa possibilidade.
Folha - Como dá para saber onde
houve o suposto roubo?
Bitzer - Temos que detectar o
problema pela diferença de peso,
do que saiu para o que chegou lá.
Esse peso tem apenas pequenas diferenças. As notas batem.
Folha - Pode ter sido furtado lá
(no incinerador)?
Bitzer - Não sabemos. Por isso,
chamamos a polícia. Acreditamos
que uma pessoa tenha agido de
má-fé e pode até ter sido um funcionário nosso.
Folha - O senhor acredita que há
pílulas de farinha espalhados pelo
Brasil?
Bitzer - Acredito que há poucas
cartelas do lote do teste no mercado e concentradas em uma pequena região, em São Paulo.
Folha - O primeiro indício de que
havia algo errado foi a carta anônima. Daí até a comunicação à Vigilância passou quase um mês. Por
que demoraram?
Bitzer - Quando recebemos a
carta, fomos a duas farmácias e
elas tinham pílulas originais. Era
muito difícil fazer uma ação em cima de uma carta anônima.
Folha - Qual é o prejuízo até agora da Schering?
Bitzer - Não estamos tão preocupados com o prejuízo da companhia do ponto de vista financeiro. Nos preocupamos só com as
consumidoras do Microvlar, porque elas usam a pílula por muitos
anos e são muitas.
Folha - Vocês pretendem indenizar?
Bitzer - Vamos entrar em contato com as vítimas e ver caso a caso. Vamos assumir a responsabilidade.
Folha - Quem tiver a cartela pode
reclamar indenização?
Bitzer - A cartela adulterada é a
grande prova de que a mulher foi
vítima. Outros indícios também
serão levados em conta.
Folha - Seria possível realizar um
teste com pílulas coloridas?
Bitzer - Com essa máquina, se o
teste é feito com outro material, de
outra cor, não dá para testar a máquina de verdade. O equipamento
usa células óticas que registram
cor e tamanho, por exemplo.
Folha - Então tem que usar placebo branco?
Bitzer - Para saber se funciona
com a pílula de verdade, tem que
testar com a mesma cor, material
mais próximo do original. Se usássemos outra cor, o teste não teria
validade. Esses testes já foram feitos no mundo todo. Nunca houve
problema
Folha - Era possível colocar em
uma embalagem totalmente diferente, para alertar que aquilo era
para teste?
Bitzer - Esse material de teste
não tem data de validade, de fabricação, número de lote correto. Isso já era suficiente para mostrar
que não era lote oficial.
A empresa pensa em parar de
produzir o Microvlar?
Bitzer - Quando pudermos recolocar a pílula no mercado, temos certeza que o médico vai prescrever normalmente e as mulheres
vão tomar. Estudamos mudar totalmente a embalagem atual.
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