São Paulo, quarta, 1 de julho de 1998

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Secretaria interdita UTI neonatal de Guarulhos

Lalo de Almeida/Folha Imagem
Um recém-nascido deixa a Maternidade Municipal de Guarulhos para ser transferido para outro hospital


FABIO SCHIVARTCHE
da Reportagem Local

A UTI (Unidade de Terapia Intensiva) neonatal do Hospital e Maternidade Municipal de Guarulhos (na Grande São Paulo) foi interditada ontem à noite por determinação do secretário estadual da Saúde, José da Silva Guedes, depois de vistoria da Vigilância Sanitária que constatou condições inadequadas para bebês de alto risco.
Cinco bebês morreram na UTI neonatal desse estabelecimento no último final de semana.
A medida é mais branda do que a anunciada anteontem pelo ministro da Saúde, José Serra, que havia decidido fechar totalmente o hospital. Segundo Guedes, apenas a UTI neonatal ficará desativada para que "a população não seja prejudicada".
Outra medida anunciada é a criação de uma comissão tríplice (União, Estado e município) para analisar os problemas do hospital e possíveis soluções, que devem ser implementadas em um mês.
Guedes sabe que a interdição da Santa Casa aumentaria o déficit de vagas nos principais hospitais da cidade e agravaria a falta de medicamentos e de médicos especializados na região.
Ontem, uma equipe de técnicos do Conselho Regional de Medicina (CRM) e do Conselho Regional de Enfermagem (Coren) vistoriou o Hospital Municipal de Urgências -também municipal, como a Santa Casa- e constatou diversas irregularidades.
"Há um déficit de 30% no número de médicos e de 50% na área de enfermagem. Também vimos azulejos caindo, infiltrações nas paredes e pacientes em macas pelos corredores", diz Henrique Carlos Gonçalves, secretário do CRM, que participou da vistoria.
Segundo ele, a demanda nesse hospital já é "duas a três vezes maior que a capacidade de atendimento". "Além dos atendimentos emergenciais, havia cerca de 170 pessoas internadas, mas a capacidade de leitos é de no máximo 130 pessoas."
No Hospital Menino Jesus, centro privado que atende conveniados do SUS (Sistema Único de Saúde), membros da Comissão de Saúde da Câmara Municipal de Guarulhos encontraram, em recente vistoria, medicamentos com a data de validade vencida.
Já a Santa Casa, além dos problemas na UTI neonatal, não dispõe de equipamentos de laboratório para fazer testes com bactérias de seus pacientes. "Nem banco de sangue existe na UTI infantil", diz o vereador Édson Alberton (PT), secretário da Comissão de Saúde da Câmara.
A Santa Casa atendia a uma média de 300 pessoas por dia e realizava cerca de 2.000 partos por mês, antes dos problemas das últimas semanas.
Na sexta-feira retrasada, a UTI pediátrica já havia sido fechada por não apresentar condições adequadas de funcionamento.
Guedes disse ontem que a comissão vai avaliar a necessidade de mais recursos ao hospital e informou que, no início de julho, será feita a segunda transferência ao município da verba do SUS -cerca de R$ 3 milhões.
Serra precipitado
O secretário de assistência à saúde do Ministério da Saúde, Renilson Rehen, negou que a assessoria de José Serra tenha se precipitado ao afirmar que a Santa Casa seria totalmente fechada. "A nova avaliação mostrou que é possível manter o atendimento a gestantes. Caso contrário, a população de Guarulhos seria muito afetada."



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