São Paulo, quarta-feira, 01 de setembro de 2004

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A CONDENADA

"A cadeia me fez alguém melhor"

Lalo de Almeida/Folha Imagem
Elisângela Santana, na Penitenciária Feminina do Butantã; primária, ela foi condenada a cinco anos e meio em regime fechado


DA REPORTAGEM LOCAL

"Eu me envolvi [no crime] porque comecei a usar crack. Aí tive de roubar para pagar.
Larguei a escola aos 14 anos. Desencanei porque engravidei [hoje, são três filhos -de seis, quatro e dois anos]. Aí conheci um pessoal e fiquei dependente. Só queria a droga.
Consegui trabalhar mais uns 15 dias. Trabalhava numa empresa de postagem, mas já não tinha ânimo. E também o dinheiro não dava. Ganhava R$ 240, mas a pedra é R$ 5.
No primeiro roubo eu tive medo. Eu me coloquei no lugar da vítima [chora]. Ela era mulher. E ela ficou em pânico. Me deu dó [chora]. Eu disse: "Fica calma, ele [o comparsa] só quer dinheiro, não vai fazer nada".
Levamos bolsa, cheque e uns R$ 200 dela. Quando eu vi que tinha dado certo, eu perdi o medo, mas não contei para ninguém, nem para o meu marido. Quando eu fui presa, foi o fim para ele. Ele ficou chateado, chorou, mas me desculpou.
Bom, gastei todo o dinheiro no crack e fui roubar de novo. Mas o taxista [a segunda vítima] viu que a gente não tinha arma e reagiu. Nunca peguei numa arma. Morro de medo.
Aqui [a cadeia] não é o melhor lugar do mundo, mas não é o pior. Isso a gente aprende. Eu acho que a cadeia está me fazendo uma pessoa melhor. Foi um alerta, entende?
Quando eu fiquei longe das crianças, vi a minha família sofrer por mim, eu percebi que perdi muito tempo lá fora.
Agora, paciência. Prefiro acreditar que a cadeia foi um agir de Deus para mudar a minha vida para melhor."

Elisângela Santana, 20, condenada a cinco anos e seis meses em regime fechado; presa em fevereiro de 2003


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