São Paulo, quarta-feira, 01 de setembro de 2004

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A VÍTIMA

"Foram eles que me deixaram assim"

DA REPORTAGEM LOCAL

"Eu acho que não fiquei tão nervosa porque não era o primeiro assalto que sofria. Já foram quatro. Só que não queria ir com eles de jeito nenhum.
Eu estava entrando no carro, no Tatuapé, e eles entraram comigo. Era um casal. Parecia que estavam me esperando. O cara ficou com a mão por baixo da camisa o tempo todo. Só descobri que eles não estavam armados quando fui reconhecê-los.
Ela pegou tudo o que tinha na bolsa e pediu a minha sandália. Falou: "Me dá essa m... de sandália". Quando viram que eu só tinha R$ 120 em dinheiro, ele ficou bravo. Dizia: "Você está pedindo para morrer mesmo". Mas era tudo o que eu tinha.
Ele me ameaçava o tempo todo. Dizia que era para eu ficar quietinha porque ele podia capotar o carro, já que não tinha nada a perder. Parecia frio, calculista, perigoso, meio drogado. Acho que, se estivesse armado, poderia ter atirado.
Já ela, não sei direito o que dizer. Ela falava para ele que não precisava xingar nem agredir. Dizia que ninguém ia fazer nada comigo. Estava muito nervosa, mas foi mais cautelosa, parecia mesmo que era a primeira vez.
Para mim, os dois tinham que ir para a cadeia, mas cada um por um tempo. Eu acho que ela não o impediria de me matar, mas é verdade que ela, do jeito dela, até tentou me poupar, me proteger um pouco, minimizar o estrago, sabe?
Hoje tenho medo de entrar no carro sozinha. Fico olhando para os lados. Se vejo um casal, fico ressabiada. Poxa, foram eles que me deixaram assim."


I., 23, vendedora, foi vítima do primeiro assalto praticado por Elisângela Santana, em 2003


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