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A VÍTIMA
"Foram eles que me deixaram assim"
DA REPORTAGEM LOCAL
"Eu acho que não fiquei tão
nervosa porque não era o primeiro assalto que sofria. Já foram quatro. Só que não queria
ir com eles de jeito nenhum.
Eu estava entrando no carro,
no Tatuapé, e eles entraram comigo. Era um casal. Parecia que
estavam me esperando. O cara
ficou com a mão por baixo da
camisa o tempo todo. Só descobri que eles não estavam armados quando fui reconhecê-los.
Ela pegou tudo o que tinha na
bolsa e pediu a minha sandália.
Falou: "Me dá essa m... de sandália". Quando viram que eu só
tinha R$ 120 em dinheiro, ele ficou bravo. Dizia: "Você está
pedindo para morrer mesmo".
Mas era tudo o que eu tinha.
Ele me ameaçava o tempo todo. Dizia que era para eu ficar
quietinha porque ele podia capotar o carro, já que não tinha
nada a perder. Parecia frio, calculista, perigoso, meio drogado. Acho que, se estivesse armado, poderia ter atirado.
Já ela, não sei direito o que dizer. Ela falava para ele que não
precisava xingar nem agredir.
Dizia que ninguém ia fazer nada comigo. Estava muito nervosa, mas foi mais cautelosa,
parecia mesmo que era a primeira vez.
Para mim, os dois tinham
que ir para a cadeia, mas cada
um por um tempo. Eu acho
que ela não o impediria de me
matar, mas é verdade que ela,
do jeito dela, até tentou me
poupar, me proteger um pouco, minimizar o estrago, sabe?
Hoje tenho medo de entrar
no carro sozinha. Fico olhando
para os lados. Se vejo um casal,
fico ressabiada. Poxa, foram
eles que me deixaram assim."
I., 23, vendedora, foi vítima do primeiro assalto praticado por Elisângela Santana, em 2003
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