São Paulo, domingo, 01 de outubro de 2000

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ESPAÇO URBANO
Excesso de procura começou com personagem de novela; historiador afirma que há novos dissidentes
Góticos perdem controle sobre cemitérios

DA REPORTAGEM LOCAL

De tão manjados, os cemitérios deixaram de ser o local predileto dos góticos, diz o estudante de letras Cid Valente Ferreira, 21, criador de dois dos primeiros sites do gênero -Gothic Art e Sépia.
"Tudo começou com o personagem de uma novela (o gótico Reginaldo, interpretado pelo ator Eri Johnson, em "De Corpo e Alma", de 1992). A partir daí, virou uma espécie de febre, fugiu ao controle", lamenta Cid.
Para ele, a visita aos cemitérios virou "um rito de passagem adolescente", deixando de ser uma prática "dos góticos mais sérios".
"Não veneramos túmulos; o que curtimos, na verdade, é a arte gótica, é a literatura, a música de bandas como Bauhaus, os filmes", diz o estudante.
Cid estima que cerca de 15 mil pessoas prestigiem eventos góticos em casas noturnas como Madame Satã, no centro de São Paulo, e Plastic, na zona leste.

Dissidentes
"Não tenho nada contra os góticos, mas há novos dissidentes que são mais violentos", diz o historiador tumular do cemitério Consolação, Délio Freire dos Santos.
"Eles têm uma atitude mais contemplativa nos cemitérios e costumam estudar muito", considera o geógrafo Eduardo Rezende. Não foi à toa que ele resolveu lançar o seu livro no Madame Satã. "Eles têm interesse."
Para Santos, a visita aos cemitérios não foi uma prática inaugurada por essas "tribos urbanas". "Os poetas ultra-românticos de São Paulo faziam verdadeiros saraus no Consolação", diz.
Hoje, o que eles fazem, segundo um dos vigias do Necrópole São Paulo, é "beber e fumar maconha". "Tiro grupos daqui de dentro. Eles não reclamam. Saem quietos, mas voltam quando a gente vira as costas", afirma, sem querer se identificar.
Cid faz ressalvas: "Muitos dos que se dizem góticos na televisão são apenas pessoas que gostam de se vestir de preto e usar coturnos."

Luz
Os grupos de jovens de preto -góticos ou não- foram um dos "problemas" resolvidos mais prontamente pela iluminação no Freguesia do Ó.
De acordo com o proprietário da banca de jornal que fica em frente ao cemitério, José Mosteiro Vilela, 49, há 18 anos no local, "antes da luz, eles vinham em grupos de 20, 30 pessoas".
"Bebiam e faziam festa enquanto os outros choravam no velório. Há dois meses, não vejo mais nenhum", diz Vilela.


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