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ESPAÇO URBANO
Excesso de procura começou com personagem de novela; historiador afirma que há novos dissidentes
Góticos perdem controle sobre cemitérios
DA REPORTAGEM LOCAL
De tão manjados, os cemitérios
deixaram de ser o local predileto
dos góticos, diz o estudante de letras Cid Valente Ferreira, 21, criador de dois dos primeiros sites do
gênero -Gothic Art e Sépia.
"Tudo começou com o personagem de uma novela (o gótico
Reginaldo, interpretado pelo ator
Eri Johnson, em "De Corpo e Alma", de 1992). A partir daí, virou
uma espécie de febre, fugiu ao
controle", lamenta Cid.
Para ele, a visita aos cemitérios
virou "um rito de passagem adolescente", deixando de ser uma
prática "dos góticos mais sérios".
"Não veneramos túmulos; o
que curtimos, na verdade, é a arte
gótica, é a literatura, a música de
bandas como Bauhaus, os filmes", diz o estudante.
Cid estima que cerca de 15 mil
pessoas prestigiem eventos góticos em casas noturnas como Madame Satã, no centro de São Paulo, e Plastic, na zona leste.
Dissidentes
"Não tenho nada contra os góticos, mas há novos dissidentes que
são mais violentos", diz o historiador tumular do cemitério Consolação, Délio Freire dos Santos.
"Eles têm uma atitude mais
contemplativa nos cemitérios e
costumam estudar muito", considera o geógrafo Eduardo Rezende. Não foi à toa que ele resolveu
lançar o seu livro no Madame Satã. "Eles têm interesse."
Para Santos, a visita aos cemitérios não foi uma prática inaugurada por essas "tribos urbanas". "Os
poetas ultra-românticos de São
Paulo faziam verdadeiros saraus
no Consolação", diz.
Hoje, o que eles fazem, segundo
um dos vigias do Necrópole São
Paulo, é "beber e fumar maconha". "Tiro grupos daqui de dentro. Eles não reclamam. Saem
quietos, mas voltam quando a
gente vira as costas", afirma, sem
querer se identificar.
Cid faz ressalvas: "Muitos dos
que se dizem góticos na televisão
são apenas pessoas que gostam de
se vestir de preto e usar coturnos."
Luz
Os grupos de jovens de preto
-góticos ou não- foram um
dos "problemas" resolvidos mais
prontamente pela iluminação no
Freguesia do Ó.
De acordo com o proprietário
da banca de jornal que fica em
frente ao cemitério, José Mosteiro
Vilela, 49, há 18 anos no local, "antes da luz, eles vinham em grupos
de 20, 30 pessoas".
"Bebiam e faziam festa enquanto os outros choravam no velório.
Há dois meses, não vejo mais nenhum", diz Vilela.
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