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Comércio informal movimenta a economia
DA REPORTAGEM LOCAL
A economia rudimentar de Paraisópolis (zona sul de São Paulo),
baseada no pequeno varejo, não
tem regras. Raros são os que sabem ali quem é Pedro Malan, o
ministro da Fazenda. Armínio
Fraga, presidente do Banco Central, simplesmente não existe (tal
como o banco).
É uma economia sem nota fiscal
que nasceu e floresce no cômodo
da frente das casas e prospera à
revelia de qualquer manual de administração. Tem fiado, mas nada
de juros.
Quem pode abre o que quiser,
independentemente da existência
de outros concorrentes no pedaço. A renda familiar dos mais abonados é de R$ 500. "Abaixo disso
tem de tudo, e a média não passa
de R$ 150", diz José Rolim, o homem que tem todos os números
da favela na cabeça e nas gavetas
de seu pequeno escritório de presidente da União dos Moradores.
Paraisópolis tem 20 padarias,
dezenas de "portas" que vendem
material de construção, seis farmácias, oito locadoras de vídeo,
um supermercado, dez minimercados, uma floricultura e assistência técnica para eletrodomésticos,
além de quiosques de guloseimas,
lojinhas de roupas e uma emissora de rádio FM, a Rádio Paraíso.
Os hábitos de consumo favorecem a indústria eletroeletrônica:
60% têm televisão; 40% das casas
têm geladeira e 30%, carro (geralmente Brasília e Passat antigos).
O setor imobiliário tem participação importante na economia
local, geralmente em transações
entre os moradores. Quem melhora de vida melhora de casa e
até junta dinheiro para comprar
algo como o sobradão de alvenaria com reboco (detalhe importante) na "área nobre", à venda
por R$ 25 mil -a negociar.
Quando trocam um barraco de
um cômodo e cozinha, com aluguel de R$ 100, por uma casa de
alvenaria com sala, quarto, cozinha e banheiro, por R$ 200 a R$
250 ao mês, festejam com aguardente Ypioca, o champanhe da região. Quando saem do grotão (periferia da favela), somam o churrasquinho no espeto à Ypioca.
Não faltam bares para comemorar em Paraisópolis. "O que tem
mais aqui é bar e menino", diz José Rolim. São 200 bares e 20 mil
habitantes de zero a 18 anos.
Há, desde a última semana, a casa lotérica "Tô rico". Mas ela não
despertou o sonho de mudar para
o outro lado da avenida. "Daqui
só saio para o cemitério", diz Luiz
Soares da Costa, o Luiz Caboclo,
que vive do aluguel de R$ 100 por
cada uma das 20 casas que construiu na área nos últimos 42 anos.
Caboclo é visto como mestre-sala pela idade, generosidade e, de
certa forma, como o "Pedro Álvares Cabral" descobridor da favela,
em 3 de janeiro de 1957. Voltar
para Pernambuco? "Nem pensar", diz. "Lá, uma onça pintada
quase comeu minha orelha."
Também não sai de lá a estudante de pedagogia Maria Betânia
Guerreira Mendonça, 42, funcionária do Ceagesp e fundadora da
União dos Moradores, em 1985.
"Adoro aquilo", diz Betânia, cujo nome foi tirado de uma das
canções de Nelson Gonçalves, o
ídolo de seu pai. "Morro de medo
da violência da cidade, mas quando chego em Paraisópolis, mais
de meia-noite, a pé, respiro aliviada", afirma.
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