São Paulo, domingo, 01 de outubro de 2000

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Cinema improvisado traz campeão de bilheteria

DA REPORTAGEM LOCAL

De segunda a quinta-feira, o programa de centenas de moradores de Paraisópolis é sagrado: cinema. Haja cadeira de bar para acomodar toda aquela gente que nunca foi ao cinema de verdade e mal sabe ler. Os filmes são dublados e ninguém pisca o olho.
A idéia do cinema, inaugurado há apenas quatro meses, é do professor Dinho, o apelido com que o sociólogo Veguinaldo Rodrigues Filho, 38, funcionário da Secretaria da Justiça e Cidadania do Estado de São Paulo, se tornou conhecido na favela, onde também dá aulas de percussão a 150 alunos e comanda uma campanha para coleta seletiva do lixo.
Foi por causa do lixo -um problema grave na favela- que o professor Dinho chegou ao cinema. Para chamar a atenção para a campanha, ele começou a passar filmes após a "catequização".
Quatro meses depois, o cinema é a sensação da favela. Passa um filme por dia, exceto em casos de sucesso absoluto como Titanic, exibido em três dias consecutivos, e o filme da série Pokémon, que ficou uma semana em cartaz. A censura é feita pelo próprio professor Zinho. "Clube da Luta", sucesso de Brad Pitt, por exemplo, foi proibido para as crianças por causa da violência e tiroteios.
O cinema é peculiar. Montado numa quadra de futebol society coberta, garante o escurinho com 400 m2 de plástico preto instalados nas laterais. A tela de 64 m2 foi costurada por uma mãe, e o projetor Sony, de nove mil dólares, foi comprado pela metade do preço pelo professor Zinho. A entrada custa R$ 0,50, e a exceção mais uma vez coube ao filme Titanic, quando o preço dobrou.

Redação
Quem monta o circo é a garotada. Depois da exibição dos filmes, a criançada é estimulada a escrever um redação sobre o que viu. A maior dificuldade foi enfrentada na última quarta-feira, quando o "Cinema Paraisópolis" exibiu, sem legendas, o clássico italiano "Cinema Paradiso", de 1988, dirigido por Giuseppe Tornatore.
Para o Dia das Crianças, 12 de outubro, o professor Zinho prepara uma surpresa: quer inaugurar o verdadeiro Cinema Paraisópolis num antiga fábrica de sacolas da favela, que está sendo alugada por R$ 500. "Sinto-me como o projetista Alfredo, personagem principal de Cinema Paradiso", afirma o professor Zinho.


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