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Cinema improvisado traz campeão de bilheteria
DA REPORTAGEM LOCAL
De segunda a quinta-feira, o
programa de centenas de moradores de Paraisópolis é sagrado:
cinema. Haja cadeira de bar para
acomodar toda aquela gente que
nunca foi ao cinema de verdade e
mal sabe ler. Os filmes são dublados e ninguém pisca o olho.
A idéia do cinema, inaugurado
há apenas quatro meses, é do professor Dinho, o apelido com que o
sociólogo Veguinaldo Rodrigues
Filho, 38, funcionário da Secretaria da Justiça e Cidadania do Estado de São Paulo, se tornou conhecido na favela, onde também dá
aulas de percussão a 150 alunos e
comanda uma campanha para
coleta seletiva do lixo.
Foi por causa do lixo -um problema grave na favela- que o
professor Dinho chegou ao cinema. Para chamar a atenção para a
campanha, ele começou a passar
filmes após a "catequização".
Quatro meses depois, o cinema
é a sensação da favela. Passa um
filme por dia, exceto em casos de
sucesso absoluto como Titanic,
exibido em três dias consecutivos,
e o filme da série Pokémon, que ficou uma semana em cartaz. A
censura é feita pelo próprio professor Zinho. "Clube da Luta", sucesso de Brad Pitt, por exemplo,
foi proibido para as crianças por
causa da violência e tiroteios.
O cinema é peculiar. Montado
numa quadra de futebol society
coberta, garante o escurinho com
400 m2 de plástico preto instalados nas laterais. A tela de 64 m2 foi
costurada por uma mãe, e o projetor Sony, de nove mil dólares,
foi comprado pela metade do preço pelo professor Zinho. A entrada custa R$ 0,50, e a exceção mais
uma vez coube ao filme Titanic,
quando o preço dobrou.
Redação
Quem monta o circo é a garotada. Depois da exibição dos filmes,
a criançada é estimulada a escrever um redação sobre o que viu. A
maior dificuldade foi enfrentada
na última quarta-feira, quando o
"Cinema Paraisópolis" exibiu,
sem legendas, o clássico italiano
"Cinema Paradiso", de 1988, dirigido por Giuseppe Tornatore.
Para o Dia das Crianças, 12 de
outubro, o professor Zinho prepara uma surpresa: quer inaugurar o verdadeiro Cinema Paraisópolis num antiga fábrica de sacolas da favela, que está sendo alugada por R$ 500. "Sinto-me como
o projetista Alfredo, personagem
principal de Cinema Paradiso",
afirma o professor Zinho.
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