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SAÚDE
Descuido dos pais contribui para obesidade do filho
AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Um alerta para pais desregrados
ou desleixados com a gula dos filhos: quase dois terços das crianças "fofinhas" de hoje serão os
obesos de amanhã. O agravante é
que esse exército de novos gordinhos vem crescendo mais rapidamente entre as populações que
nos últimos anos passaram a ter
maior acesso à comida. E com velocidade ainda maior nos grupos
menos informados.
A boa notícia do recuo da desnutrição está sendo ameaçada pelo risco de uma epidemia de obesidade. Entre crianças de até 5
anos de todo o país, o índice de
excesso de peso se manteve em
cerca de 5% entre 1989 e 1996.
Mas enquanto no Sudeste os
gordinhos caíram de 7,5% para
5,8%, no Nordeste eles passaram
de 2,5% para 4,5%. "Nosso grande medo é que o processo de modernização leve a uma epidemia
de obesos", diz José Augusto Taddei, professor de nutrição e metabolismo do departamento de nutrição da Universidade Federal de
São Paulo (Unifesp).
O risco da obesidade é um dos
temas tratados no concurso de livre-docência que Taddei presta
esta semana na Unifesp. Entre os
números que compilou, alguns
são reveladores: o consumo de refrigerantes per capita, por ano,
passou de 7 litros em 1975 para
16,2, em 1987, e 22,4 em 1996.
O consumo de refrigerante, que
triplicou nesses 20 anos, é apenas
um indicador de direção. Outro,
que vai em sentido oposto, é a
educação: a obesidade em crianças da região Sul, filhas de mães
com quatro ou mais anos de escolaridade, vem caindo duas vezes
mais rapidamente.
Um amplo levantamento da
Unifesp feito em oito escolas públicas da região de Vila Mariana
encontra um índice de 10,6% de
obesidade entre crianças de 7 a 10
anos de idade. São crianças que
estão com peso 20% a 30% superior ao considerado normal.
Para baixar esses índices, os especialistas apontam a informação
e o exemplo dos pais como a melhor saída. Domingos Palma, presidente do departamento de nutrição da Sociedade de Pediatria
de São Paulo, chama a atenção para "tratamentos equivocados"
impostos a crianças e adolescentes ou adotados por eles. "Não se
pode fazer uma dieta restritiva
numa fase de crescimento", diz.
Remédios, nem pensar. Já pequenas atitudes, como retirar a
gordura da carne e eliminar a pele
do frango, custam pouco e ajudam muito, diz o médico.
Incluir uma atividade esportiva
que tire a criança ou o jovem da
frente da televisão e do videogame é essencial. E manter horários
para as refeições é fundamental.
A preocupação com a obesidade é tanta que o tema está no centro dos debates sobre nutrição do
Congresso Brasileiro de Pediatria,
que acontece na próxima semana,
em Fortaleza. É no Nordeste, justamente, onde a mudança do padrão alimentar do brasileiro vem
causando mais inquietação.
Fábio Ancona Lopez, professor
titular de nutrição do departamento de pediatria da Unifesp e
presidente em exercício da Sociedade de Pediatria de São Paulo,
concorda que a obesidade é uma
ameaça, mas acredita que nossos
jovens não seguirão o mau exemplo americano. "Felizmente, o
fast-food não fez tanto sucesso
entre nós." Segundo ele, alguns
estudos regionais mostram que o
brasileiro também adora o trio
"hambúrguer, batata frita e sorvete", mas não abandonou seu padrão "arroz, feijão, bife e salada".
Outro lado da má alimentação
que será tratado no congresso de
Fortaleza são os distúrbios provocados por um "vínculo fraco" entre mãe e filho. Domingos Palma,
que também faz parte do Núcleo
de Nutrição Infantil do Estado de
São Paulo, diz que vem crescendo
os casos de desnutrição grave por
"causa da relação muito ruim da
família com a criança". "Muitas
vezes a mãe, que também não recebeu atenção, nem percebe que
está tratando o filho de maneira
distante." Os efeitos desse "vínculo fraco" podem resultar também
em obesidade, e costumam não
escolher nível econômico -embora afetem mais os grupos menos escolarizados.
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