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MOACYR SCLIAR
Dois maravilhosos eletrodos
Médico procura mulheres para testar
aparelho que provoca orgasmo. O
médico americano Stuart Meloy, que
desenvolveu um aparelho que provoca orgasmo instantâneo, está procurando voluntárias para testar sua
criação, segundo artigo da revista
"New Scientist". A novidade foi descoberta acidentalmente, quando o
cirurgião fazia uma operação de rotina para aliviar as dores de uma paciente. Essa operação consiste na inserção de dois eletrodos na espinha e
na estimulação com pequenos impulsos elétricos. A mulher teve um
orgasmo espontâneo, o que despertou no médico a idéia de desenvolver
o método para dar prazer às mulheres. Meloy já recebeu autorização para testar o aparelho. Até agora só
uma mulher completou o primeiro
estágio do teste. São necessárias outras nove voluntárias. "Eu pensei que
as pessoas fossem derrubar a minha
porta para fazer parte do teste", disse
Meloy, desapontado, à "New Scientist". "Mas até agora sou eu que estou batalhando para encontrar as
pessoas." Folha Online, 26.nov.2003
O casamento de ambos
não era exatamente um
mar de rosas; a cama era o problema. Ela tinha poucos e difíceis
orgasmos, o que provocava amargas recriminações do marido:
- Você é frígida -acusava ele.
- E pior, não faz nada para se livrar dessa frigidez.
Na verdade ela fizera, sim, alguma coisa. Procurara vários médicos, e uma psicóloga também,
mas os resultados haviam sido
desapontadores. Até que um dia
ele entrou em casa radiante, mostrando uma notícia de jornal: dizia ali que um médico americano
estava procurando voluntárias
para testar um aparelho capaz de
gerar orgasmos.
- É a sua chance -garantiu ele.
Esse aparelho tem tudo para
funcionar. É ciência, mulher. Não
tem erro. O cara está deseperado
atrás de voluntárias. Você vai
lá, se apresenta como cobaia e
volta curada.
Ela ainda tentou argumentar:
aquilo era uma coisa experimental, podia até ter riscos. Mas ele
não quis nem saber. No mesmo
dia comprou a passagem e
uma semana depois ela estava
viajando.
No avião, sentou-se ao lado de
um rapaz simpático. Conversaram um pouco e de repente, sem
qualquer motivo aparente, ela se
pôs a chorar. Quando ele, surpreso mas solícito, se propôs a ajudá-la, ela contou tudo. Com uma
franqueza que até a surpreendeu:
pela primeira vez em sua vida estava encontrando alguém que a
ouvia e a compreendia.
Passaram três maravilhosas semanas em Nova York. Passeavam, iam ao cinema e às livrarias. E faziam amor todas as noites. Todas as noites ela tinha orgasmo; não um, vários. Mas veio
o dia em que ele se despediu.
Confessou que era casado, com
uma americana do Tennessee,
e que não pretendia se separar
da esposa.
Ela não ficou magoada, mesmo
porque também tinha de voltar.
Para o marido, claro. No fundo,
ela o amava. E agora que tinha
descoberto o orgasmo, a vida deles seria muito melhor.
Não deu outra. Ele se mostra
muito grato a certo médico
americano, cujo nome mal sabe
pronunciar direito. E sempre que
pode comenta com a mulher,
piscando o olhos, acerca de dois
minúsculos, e maravilhosos,
eletrodos.
Moacyr Scliar escreve às segundas-feiras, nesta coluna, um texto de ficção baseado em matérias publicadas no jornal.
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