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São Paulo, segunda-feira, 01 de dezembro de 2003

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MOACYR SCLIAR

Dois maravilhosos eletrodos

Médico procura mulheres para testar aparelho que provoca orgasmo. O médico americano Stuart Meloy, que desenvolveu um aparelho que provoca orgasmo instantâneo, está procurando voluntárias para testar sua criação, segundo artigo da revista "New Scientist". A novidade foi descoberta acidentalmente, quando o cirurgião fazia uma operação de rotina para aliviar as dores de uma paciente. Essa operação consiste na inserção de dois eletrodos na espinha e na estimulação com pequenos impulsos elétricos. A mulher teve um orgasmo espontâneo, o que despertou no médico a idéia de desenvolver o método para dar prazer às mulheres. Meloy já recebeu autorização para testar o aparelho. Até agora só uma mulher completou o primeiro estágio do teste. São necessárias outras nove voluntárias. "Eu pensei que as pessoas fossem derrubar a minha porta para fazer parte do teste", disse Meloy, desapontado, à "New Scientist". "Mas até agora sou eu que estou batalhando para encontrar as pessoas." Folha Online, 26.nov.2003

O casamento de ambos não era exatamente um mar de rosas; a cama era o problema. Ela tinha poucos e difíceis orgasmos, o que provocava amargas recriminações do marido:
- Você é frígida -acusava ele. - E pior, não faz nada para se livrar dessa frigidez.
Na verdade ela fizera, sim, alguma coisa. Procurara vários médicos, e uma psicóloga também, mas os resultados haviam sido desapontadores. Até que um dia ele entrou em casa radiante, mostrando uma notícia de jornal: dizia ali que um médico americano estava procurando voluntárias para testar um aparelho capaz de gerar orgasmos.
- É a sua chance -garantiu ele. Esse aparelho tem tudo para funcionar. É ciência, mulher. Não tem erro. O cara está deseperado atrás de voluntárias. Você vai lá, se apresenta como cobaia e volta curada.
Ela ainda tentou argumentar: aquilo era uma coisa experimental, podia até ter riscos. Mas ele não quis nem saber. No mesmo dia comprou a passagem e uma semana depois ela estava viajando.
No avião, sentou-se ao lado de um rapaz simpático. Conversaram um pouco e de repente, sem qualquer motivo aparente, ela se pôs a chorar. Quando ele, surpreso mas solícito, se propôs a ajudá-la, ela contou tudo. Com uma franqueza que até a surpreendeu: pela primeira vez em sua vida estava encontrando alguém que a ouvia e a compreendia.
Passaram três maravilhosas semanas em Nova York. Passeavam, iam ao cinema e às livrarias. E faziam amor todas as noites. Todas as noites ela tinha orgasmo; não um, vários. Mas veio o dia em que ele se despediu. Confessou que era casado, com uma americana do Tennessee, e que não pretendia se separar da esposa.
Ela não ficou magoada, mesmo porque também tinha de voltar. Para o marido, claro. No fundo, ela o amava. E agora que tinha descoberto o orgasmo, a vida deles seria muito melhor.
Não deu outra. Ele se mostra muito grato a certo médico americano, cujo nome mal sabe pronunciar direito. E sempre que pode comenta com a mulher, piscando o olhos, acerca de dois minúsculos, e maravilhosos, eletrodos.


Moacyr Scliar escreve às segundas-feiras, nesta coluna, um texto de ficção baseado em matérias publicadas no jornal.


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