|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Casos mais importantes passaram longe da Corregedoria
DA REPORTAGEM LOCAL
O órgão da Polícia Civil de São
Paulo que deveria combater a corrupção interna não identificou os
quatro casos mais graves de crime
organizado descobertos neste ano
na corporação.
O Ministério Público Estadual, a
Procuradoria da República e a Polícia Federal fizeram as vezes da
Corregedoria e revelaram a fragilidade que está por trás do discurso do governo do Estado de intolerância à impunidade.
Tanto o secretário da Segurança
Pública, Saulo de Castro Abreu
Filho, quanto o governador Geraldo Alckmin (PSDB) destacam
a ampliação e descentralização da
Corregedoria, nos últimos dois
anos, e a criação da via rápida, que
agilizou a demissão de policiais
investigados, como principais
medidas contra a corrupção.
Na prática, porém, os 570 homens do órgão ignoravam até três
meses atrás, por exemplo, que 2
dos 93 distritos da capital paulista
haviam se transformado em "balcões de negócios criminosos",
com venda de drogas apreendidas
e roubo de carga, entre outras atividades ilegais.
De setembro até agora, 13 policiais foram presos, entre eles quatro delegados, um está foragido e
24 foram denunciados à Justiça. O
grampo telefônico autorizado pela Justiça foi a principal arma de
todas as investigações.
Uma dessas interceptações provocou a abertura de investigação
contra o delegado-geral da Polícia
Civil paulista, Marco Antonio
Desgualdo, surpreendido falando
com um assessor investigado. A
apuração segue em sigilo no TJ
(Tribunal de Justiça), para tentar
esclarecer se Desgualdo mandou
alertar um delegado de São José
dos Campos sobre a existência da
investigação do Ministério Público Estadual sobre caça-níqueis.
O delegado-geral, em entrevista
à Folha, na época, negou ter vazado informações do caso e disse
que pretendia se inteirar da situação para tomar providências.
O primeiro caso de repercussão
estourou em setembro, após a
prisão do maior contrabandista
do país, Roberto Eleutério da Silva, o Lobão. No rastro dele, ao
longo de nove meses, a Procuradoria da República identificou
policiais que prestavam serviços à
quadrilha de Lobão e que tinham
negócios próprios em delegacias.
Os grampos mostraram policiais negociando uma carga de
lança-perfume apreendida, acertando cargas a serem roubadas e
vendendo boletins de ocorrência
para legalizar desvio de cargas,
entre outros negócios. "É bastante
antiga essa estrutura e posso dizer
que não atingimos ela toda", disse
na época o procurador Guilherme
Schelb, que coordenou a ação.
As interceptações que envolvem
policiais paulistas foram enviadas
ao Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) e ao Dipo (Departamento de Inquéritos Policiais),
que agora centralizam a apuração
de eventuais crimes. Dez policiais
já foram presos, entre eles quatro
delegados -dois deles responsáveis por dois distritos da capital.
Na sequência, vieram os grampos da Operação Anaconda, da
PF, que apura a venda de sentenças, entre outros crimes, envolvendo juízes e policiais. Um policial civil foi flagrado negociando a
liberdade de um empresário que
estava prestes a ser detido.
Em São José dos Campos, o Ministério Público levou quase um
ano para mapear, também com
grampos, a rede de proteção a
máquinas de caça-níquel na região. Os promotores descobriram
que, além de vazar informações
de blitze, policiais civis do esquema haviam criado um "selo" para
diferenciar quem pagava propina.
Na última quarta-feira, após
dois meses de investigação, promotores e procuradores conseguiram a prisão de três investigadores da Dise (Delegacia de Investigações Sobre Entorpecentes) de
Guarulhos, que estariam envolvidos em desvio de cargas roubadas, extorsão e tráfico. Com um
dos policiais, foram apreendidas
duas Mercedes.
(AS e GP)
Texto Anterior: Corporativismo é maior dentro da Polícia Civil Próximo Texto: Número de investigações é recorde, afirma corregedor Índice
|