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São Paulo, segunda-feira, 01 de dezembro de 2003

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Casos mais importantes passaram longe da Corregedoria

DA REPORTAGEM LOCAL

O órgão da Polícia Civil de São Paulo que deveria combater a corrupção interna não identificou os quatro casos mais graves de crime organizado descobertos neste ano na corporação.
O Ministério Público Estadual, a Procuradoria da República e a Polícia Federal fizeram as vezes da Corregedoria e revelaram a fragilidade que está por trás do discurso do governo do Estado de intolerância à impunidade.
Tanto o secretário da Segurança Pública, Saulo de Castro Abreu Filho, quanto o governador Geraldo Alckmin (PSDB) destacam a ampliação e descentralização da Corregedoria, nos últimos dois anos, e a criação da via rápida, que agilizou a demissão de policiais investigados, como principais medidas contra a corrupção.
Na prática, porém, os 570 homens do órgão ignoravam até três meses atrás, por exemplo, que 2 dos 93 distritos da capital paulista haviam se transformado em "balcões de negócios criminosos", com venda de drogas apreendidas e roubo de carga, entre outras atividades ilegais.
De setembro até agora, 13 policiais foram presos, entre eles quatro delegados, um está foragido e 24 foram denunciados à Justiça. O grampo telefônico autorizado pela Justiça foi a principal arma de todas as investigações.
Uma dessas interceptações provocou a abertura de investigação contra o delegado-geral da Polícia Civil paulista, Marco Antonio Desgualdo, surpreendido falando com um assessor investigado. A apuração segue em sigilo no TJ (Tribunal de Justiça), para tentar esclarecer se Desgualdo mandou alertar um delegado de São José dos Campos sobre a existência da investigação do Ministério Público Estadual sobre caça-níqueis.
O delegado-geral, em entrevista à Folha, na época, negou ter vazado informações do caso e disse que pretendia se inteirar da situação para tomar providências.
O primeiro caso de repercussão estourou em setembro, após a prisão do maior contrabandista do país, Roberto Eleutério da Silva, o Lobão. No rastro dele, ao longo de nove meses, a Procuradoria da República identificou policiais que prestavam serviços à quadrilha de Lobão e que tinham negócios próprios em delegacias.
Os grampos mostraram policiais negociando uma carga de lança-perfume apreendida, acertando cargas a serem roubadas e vendendo boletins de ocorrência para legalizar desvio de cargas, entre outros negócios. "É bastante antiga essa estrutura e posso dizer que não atingimos ela toda", disse na época o procurador Guilherme Schelb, que coordenou a ação.
As interceptações que envolvem policiais paulistas foram enviadas ao Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) e ao Dipo (Departamento de Inquéritos Policiais), que agora centralizam a apuração de eventuais crimes. Dez policiais já foram presos, entre eles quatro delegados -dois deles responsáveis por dois distritos da capital.
Na sequência, vieram os grampos da Operação Anaconda, da PF, que apura a venda de sentenças, entre outros crimes, envolvendo juízes e policiais. Um policial civil foi flagrado negociando a liberdade de um empresário que estava prestes a ser detido.
Em São José dos Campos, o Ministério Público levou quase um ano para mapear, também com grampos, a rede de proteção a máquinas de caça-níquel na região. Os promotores descobriram que, além de vazar informações de blitze, policiais civis do esquema haviam criado um "selo" para diferenciar quem pagava propina.
Na última quarta-feira, após dois meses de investigação, promotores e procuradores conseguiram a prisão de três investigadores da Dise (Delegacia de Investigações Sobre Entorpecentes) de Guarulhos, que estariam envolvidos em desvio de cargas roubadas, extorsão e tráfico. Com um dos policiais, foram apreendidas duas Mercedes. (AS e GP)


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