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São Paulo, domingo, 02 de março de 2003

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Bairro define o preço do serviço

DA SUCURSAL DO RIO

A tabela da prostituição varia do mesmo modo que o preço do coco nas praias do Rio: quanto mais nobre a vizinhança, mais caros os serviços.
Em Macaé (RJ), a advogada Adriana Guilherme, gerente do Programa de Enfrentamento à Violência Sexual Infanto-Juvenil, do governo estadual, verificou menores se prostituindo por R$ 3, R$ 5, um bujão de gás.
Na Barra da Tijuca, há quase um cartel entre as garotas que trabalham, como dizem, ""na pista" da avenida da praia: R$ 50 o programa de uma hora, R$ 20 o sexo oral feito dentro dos carros em ruas escuras. Quando a jovem é mais bonita, aumenta o preço.
Maria Luísa cobra R$ 80. Diz ter começado a se prostituir um ano atrás, quando ""era menor". Parece ainda ser. Antes, era contatada pelos clientes por telefone. Foi para a rua ""por ser mais fácil".
Raquel, 22, é prostituta desde os 16. Antes de mudar de vida, ganhava um salário mínimo. Agora fatura pelo menos R$ 150 por noite. Às vezes chega a R$ 250.
Na Barra, ela e as amigas não dão mais a mão a clientes que estão dentro de carros. Temem ser vítimas da ""brincadeira" de rapazes: eles agarram a mão das garotas, prendem-nas com algemas e as arrastam.
A ""oferta" caiu na semana passada por causa da migração para Copacabana, em busca de ""gringos". Em Copacabana, o preço mais pedido é R$ 150 por uma hora. Uma garota quis US$ 150.
O que mais se ouve das adolescentes é: ""Tenho 18 anos". Algumas compram carteira de identidade falsa. Outras, não. Ficam sem entrar em certas boates e hotéis por serem menores.
As que saíram de outros Estados têm onde se hospedar. Agenciadores providenciam apartamentos. Uma menor do bairro paulistano do Butantã que não quis dizer a idade nem dar entrevista chegou na quinta.
Não se sabe quantas crianças e adolescentes são vítimas de exploração sexual no Rio. ""É impossível mensurar", diz Adriana Guilherme. Além da pobreza, ela aponta a influência do consumismo como incentivo determinante à prostituição precoce.
A gerente do programa do Estado dedica-se a reerguer os seis Crias (centros onde os menores são acolhidos por até 72 horas antes de serem entregues aos pais ou encaminhados para outras instituições) surgidos em 2000 e 2001. O governo passado não renovou o convênio com a empresa prestadora de serviços. Dois Crias fecharam. Outros dois funcionam precariamente. (MM)

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