São Paulo, segunda, 2 de março de 1998

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MEMÓRIA
No PR, vítima aceita parte do prejuízo

FERNANDO MENDONÇA
da Agência Folha, em Curitiba

Proprietários de apartamentos do edifício Atlântico, que desabou em Guaratuba (litoral do Paraná) em janeiro de 95, causando a morte de 29 pessoas, aceitaram o acordo proposto pelo dono da obra e deverão receber, cada um, R$ 25.625,00 como indenização -pouco mais de um terço do valor do imóvel há três anos.
O pagamento da indenização foi a alternativa encontrada pelo empresário Ney Baptista Torres, responsável pela construção, para evitar um processo por homicídio culposo (não intencional).
Depois do acidente, Torres teve cassado o seu registro de engenheiro e foi acusado criminalmente pelo Ministério Público do Paraná, mas não foi julgado.
Segundo o promotor Lucílio Hels Jr., 29, da comarca de Guaratuba, o construtor foi beneficiado pelo recurso jurídico da "suspensão condicional do processo".
Como condição para a suspensão, o empresário foi obrigado pelo juiz a pagar indenizações aos parentes das vítimas. O processo será extinto quando todas as indenizações tiverem sido pagas.
Segundo o advogado de Torres, Luiz Cláudio Biscaia, dos 15 proprietários de apartamentos do edifício Atlântico, 12 irão "ratear" os R$ 307.500,00 oferecidos.
Os outros três proprietários são Polliana Pundek, 23, retirada viva dos escombros; a família do ex-prefeito de Tomazina Ivaldo Alves da Costa, que morreu no acidente junto com dois filhos; e o próprio empresário Ney Torres, que também perdeu parentes.
O marido de Polliana, José Luís Branco, 32, disse à Agência Folha que sua mulher não foi procurada para assinar qualquer acordo.
"Ela ficou transtornada com a preocupação excessivamente material dos proprietários, que se reuniram depois do desabamento para discutir, por exemplo, sobre o carro que tinha sido atingido. Ninguém estava ali para falar sobre as mortes", afirmou Branco.
Polliana move uma ação contra o empresário Ney Torres. Ela quer ser ressarcida de todas as despesas que teve nos últimos três anos para recuperar parcialmente os movimentos das pernas, que depois de cinco meses de internação ainda não estão totalmente recuperadas.
Como o do edifício Palace, no Rio de Janeiro, o desabamento em Guaratuba também foi provocado por falhas na estrutura de sustentação do prédio, causadas pela construção de uma piscina com capacidade para 5.000 litros e uma caixa d'água fora do projeto.



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