São Paulo, segunda, 2 de março de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CONSUMO
Consumidor perde com buracos da Sabesp

RITA NAZARETH
da Reportagem Local

Fazer um serviço e desfazer outro. Essa tem sido a reclamação de muitos paulistanos que tiveram o asfalto de suas ruas destruído em virtude de consertos da Sabesp. Mais do que se queixar da estética comprometida, o morador da cidade reclama contra o risco a sua segurança e ao seu bolso.
Desorganização do sistema de empreiteiras que realizam as obras é a explicação da empresa para o atraso no recapeamento do solo (leia texto ao lado). Enquanto isso, os usuários são abandonados à própria sorte por períodos que chegam a mais de dois meses. Alguns falam até em indenização por prejuízos.
É o caso do comerciante Almir Gastro Ribeiro, 38, que terá de gastar cerca de R$ 500 para adquirir um novo catalisador para seu carro.
Segundo ele, o antigo equipamento foi danificado em dezembro do ano passado, quando passava com seu Gol 1000 por um dos cerca de 20 buracos em sua rua, que fica no bairro de Itaquera (zona leste de São Paulo).
"Já liguei para a Sabesp mais de cinco vezes", diz Ribeiro. "Um fiscal deles veio até aqui e disse que ainda não poderia resolver o problema por falta de material para asfaltar a rua."
Outro morador do bairro, o comerciante Roberto Hemenegildo Silva, 38, também teve de pagar R$ 80 por uma roda quebrada em um dos buracos.
"A negligência da empresa é tão grande que se perde até a vontade de reclamar."
Pelo mesmo motivo, a auxiliar de informática Ana Rosa Cardoso, 47, e outros moradores de sua rua no bairro da Saúde (zona sudoeste) decidiram fechar com pedras os buracos abertos pela empresa.
"A Sabesp fez esse estrago e agora, com as fortes chuvas do fim do verão, o negócio vai piorar por aqui", diz Ana Rosa. "Prefiro arregaçar as mangas a arriscar perder minha casa."
2ª mais reclamada
De todas as empresas de São Paulo que tiveram queixas registradas no Procon (Fundação de Proteção e Defesa do Consumidor), a Sabesp foi a segunda com o maior número de reclamações durante todo o ano passado.
Ao todo foram 421 queixas. Liderando a lista estão os problemas com cobrança (224 queixas), seguidos pela má prestação de serviços (66 queixas) e pelos aumentos de prestações (62 queixas).
Segundo o Procon, o problema da abertura e do não fechamento de buracos nas ruas pode ser incluído em dois itens: má prestação de serviços e serviços que causaram danos ao consumidor (veja quadro ao lado).
Somando-se as queixas, chega-se a um número de 68 reclamações. "Deve-se levar em consideração, no entanto, que nem todas as reclamações se referem a buracos abertos nas ruas", afirma Regina Franco, técnica da área de serviços do órgão.
Por outro lado, Regina afirma que o número é "considerável" e que essa atitude da Sabesp acaba infringindo um dos artigos do Código de Defesa do Consumidor, que prevê que todos os serviços prestados devam ser seguros.
"Na medida em que o consumidor não encontra segurança no que está pagando, deve reclamar e exigir uma indenização na Justiça", diz Regina.
A técnica faz um alerta ao consumidor para que junte todo tipo de prova que puder.
"Protocole as reclamações, anote os nomes dos funcionários da empresa que registraram as queixas e não deixe de pedir notas fiscais de eventuais consertos."



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.