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SAÚDE
Pesquisa realizada com 50 fiscais de trânsito em SP revela aumento da pressão arterial quando a qualidade do ar está ruim
Poluição favorece infarto, aponta estudo
DA REPORTAGEM LOCAL
Se a poluição pode aumentar o
risco de infarto do miocárdio e
outros problemas cardiovasculares em pessoas saudáveis, imagine o efeito em quem já tem a saúde debilitada ou uma constituição
frágil, como idosos e crianças.
Um estudo realizado com 50
marronzinhos -fiscais de trânsito- na cidade de São Paulo, todos sem relatos de doenças, mostrou que, em períodos de maior
poluição, eles tinham um aumento da pressão arterial e alteração
de mediadores químicos (como
fatores de coagulação) que podem levar a problemas circulatórios. As mudanças estavam relacionadas principalmente aos poluentes gerados por automóveis.
"Não sabemos ainda como a
poluição causa essas alterações",
afirma Ubiratan de Paula Santos,
autor do estudo e assistente da
disciplina de pneumologia do Incor (Instituto do Coração) do
Hospital das Clínicas de São Paulo. A hipótese mais provável é a de
que a reação inflamatória nos pulmões provocada pelos agentes
poluidores prejudique também o
coração.
Os primeiros estudos que associaram poluição a risco de doenças cardiovasculares são de 1998.
Mas boa parte trabalhou com pacientes com histórico de doenças
do coração e idosos, populações
mais suscetíveis a ter alterações.
Uma pesquisa alemã foi a que
mais se aproximou do trabalho
brasileiro. Ela, no entanto, verificou apenas os efeitos da poluição
dentro de uma fábrica.
O trabalho é a tese de doutorado
de Santos e, apesar de não ter sido
publicado ainda em revista científica, despertou o interesse de uma
agência norte-americana que fomenta estudos sobre poluição
com recursos do governo dos
EUA e de indústrias. Na próxima
semana, representantes da Health
Effects Institute estarão no país
para conhecer os resultados da
pesquisa e avaliar uma proposta
de financiamento para a continuação dos estudos, disse Paulo
Saldiva, responsável pelo Laboratório de Poluição Atmosférica Experimental da USP -órgão que
auxiliou a pesquisa de Santos.
Segundo Saldiva, o objetivo é
realizar uma avaliação sobre os
efeitos da poluição sobre pessoas
com problemas cardiovasculares
internadas no Hospital das Clínicas, na região oeste de São Paulo.
O grupo já avaliou a poluição interna do hospital e verificou que
os níveis são semelhantes aos encontrados na avenida Dr. Arnaldo, uma via de grande movimento que fica próxima do hospital.
"É como se o paciente estivesse na
calçada", afirma Saldiva.
Metodologia
Todos os marronzinhos trabalhavam havia mais de um ano nas
marginais dos rios Pinheiros e
Tietê, áreas de grande circulação
de veículos. Não fumavam e tinham entre 32 e 55 anos. O grupo
foi avaliado em agosto de 2000, fevereiro de 2001 e agosto de 2001.
Agosto é o mês em que costumam
ser registrados os piores índices
de poluição. Fevereiro registra os
melhores. Nos três momentos foram realizadas avaliações sobre a
capacidade pulmonar, medições
da pressão durante 24 horas e eletrocardiograma por 24 horas. Do
grupo, 30% apresentavam inflamação nos brônquios -e, nesses
30%, a função pulmonar caiu
quatro vezes mais durante o estudo do que nos que não tinham inflamação.
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