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São Paulo, quarta-feira, 02 de abril de 2003

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SAÚDE

Pesquisa realizada com 50 fiscais de trânsito em SP revela aumento da pressão arterial quando a qualidade do ar está ruim

Poluição favorece infarto, aponta estudo

DA REPORTAGEM LOCAL

Se a poluição pode aumentar o risco de infarto do miocárdio e outros problemas cardiovasculares em pessoas saudáveis, imagine o efeito em quem já tem a saúde debilitada ou uma constituição frágil, como idosos e crianças.
Um estudo realizado com 50 marronzinhos -fiscais de trânsito- na cidade de São Paulo, todos sem relatos de doenças, mostrou que, em períodos de maior poluição, eles tinham um aumento da pressão arterial e alteração de mediadores químicos (como fatores de coagulação) que podem levar a problemas circulatórios. As mudanças estavam relacionadas principalmente aos poluentes gerados por automóveis.
"Não sabemos ainda como a poluição causa essas alterações", afirma Ubiratan de Paula Santos, autor do estudo e assistente da disciplina de pneumologia do Incor (Instituto do Coração) do Hospital das Clínicas de São Paulo. A hipótese mais provável é a de que a reação inflamatória nos pulmões provocada pelos agentes poluidores prejudique também o coração.
Os primeiros estudos que associaram poluição a risco de doenças cardiovasculares são de 1998. Mas boa parte trabalhou com pacientes com histórico de doenças do coração e idosos, populações mais suscetíveis a ter alterações. Uma pesquisa alemã foi a que mais se aproximou do trabalho brasileiro. Ela, no entanto, verificou apenas os efeitos da poluição dentro de uma fábrica.
O trabalho é a tese de doutorado de Santos e, apesar de não ter sido publicado ainda em revista científica, despertou o interesse de uma agência norte-americana que fomenta estudos sobre poluição com recursos do governo dos EUA e de indústrias. Na próxima semana, representantes da Health Effects Institute estarão no país para conhecer os resultados da pesquisa e avaliar uma proposta de financiamento para a continuação dos estudos, disse Paulo Saldiva, responsável pelo Laboratório de Poluição Atmosférica Experimental da USP -órgão que auxiliou a pesquisa de Santos.
Segundo Saldiva, o objetivo é realizar uma avaliação sobre os efeitos da poluição sobre pessoas com problemas cardiovasculares internadas no Hospital das Clínicas, na região oeste de São Paulo. O grupo já avaliou a poluição interna do hospital e verificou que os níveis são semelhantes aos encontrados na avenida Dr. Arnaldo, uma via de grande movimento que fica próxima do hospital. "É como se o paciente estivesse na calçada", afirma Saldiva.

Metodologia
Todos os marronzinhos trabalhavam havia mais de um ano nas marginais dos rios Pinheiros e Tietê, áreas de grande circulação de veículos. Não fumavam e tinham entre 32 e 55 anos. O grupo foi avaliado em agosto de 2000, fevereiro de 2001 e agosto de 2001. Agosto é o mês em que costumam ser registrados os piores índices de poluição. Fevereiro registra os melhores. Nos três momentos foram realizadas avaliações sobre a capacidade pulmonar, medições da pressão durante 24 horas e eletrocardiograma por 24 horas. Do grupo, 30% apresentavam inflamação nos brônquios -e, nesses 30%, a função pulmonar caiu quatro vezes mais durante o estudo do que nos que não tinham inflamação.


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