São Paulo, sexta-feira, 02 de junho de 2000


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GREVE DO FUNCIONALISMO
Governador sofre ferimento na testa e corte no lábio ao visitar secretaria; 5 manifestantes são presos
Professores apedrejam e ferem Covas

Jorge Araújo/Folha Imagem
O governador Covas deixa a Secretaria da Educação cercado por seguranças; no caminho para seu carro, é agredido e ferido


DA REPORTAGEM LOCAL

O governador de São Paulo, Mário Covas (PSDB), foi agredido ontem à tarde ao atravessar duas vezes o acampamento de professores grevistas, na praça da República (centro), para entrar e sair pelo portão da frente da Secretaria de Estado da Educação.
Os manifestantes entraram em confronto com seguranças de Covas e policiais militares, que usaram bombas de efeito moral. Cinco pessoas foram presas em flagrante. Outras cinco ficaram feridas, incluindo um PM.
Após ser atingido por pedras, paus, limões e laranjas, entre outros objetos, o governador deixou a praça com um ferimento na testa e um corte no lábio superior. Ele recebeu atendimento de médicos da Casa Militar do Palácio dos Bandeirantes.
Covas chegou à secretaria por volta das 15h50. "Ninguém vai impedir o governador de entrar em uma secretaria de Estado pela porta da frente", disse ele, de acordo com a assessoria do Palácio dos Bandeirantes.
Desde o início da semana, as três entradas do prédio estão cercadas pelos professores. O acesso de funcionários estava sendo feito pela garagem.
Os acampados, num total de cem, estão no local desde o último dia 12 e fazem parte de uma ala radical da Apeoesp (sindicato dos professores).

Entrada
Segundo nota oficial da Secretaria da Educação, Covas teria ido despachar com a secretária Rose Neubauer. O assessor técnico da secretaria Élcio Antonio Selm disse que esta foi a segunda vez no ano que isso acontece.
Ao chegar à praça, ocorreram os primeiros incidentes. Segundo os professores, Covas atravessou o acampamento com a chave do cadeado do portão. Cerca de 15 pessoas que o acompanhavam teriam chutado algumas barracas.
Os professores, então, passaram a atacá-lo com paus, pedras e laranjas. Ao atravessar o portão e subir a escadaria do prédio, ele foi protegido por policiais da tropa de choque, que estavam dentro da secretaria. Os vidros do edifício foram quebrados.
Covas permaneceu no prédio durante 15 minutos. A Folha apurou que ninguém na secretaria havia sido avisado da visita.
A saída do prédio foi ainda mais conturbada. O governador insistiu em deixar a secretaria pelo portão da frente, que havia sido bloqueado novamente pelos professores com cordas e correntes.
Para passar, a equipe do governador teve que derrubar o portão. Lideranças da Apeoesp chegaram a fazer um cordão de isolamento para ele passar. A intenção, segundo eles, era que Covas deixasse o local com segurança.
Ao atravessar o portão, as agressões continuaram. Ele fez questão de ir a pé até a calçada, enquanto era atingido por objetos. No caminho até o carro, parou duas vezes para discutir com pessoas que o xingavam.
A presidente da Apeoesp, Maria Izabel Azevedo Noronha, disse que Covas atravessou o acampamento para provocar. "Ele veio criar uma confusão para sair machucado, como vítima, e sensibilizar a população", disse.
Minutos após a saída de Covas, deputados estaduais se dirigiram à praça da República. "Estamos indignados. Foi uma armação do governador", disse Jamil Murad (PC do B). "Queremos que esse governador volte ao juízo", afirmou Mariângela Duarte (PT).
Enquanto os professores tentavam agredir Covas, os policiais jogaram bombas de efeito moral.
A tropa de choque da PM, que estava na secretaria durante a tarde, não foi acionada, e deixou o local minutos após o confronto.
Segundo a secretaria, a tropa de choque foi chamada porque havia informações de que os professores acampados poderiam invadir o prédio. O diretor de imprensa do acampamento, Carlos Alberto Ferreira, negou que houvesse essa intenção.
Os grevistas acampados são os mesmos que, anteontem, durante o ato na avenida Paulista, chegaram a bloquear um caminhão de som da Apeoesp e a atirar ovos em alguns diretores do sindicato.
Esta é a segunda agressão sofrida por Covas desde que os professores da rede estadual estão em greve. No último dia 19, ele levou uma bandeirada na cabeça após discutir com manifestantes, durante a inauguração do Banco do Povo, em São Bernardo do Campo (ABC paulista).
Entre os presos pela polícia estão dois professores, autuados em flagrante por lesão corporal, danos, resistência à prisão e desacato. Eles foram levados para o 3º DP (Santa Ifigênia).
O capitão Ricardo Andreolli, um dos oficiais que comandava a ação, foi atingido na cabeça por uma pedra. Outras três pessoas que acompanhavam o governador na visita à secretaria foram até a delegacia registrar queixa de agressão contra os manifestantes.
A Secretaria da Educação divulgou nota oficial dizendo que "os trabalhadores têm o direito à greve, mas o governador tem o direito de entrar a qualquer momento em uma casa do governo e pela porta da frente".
O ministro da Justiça, José Gregori, divulgou ontem nota oficial sobre as agressões a Covas em que faz uma ameaça velada de utilização da Polícia Federal em "excessos neofascistas". "As manifestações, que transpõem todos os limites do tolerável, têm de cessar. Tanto as polícias estadual quanto a federal, no âmbito de suas competências, devem fazer recair sobre esses excessos neofascistas o peso da lei", diz a nota.
O ministro acha que, assim como no caso das invasões de prédios públicos, a PF pode enquadrar manifestantes em São Paulo no Código Penal. O presidente interino Marco Maciel também soltou nota em apoio a Covas.


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