São Paulo, quinta-feira, 02 de junho de 2005

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INVESTIGAÇÃO

Saulo Abreu Filho (Segurança) afirma que pediu verificação sobre bloqueio na rua e que subordinado convocou equipe

Secretário nega abuso de poder e responsabiliza auxiliar

ALEXANDRE HISAYASU
DA REPORTAGEM LOCAL

Após dois dias de silêncio, o secretário da Segurança Pública de São Paulo, Saulo de Castro Abreu Filho, negou ontem que tenha cometido abuso de autoridade no episódio que culminou com a detenção de um manobrista e do sócio do restaurante Kosushi, no Itaim Bibi (zona oeste), no dia 14 de maio. O caso, revelado pela Folha anteontem, é investigado pela Procuradoria Geral de Justiça.
Saulo negou ter acionado um grupo de elite da Polícia Civil, responsável por conter rebeliões em cadeias, para averiguar a responsabilidade sobre um congestionamento. Ele atribuiu a responsabilidade ao delegado-geral da Polícia Civil, Marco Antônio Desgualdo. "Eu liguei para ele e pedi para checar aquela situação".
Na ocasião, o manobrista e o sócio do Kosushi acabaram algemados por policiais sob acusação de obstruir a rua. Posteriormente, a polícia descobriu que os cavaletes haviam sido colocados pela CET.
Desgualdo não comentou as declarações do secretário. A assessoria de imprensa de Abreu Filho mandou um documento da central da polícia, no qual consta que os policiais atenderam ao chamado do delegado-geral. Abaixo, trechos da entrevista:
 

Folha - O que aconteceu naquela noite de 14 de maio?
Saulo de Castro Abreu Filho
Primeiro eu queria me penitenciar um pouco por não ter dado ao fato a dimensão que acabou tomando. Eu saí do cinema com a minha esposa junto com uma amiga nossa, também promotora, e decidimos jantar em um restaurante japonês. Quando chegamos, a rua estava fechada e tinha um rapaz com uniforme do restaurante que ficava tirando o cavalete para os clientes passarem. Quem pagava o estacionamento tinha acesso à rua. Achei o fato inusitado.

Folha - O que o senhor fez?
Abreu Filho
- Quando entrei no restaurante, liguei para o Marco Antônio Desgualdo [delegado-geral] e pedi para checar o que estava acontecendo. Ele ligou para o Cepol [Central da Polícia Civil], que acionou a viatura mais próxima, que era a do GOE [Grupo de Operações Especiais].

Folha - Os policiais entraram armados para falar com o senhor no restaurante?
Abreu Filho
- Não vi policial de metralhadora como foi noticiado. Quem entrou foi o delegado do GOE. Ele me informou que estava cuidando da ocorrência e saiu. Eu continuei jantando.

Folha - O senhor não acompanhou a ação dos policiais?
Abreu Filho
- Eu mandei checar a situação. Se vai prender ou não é problema da polícia. Depois, o César Tralli [jornalista] chegou e me disse que haviam levado o dono do restaurante e o manobrista para o 15º DP. Eu respondi que a situação se resolveria, caso fosse mesmo um mal-entendido. E aí, acabou. Paguei a conta, saí do restaurante, me despedi, deixei caixinha e fui embora.

Folha - A divulgação do caso o surpreendeu?
Abreu Filho
- Sim, porque só agora, 15 dias depois, aparece essa carta anônima [o Departamento de Inquéritos Policiais e Polícia Judiciária, o Dipo, recebeu uma carta relatando a ocorrência no dia 17]. O que eu acho estranho é que foi mandado para o Dipo. Faça uma enquete e pergunte quantas pessoas conhecem o Dipo para encaminhar denúncias?

Folha - Nota de sua assessoria afirmou que o Poder Judiciário e a Promotoria foram acionados para resolver questões pessoais.
Abreu Filho
- Eu não li a nota, lamento e peço desculpas pelo conteúdo. Pedi para a assessoria mandar uma nota [quando questionada sobre a investigação] e expliquei com desdenho que tinha uma placa na rua e que chamei o Desgualdo e houve um erro.

Folha - Mas o delegado atendeu um pedido feito pelo senhor.
Abreu Filho
- É lógico. Acionei porque vi uma situação inusitada.

Folha - Houve excessos?
Abreu Filho
- Soube pela imprensa que usaram algemas, não sei em que condições. Se alguém se sentiu lesado, tem órgãos da polícia para se denunciar abusos.

Folha - O senhor falou com o governador Geraldo Alckmin (PSDB)?
Abreu Filho
- Não. Talvez ele me ligue. Publicaram que há uma crise no governo por causa desse caso. É uma deslavada mentira.


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