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CRIMES NA CASERNA
Para Nilmário Miranda (Justiça), há noção entre militares de que é preciso submeter recrutas a situação limite
Agressão em quartel é cultural, diz ministro
MARIO HUGO MONKEN
DA SUCURSAL DO RIO
O secretário nacional de Direitos Humanos, Nilmário Miranda,
atribuiu a violência empregada
nos quartéis a uma cultura das
Forças Armadas de que é preciso
submeter, principalmente os
mais novos, a situações limite que
poderão enfrentar em algum momento. "Um treinamento duro
não significa submeter a pessoa a
sofrimento e agressões físicas. Os
códigos e normas de treinamentos das Forças Armadas não prevêem tortura", afirmou.
Ontem, a Folha revelou que
processos na Justiça Militar mostram que a tortura se disseminou
pelos quartéis das Forças Armadas em vários Estados nos últimos cinco anos. Em instruções de
treinamento, para confessar crimes ou como punição a atos de
indisciplina, os militares são submetidos, por exemplo, a choques
elétricos e golpes com vara.
Miranda disse que nem todos os
casos de violência se configuram
como tortura, mas são violações
de direitos humanos.
"Pela lei, a tortura é reforçada
principalmente quando alguém é
submetido a sofrimento e humilhação", disse ele. Casos de abuso
de autoridade e lesão corporal podem não ser tortura, mas são violações de direitos", completou.
A presidente da Comissão de
Direitos Humanos da Câmara
dos Deputados, Iriny Lopes (PT-ES), informou à Folha que solicitará uma audiência com o ministro da Defesa, José Alencar, para
pedir explicações sobre os abusos.
Segundo ela, o Exército tem
obedecido a um padrão de negar
a existência da tortura.
"Em qualquer circunstância, a
prática de tortura é crime. Admiti-la ou justificá-la equivale a legitimá-la, o que contraria a posição
histórica do Brasil nos foros internacionais, inclusive como signatário de tratos e convenções que
proíbem a tortura", disse.
Repercussão
Para a diretora-executiva da
ONG Justiça Global, Sandra Carvalho, a violência dentro dos
quartéis acaba por refletir no tratamento desumano imposto pelas forças militares e a polícia à
população. "Os militares são submetidos a exercícios exaustivos,
tortura psicológica, humilhações,
são privados de alimentação e isso
acaba refletindo futuramente."
Ela disse que os casos não são
isolados e não vem a público porque não são investigados. "Há impunidade. Temos casos da década
de 1990 que nunca foram investigados", disse.
Para Cecília Coimbra, do grupo
Tortura Nunca Mais, a tortura
ainda existe hoje porque falta
vontade política e porque a sociedade aceita. "Diferentemente da
época da ditadura militar, quando
os opositores ao regime, na maioria de classe média, eram vítimas,
a tortura de hoje é contra o pobre.
E tortura contra o pobre nunca
horrorizou ninguém. Acho que a
tortura hoje não é apenas usada
como método, mas sim como
controle social", declarou.
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