São Paulo, quinta, 2 de julho de 1998

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REMÉDIOS FALSOS
Empresa encarregada de queimar Microvlar de teste informa que abre lotes para tirar amostras
Pílula pode ter sido aberta na incineração

MARCELO OLIVEIRA
da Reportagem Local

A Ciba, empresa encarregada de incinerar as pílulas de Microvlar que foram usadas em teste, informou ontem que todos os volumes de material que recebe para destruir são abertos antes da queima.
Assim, há mais um ponto no caminho da inutilização dos anticoncepcionais em que poderia ter havido desvio.
Mais de uma dezena de mulheres que usavam Microvlar ficaram grávidas, tomando drágeas sem efeito. Os comprimidos foram produzidos para teste de uma nova máquina da Schering do Brasil, deveriam ter sido destruídos, mas foram parar no mercado.
Segundo a Ciba, todos os resíduos industriais que recebe para destruir em seu incinerador em Taboão da Serra (Grande São Paulo) passam por um teste de amostragem para impedir que sejam incinerados produtos que possam causar risco de explosão.
Nelson Zeraib, gerente de recursos humanos e comerciais da Ciba Especialidades Químicas, diz que é checada visualmente uma amostra de todas as remessas.
"Dependendo de cada caso, algumas embalagens com resíduos podem vir a ser abertas", disse. Após análise, essas embalagens são incineradas, segundo a Ciba.
Zeraib não quis comentar a hipótese de o desvio das pílulas de teste ter ocorrido na empresa. "Não vou especular", disse.
A hipótese pode ser considerada porque a Schering afirma que não picotou todas as cartelas de Microvlar de teste que mandou incinerar e que só foram recortadas previamente as cartelas vazias.
Ou seja, cartelas inteiras do produto saíram da fábrica para o incinerador em peruas Fiorino da empresa Vega Sopave, contratada da Schering para fazer o transporte do resíduo.
O gerente da Ciba afirmou que todos os resíduos industriais que a empresa recebe para incinerar são pesados duas vezes -antes e depois da amostragem.
Segundo afirmou, os resíduos da Schering dificilmente são abertos para os testes, pois seriam produtos farmacêuticos conhecidos e que a Ciba sabe que não há em meio aos resíduos produto que ofereça risco de explosão.
Mais funcionários
O delegado Sergio Abdalla disse que continuará a ouvir funcionários da Schering, porque acha que a hipótese mais provável no caso é que o desvio ou furto da Microvlar teria acontecido dentro da fábrica.
Segundo Abdalla, o objetivo da polícia, antes de tudo, é saber como a Microvlar de teste chegou ao consumidor.
Deverão ser ouvidas hoje duas vítimas do caso das pílulas de farinha. São Maria Seila Meirelles e Maria Aparecida Gonçalves, de Mauá.



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