São Paulo, quinta, 2 de julho de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Registro de lotes de remédio não permite identificar fraude

da Reportagem Local

A atual forma de classificação dos lotes de medicamentos por indústrias e distribuidores não permite que sejam identificados desvios como o que teria ocorrido com a Microvlar, cujas embalagens para testes teriam sido roubadas a caminho do incinerador.
Essa é a opinião dos distribuidores de medicamentos, que consideram o episódio um alerta para que a indústria farmacêutica comece a mudar a forma de registro e classificação de seus produtos.
A própria Vigilância Sanitária de São Paulo afirma que os atuais mecanismos não permitem saber exatamente onde estão e de onde vieram os remédios desviados, como no caso das pílulas de farinha.
A vigilância afirmou que vistoriou as notas fiscais das farmácias que teriam vendido as pílulas às mulheres que engravidaram, e as comparou com os registros dos distribuidores. Não encontrou, até agora, nenhuma irregularidade.
As notas fiscais de compra da Microvlar apresentadas por farmacêuticos informam apenas o número de caixas do medicamento compradas, mas não fornecem nenhuma identificação que facilite o rastreamento do produto.
Isso ocorre também com as notas fiscais fornecidas pelos laboratórios aos distribuidores. Notas fiscais de compra da Microvlar emitidas pela Schering ao distribuidor Audifar, por exemplo, também não fornecem identificação sobre o produto, apenas a quantidade fornecida.
Hoje, apenas o laboratório que produz o remédio controla a quantidade de produtos de cada lote que vai para cada distribuidor, mas não tem como saber em quais farmácias estão e em que quantidade.
Portaria do Ministério da Saúde de 29 de maio passado determina que as empresas responsáveis pela produção de remédios tenham o controle da movimentação dos medicamentos no mercado para que possam indicar imediatamente onde estão os remédios "nocivos à saúde" em caso de fraude.
"Se as coisas continuarem funcionando como hoje, essa portaria não vai adiantar", diz Sergio Comunale, gerente do distribuidor Panarello, que vende para duas farmácias envolvidas no caso.
Isso porque cada lote contém milhares de embalagens de medicamentos, que são vendidas a vários distribuidores, que por sua vez distribuem para centenas e até milhares de farmácias.
Em geral, cada farmácia compra de mais de um distribuidor, e pode ter medicamentos com mesmo número de lote vindos de vários distribuidores diferentes.
Na opinião de Comunale e do gerente de marketing do distribuidor Farmed, Fernando Cascaro, para que haja um esquema eficiente de rastreamento que não permita fraudes, será preciso organizar uma nova forma de registrar os produtos, com lotes menores.
"O ideal é que cada distribuidor possa receber apenas um lote. Assim, cada remédio encontrado nas farmácias teria uma única procedência", diz Cascaro.
Luís Norberto Pascoal, diretor-presidente da distribuidora K+F, diz que, no sistema de controle de sua empresa, é impossível registrar número de lote de cada pedido. "O que chega é exatamente o que os laboratórios mandam, e nós não temos controle."



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.