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POLÍCIA SOB SUSPEITA
Acusação atinge quatro ex-integrantes do Gradi, unidade policial investigada por tortura e mortes
PMs são denunciados por "sumiço" de armas
ALESSANDRO SILVA
DA REPORTAGEM LOCAL
O Ministério Público de São
Paulo denunciou cinco policiais
militares -quatro deles ex-integrantes do extinto Gradi (Grupo
de Repressão e Análise dos Delitos de Intolerância)- por suposto envolvimento no desvio de armas do arsenal do serviço de inteligência da Polícia Militar.
A Promotoria os acusa de peculato (desvio de bem público ou
particular, de que tem posse em
razão do cargo), formação de
quadrilha qualificada (bando armado) e falsa comunicação de crime. A Justiça deve decidir até segunda se aceita a denúncia.
Os cinco PMs negaram envolvimento no caso ao serem ouvidos
em inquérito policial militar.
O desaparecimento das armas
-três submetralhadoras, um fuzil e um kit de transformação de
fuzil calibre 5.56 para calibre 22-
foi descoberto no ano passado pela juíza-corregedora Ivana David
Boriero, do Dipo (Departamento
de Inquéritos Policiais), que pediu a abertura de investigação.
Enquanto ativo, de 2001 a 2002,
o Gradi recrutou condenados para infiltrá-los em quadrilhas. As
ações do grupo são investigadas
por suspeitas de tortura e mortes
-27 em cinco operações.
Com o fim da unidade, em abril,
a juíza solicitou a devolução das
51 armas apreendidas em crimes e
que estavam "emprestadas" ao
Gradi. Cinco não foram devolvidas. Segundo o inquérito, "duas
teriam desaparecido da base do
Gradi -uma submetralhadora e
o kit de transformação- e três
outras no interior de um carro
descaracterizado da PM, estacionado por 15 minutos em uma rua
da zona norte."
Conforme ocorrência do 13º DP
(Casa Verde), registrada pelo tenente Henguel Ricardo Pereira,
ex-coordenador operacional do
Gradi, e pelo sargento Rodney
Carmona, por volta das 13h20, o
carro foi aberto por um desconhecido, que levou o armamento.
Os PMs, segundo o inquérito,
haviam acabado de localizar as armas faltantes com o tenente Álvaro Inocêncio de Jesus, que não era
do Gradi e as tinha emprestado
para treinamento particular. Elas
seriam devolvidas ao tenente-coronel Roberto Mantovan, ex-comandante do Gradi, que acabara
de ser notificado pelo Dipo.
Nos 15 minutos em que o carro
ficou sozinho, os policiais disseram ter feito um "lanche" em uma
padaria a cem metros dali, na esquina do prédio de Mantovan. O
suposto crime ocorreu em uma
rua com um único registro de furto em interior de veículo em quase dois anos -o informado por
eles-, segundo informações da
Secretaria da Segurança Pública.
À noite, o tenente voltou ao 13º
DP e acrescentou um fuzil marca
Lugger à lista de duas submetralhadoras que teriam sido levadas
-exatamente as três armas que
faltava entregar ao Dipo.
De acordo com a Promotoria,
os acusados "simularam a ocorrência de furto" para acobertar o
desvio das armas, que "podem ter
sido" ou "ainda estão sendo usadas" em ações criminosas".
Henguel, Carmona, Mantovan,
Álvaro e o major Rafael de Albuquerque Pereira, que comandou o
Gradi no início, estão na denúncia. Consta do relatório final de
investigação da PM anexado ao
processo que, em relação a armas
de maior potencial, como carabinas, metralhadoras e fuzis, "ficou
patente que não havia praticamente nenhum controle de retirada ou de devolução". O documento sugere punições internas a
Mantovan e Henguel, os últimos
responsáveis por elas.
Na denúncia, a Promotoria pede a prisão preventiva dos cinco,
que será analisada na segunda.
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