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São Paulo, sábado, 02 de agosto de 2003

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POLÍCIA SOB SUSPEITA

Acusação atinge quatro ex-integrantes do Gradi, unidade policial investigada por tortura e mortes

PMs são denunciados por "sumiço" de armas

ALESSANDRO SILVA
DA REPORTAGEM LOCAL

O Ministério Público de São Paulo denunciou cinco policiais militares -quatro deles ex-integrantes do extinto Gradi (Grupo de Repressão e Análise dos Delitos de Intolerância)- por suposto envolvimento no desvio de armas do arsenal do serviço de inteligência da Polícia Militar.
A Promotoria os acusa de peculato (desvio de bem público ou particular, de que tem posse em razão do cargo), formação de quadrilha qualificada (bando armado) e falsa comunicação de crime. A Justiça deve decidir até segunda se aceita a denúncia.
Os cinco PMs negaram envolvimento no caso ao serem ouvidos em inquérito policial militar.
O desaparecimento das armas -três submetralhadoras, um fuzil e um kit de transformação de fuzil calibre 5.56 para calibre 22- foi descoberto no ano passado pela juíza-corregedora Ivana David Boriero, do Dipo (Departamento de Inquéritos Policiais), que pediu a abertura de investigação.
Enquanto ativo, de 2001 a 2002, o Gradi recrutou condenados para infiltrá-los em quadrilhas. As ações do grupo são investigadas por suspeitas de tortura e mortes -27 em cinco operações.
Com o fim da unidade, em abril, a juíza solicitou a devolução das 51 armas apreendidas em crimes e que estavam "emprestadas" ao Gradi. Cinco não foram devolvidas. Segundo o inquérito, "duas teriam desaparecido da base do Gradi -uma submetralhadora e o kit de transformação- e três outras no interior de um carro descaracterizado da PM, estacionado por 15 minutos em uma rua da zona norte."
Conforme ocorrência do 13º DP (Casa Verde), registrada pelo tenente Henguel Ricardo Pereira, ex-coordenador operacional do Gradi, e pelo sargento Rodney Carmona, por volta das 13h20, o carro foi aberto por um desconhecido, que levou o armamento.
Os PMs, segundo o inquérito, haviam acabado de localizar as armas faltantes com o tenente Álvaro Inocêncio de Jesus, que não era do Gradi e as tinha emprestado para treinamento particular. Elas seriam devolvidas ao tenente-coronel Roberto Mantovan, ex-comandante do Gradi, que acabara de ser notificado pelo Dipo.
Nos 15 minutos em que o carro ficou sozinho, os policiais disseram ter feito um "lanche" em uma padaria a cem metros dali, na esquina do prédio de Mantovan. O suposto crime ocorreu em uma rua com um único registro de furto em interior de veículo em quase dois anos -o informado por eles-, segundo informações da Secretaria da Segurança Pública.
À noite, o tenente voltou ao 13º DP e acrescentou um fuzil marca Lugger à lista de duas submetralhadoras que teriam sido levadas -exatamente as três armas que faltava entregar ao Dipo.
De acordo com a Promotoria, os acusados "simularam a ocorrência de furto" para acobertar o desvio das armas, que "podem ter sido" ou "ainda estão sendo usadas" em ações criminosas".
Henguel, Carmona, Mantovan, Álvaro e o major Rafael de Albuquerque Pereira, que comandou o Gradi no início, estão na denúncia. Consta do relatório final de investigação da PM anexado ao processo que, em relação a armas de maior potencial, como carabinas, metralhadoras e fuzis, "ficou patente que não havia praticamente nenhum controle de retirada ou de devolução". O documento sugere punições internas a Mantovan e Henguel, os últimos responsáveis por elas.
Na denúncia, a Promotoria pede a prisão preventiva dos cinco, que será analisada na segunda.


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