São Paulo, segunda-feira, 02 de agosto de 2004

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SEGURANÇA

Antes de conseguir a libertação do filho, em junho, empresário havia vivenciado dois seqüestros de pessoas próximas

Até laptop é usado em pagamento de resgate

DA REPORTAGEM LOCAL

A negociação começou com US$ 50 mil. Baixou para US$ 10 mil e depois para US$ 5.000. No final, ficou em US$ 3.400 em dinheiro, um laptop -emprestado de última hora por um amigo-, um telefone celular e até um relógio de pulso comum.
Foi com isso que o empresário Eduardo Homem de Mello, 49, pagou pela liberdade de seu filho. Foram sete horas de agonia do seqüestro até a libertação. "É o chefe da família que tem o poder de entregar o que eles [os seqüestradores] querem. Por isso pegam os filhos, a mulher", avalia Mello.
O seqüestro do jovem, ocorrido no dia 16 de junho passado, serviu de alerta para o empresário. Depois do episódio, ele mandou blindar os carros dos filhos.
"Eu sempre os orientei a não reagir, entregar os cartões bancários nos casos de seqüestro relâmpago. Mas, no seqüestro mesmo, a coisa é mais grave. A ordem agora é passar por cima", disse Mello.
O filho do empresário foi pego por dois homens armados quando diminuiu a velocidade do carro em uma esquina.
Ao receber o telefonema do filho, que anunciava o seqüestro, Mello foi logo atormentado por lembranças recentes. Era a terceira vez que ele vivenciava o drama de ter alguém próximo seqüestrado. Dois anos antes, o empresário havia negociado a libertação de um amigo. O seqüestro durou 34 dias.
Quando teve o filho capturado, o empresário ainda se recuperava do drama de outro seqüestro, encerrado na semana anterior. A filha de um amigo, uma estudante -assim como o filho de Mello- de 18 anos, havia ficado 26 dias em cativeiro.
"Quando meu filho ligou, pensei logo em um seqüestro longo. Mas me tranqüilizei, se é que eu posso dizer isso, quando percebi que eles queriam dinheiro rápido e resolver logo a questão", afirma o empresário.
Mas Mello diz que as experiências nos seqüestros anteriores pouco serviram. "Eu não dei mais dinheiro porque não tinha. Quando envolve o filho da gente, é bem diferente", afirma.
O empresário diz acreditar que a escolha de seu filho foi aleatória. Mas os criminosos, desde o início, planejavam um seqüestro, tanto que nem se preocuparam em pedir cartões bancários.
Os seqüestradores não tinham informações sobre os bens do empresário. Foi o próprio filho, pressionado, quem falou para os criminosos que o pai tinha um computador portátil.
"Quero o seu laptop também", disse o seqüestrador ao telefone, segundo Mello. "Mas eu tinha dado para minha mulher. A solução foi pedir um laptop emprestado, limpar os arquivos e entregar", afirmou.
Orientado pelo celular, Mello foi ao local marcado pelos seqüestradores. Entregou o dinheiro, o laptop, seu relógio de pulso e até o celular em que fazia a negociação para um menino em um ponto de ônibus. Só recebeu o telefonema do filho quatro horas depois. "Você não imagina a agonia que eu passei nessas horas."
Dias depois, o filho do empresário reconheceu um dos seqüestradores em um shopping da zona sul de São Paulo. O criminoso caminhava normalmente quando também reconheceu sua vítima e apressou o passo. O jovem acionou a segurança do local e o criminoso foi preso.
Segundo o empresário, o seqüestrador provavelmente estaria indo a uma loja para trocar a pulseira do relógio de seu filho, que estava quebrada. Um das lojas do shopping vende a marca do relógio roubado que estava com o criminoso quando ele foi preso.
(GILMAR PENTEADO)


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