São Paulo, segunda-feira, 02 de agosto de 2004

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Desinformação sobre vítimas é comum, diz polícia

DA REPORTAGEM LOCAL

O seqüestro do filho do empresário Eduardo Homem de Mello preenche quase todas as características do padrão de casos ocorridos principalmente no segundo trimestre deste ano, de acordo com a DAS (Divisão Anti-Sequestro), unidade da Polícia Civil.
Segundo o delegado Wagner Giudice, diretor da DAS, em 90% dos casos, os seqüestradores têm pouca ou nenhuma informação sobre suas vítimas. Em pelo menos 50% dos registros, a escolha é aleatória e determinada pela aparência da vítima.
É o refém, já no cativeiro, que dá detalhes sobre a vida financeira da família, segundo o delegado. "O seqüestrador pergunta no cativeiro: "que carro tem na sua casa?". E depois liga para a família e diz para vender aquele carro. A família fala: "eles sabem tudo da gente". Sabem nada. Quem falou foi a própria vítima", diz.
Segundo Giudice, houve um período atípico no segundo trimestre deste ano, quando foram registrados 33 casos de seqüestro no Estado, contra 22 no trimestre anterior. No segundo trimestre de 2003, foram 29 casos. Na comparação dos primeiros seis meses, a tendência ainda é de redução: 55 neste ano contra 59 em 2003.
"Os 14 casos do primeiro trimestre têm muito mais cara de seqüestro tradicional do que os 21 do segundo trimestre", diz o delegado, referindo-se aos dados apenas da capital paulista.
O delegado afirma que a maioria dos casos verificados no segundo trimestre é de seqüestros com resgates de pequeno valor e resolvidos rapidamente.
"O que enche as estatísticas são esses pequenininhos. Existem certos tipos de seqüestro que são as coisas mais absurdas do mundo. Resgate de R$ 700. Flanelinha seqüestrado, cara que vende chiclete no farol. O seqüestrador pega resgate menor, com acertos mais rápidos", diz.
Giudice também cita que, nos últimos três meses, ocorreram quatro ou cinco casos de roubo a residência nos quais os ladrões acabaram levando alguém da família para conseguir mais dinheiro. "Isso era uma coisa rara de acontecer na capital", diz.
Em relação ao perfil das vítimas, Giudice diz que a DAS não faz detalhamento por ocupação e não quis comentar o levantamento de boletins de ocorrência que apontou que 25% são estudantes.
"A maioria das vítimas é homem, maior de idade. Não dá para dizer se é o chefe da família ou não. Esse tipo de conta eu não fiz ainda", afirma.
Apesar disso, o diretor da DAS diz não ter percebido mudanças em relação a esse perfil. "Não poderia dizer com certeza, mas é uma tendência que sempre houve. O mais óbvio para o seqüestrador, pelo menos para o que pensa um pouco sobre o seqüestro, não é pegar quem tem dinheiro, mas alguém querido para quem tem o dinheiro", diz o delegado.
Giudice afirma que o seqüestro de criança é muito raro e admite que o de adolescentes e de jovens é mais freqüente. (GP)


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