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Igrejas cobram para fotógrafo poder trabalhar
Profissionais são obrigados a se cadastrar e a pagar para atuar em casamentos; os valores chegam a R$ 800 e, às vezes, são registrados como doações
AFRA BALAZINA
DA REPORTAGEM LOCAL
CÍNTIA ACAYABA
THIAGO REIS
DA AGÊNCIA FOLHA
As igrejas mais procuradas
pelos noivos em São Paulo são o
pesadelo dos prestadores de
serviços de casamento. Além de
cobrar taxas salgadas, também
exigem pagamento de R$ 50 a
R$ 800 de fotógrafos, videomakers, floriculturas e corais.
Muitas vezes, a contragosto dos
profissionais, as igrejas emitem
recibos de doação -como se
fosse pagamento espontâneo.
Algumas não se limitam à cobrança. Também proíbem que
empresas ou pessoas não cadastradas trabalhem no local.
Na Nossa Senhora do Brasil
(zona oeste da capital paulista),
onde a "fila de espera" dos noivos é de cerca de um ano para
casamentos aos sábados, a taxa
para profissionais cadastrados
é R$ 200 e, para não-cadastrados, de R$ 600 a R$ 800.
Na Catedral Ortodoxa (Paraíso) e nas igrejas Perpétuo
Socorro (Jardim Paulistano) e
São Pedro São Paulo (Morumbi), por exemplo, os profissionais passam por uma avaliação
do conselho administrativo,
que aprova o credenciamento.
"Na semana passada, toquei
na Ortodoxa porque um noivo
me pediu. Durante a semana,
me ligaram dando sermão e falando que eu tinha de pagar
uma taxa. Pediram para eu
acertar até sexta, se não ia ficar
malvisto", diz Sidney Lima, integrante do Coral Mozart.
Em outra igreja paulistana, a
fotógrafa Luciana Cattani precisou se disfarçar de convidada
para registrar um casamento.
"E se a noiva tiver amigos ou
parentes que são fotógrafos e
querem dar isso de presente de
casamento? ", indaga Luciana.
Para driblar essa proibição,
muitos entram nas igrejas fingindo fazer parte de uma das
equipes cadastradas -e pagam
um percentual para o grupo
que cedeu o nome.
Para conseguir se cadastrar
na Perpétuo Socorro, um videomaker que preferiu não se
identificar conta que teve de insistir por alguns anos e pagar
R$ 5.000. Como faz cerca de
cinco casamentos por semana,
calcula gastar R$ 48 mil por ano
só com taxas nas igrejas (sem
contar os valores pagos anualmente). "Mas aderi ao sistema
porque estava perdendo muitos eventos", conta.
Na Cruz Torta, em Pinheiros,
o preço é de R$ 100 para pessoas registradas e R$ 800 para
os de fora. Já a igreja São José,
no Jardim Europa, afirma que
"os profissionais que prestarão
serviço na igreja deverão contribuir com uma taxa, que reverterá em prol das obras assistenciais". O valor é R$ 200.
Os fornecedores não-cadastrados também afirmam sofrer
também com a propaganda negativa feita por padres e funcionários das igrejas. "Eles fazem
terrorismo, dizem que os profissionais escolhidos pelo casal
são ruins ou que não vão deixá-los entrar. Uma vez, uma noiva
que já tinha fechado contrato
me ligou chorando por causa
disso", afirma o fotógrafo Beto
Riginik, há dez anos no ramo.
Os noivos também reclamam, já que o valor cobrado pela igreja acaba sendo repassado
nos orçamentos. A advogada
Juliana Herweg, 28, se arrependeu de se casar na Perpétuo
Socorro.
"Foi um estresse muito grande. Perto do casamento, me
pressionaram para dizer quem
ia fazer os serviços de foto e vídeo. Falei o nome de uma empresa qualquer, eles ligaram
para confirmar, e a empresa negou. Aí, começaram a me telefonar e fazer ameaças", afirma.
Ela pagou R$ 900 para usar a
igreja e mais R$ 360 de taxa de
foto e vídeo.
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