São Paulo, segunda-feira, 02 de outubro de 2000

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Incêndio na zona norte também gerou confronto

DA SUCURSAL DO RIO


O confronto entre moradores e a polícia ontem em Bonsucesso (zona norte) foi o segundo do final de semana no Rio de Janeiro. Na manhã de sábado, após um incêndio na favela Mandela de Pedra, em Manguinhos, também na zona norte, cerca de 250 moradores protestaram fechando ruas com objetos em chamas para chamar a atenção das autoridades.
No embate com a polícia, cinco pessoas ficaram feridas. Os moradores acusaram policiais militares de violência. Pelo menos três bombas de efeito moral (que fazem apenas barulho e fumaça) foram usadas.
Entre os feridos, um adolescente de 16 anos, que participava da manifestação, foi atropelado e teve ferimentos no pé.
A estimativa de que havia 250 manifestantes no protesto foi feita pela PM. Para a associação de moradores, havia cerca de mil.
"A gente foi lá protestar para todo mundo ver o que estava acontecendo aqui", disse um morador, que preferiu não se identificar, temendo represálias.

Isolamento
O incêndio não deixou vítimas, mas destruiu totalmente cerca de 50 barracos, desabrigando 72 famílias. As casas incendiadas ocupavam uma pequena faixa de terreno às margens de um rio negro de poluição. As casas terminavam onde a água poluída começava.
Na manhã de ontem, crianças descalças e famílias desorientadas ainda circulavam sobre as cinzas da área atingida, apesar do isolamento feito pela Defesa Civil Municipal.

Curto-circuito
O incêndio, que, segundo peritos, deve ter sido causado por um curto-circuito na rede elétrica, começou por volta das 4h de sábado. As chamas atingiram rapidamente as casas de madeira. Os bombeiros só conseguiram controlar o fogo cerca de duas horas depois.
"Perdi tudo. Inclusive minha máquina de costura, que era meu ganha-pão. É tudo muito triste", disse a costureira Tânia Maria do Nascimento dos Santos, 39, que morava numa casa de três cômodos com seus dois filhos.
Sua vizinha, Elenice Alves Oliveira, 38, estava desolada e com medo do choque que o marido levará ao voltar de viagem. "O barraco dela era enorme, tinha cinco cômodos", comentou Tânia.

Projeto
A Secretaria de Ação Social informou que providenciaria abrigo para as pessoas que perderam suas casas.
Segundo informações do vice-prefeito da Leopoldina, Leonan Estrella Figueiredo, a prefeitura tem um projeto para substituir os barracos da área, extremamente carente, por um conjunto habitacional, cujas obras deverão ter início no próximo ano.
Segundo Figueiredo, estão faltando os acertos finais do financiamento, que contará também com recursos da Caixa Econômica Federal.


Texto Anterior: Violência: Tiroteio em favela provoca protesto no Rio
Próximo Texto: São Paulo: Famílias se recusam a deixar viaduto
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.