São Paulo, sábado, 02 de outubro de 2004

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ARQUITETURA DA DISCÓRDIA

Edifício destoa do centro histórico

Em Salvador, juiz manda demolir prédio que abriga a prefeitura

Rejane Carneiro/Agência A Tarde
Prédio da prefeitura; para juiz, é incompatível com o centro


LUIZ FRANCISCO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SALVADOR

Construído no mesmo local onde funcionou o primeiro núcleo administrativo do Brasil, o prédio que abriga a Prefeitura de Salvador deverá ser demolido, de acordo com a sentença do juiz João Batista de Castro Júnior, da 7ª Vara da Justiça Federal. A administração municipal já recorreu.
A medida é conseqüência de uma ação civil pública promovida pelo procurador João Bosco de Araújo Fontes. No entendimento dele, o prédio, construído há 18 anos, fere o conjunto arquitetônico, paisagístico e urbanístico do centro histórico. Erguido em apenas 14 dias, fica na praça da Sé, em frente à Câmara e ao Elevador Lacerda, atrações turísticas.
A estrutura, metálica e colorida (amarelo, vermelho, azul, verde e branco), tem amplas janelas de vidro com vista para a baía de Todos os Santos. No local funcionam o gabinete do prefeito Antonio Imbassahy (PFL) e as secretarias de Governo e de Comunicação Social. O piso é de madeira, assim como as divisórias.
Em sua sentença, já publicada no "Diário do Poder Judiciário", o juiz estabelece um prazo máximo de seis meses para que técnicos da prefeitura façam a demolição. Se o prazo não for cumprido, a prefeitura deverá pagar uma multa diária de R$ 100 mil.
Responsável pela construção do prédio e prefeito de Salvador por duas vezes, Mário Kertész, 60, criticou a decisão. "O julgamento estético do juiz está completamente equivocado. Não dá para ninguém construir um prédio velho em pleno final do século 20."
Na sentença, o juiz escreveu que não existe nenhuma justificativa "razoável e jurídica" para a prefeitura funcionar no local.
Principal atração turística de Salvador e tombado pela Unesco (órgão da ONU) como patrimônio da humanidade, o centro histórico de Salvador tem cerca de 3.000 casarões dos séculos 16 a 18.
Ontem à tarde, o procurador-geral da Prefeitura de Salvador, Graciliano Bonfim, encaminhou para o Tribunal Regional Federal da 1ª Região (Brasília) o recurso contra a sentença.
Para Bonfim, a construção não agride a arquitetura centenária do Pelourinho. "Existem convivências harmônicas em todo o mundo, e ninguém reclama. Posso citar a pirâmide no paço do Museu do Louvre e a Torre Eiffel, o principal cartão-postal de Paris."


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