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Schering foi alertada sobre Androcur falso
CARLA CONTE
da Reportagem Local
A direção da Schering do Brasil
sabia de uma encomenda clandestina de embalagens, rótulos e bulas de Androcur, que posteriormente foram usados para colocar
no mercado lote falso do remédio.
O alerta foi feito por um gerente
da empresa, em setembro de 97
-três meses antes que o derrame
da falsificação fosse descoberto.
O lote 351 do Androcur foi falsificado e colocado no mercado em
vários Estados do país. O medicamento falso pode ter acelerado a
morte de pelo menos dez pacientes que faziam tratamento contra
câncer de próstata.
Segundo o ex-gerente de vendas
da empresa, Léo Mauro Conti, ele
recebeu um telefonema da gráfica
Jocean em setembro do ano passado. Foi nessa gráfica que o corretor de remédios Élcio Ferreira da
Silva, preso sob acusação de participar da fraude, encomendou os
rótulos se passando por representante do laboratório.
O funcionário da gráfica que ligou à Schering procurou a empresa por causa do não-pagamento de
uma encomenda já entregue.
Segundo Conti, ele anotou algumas informações passadas pelo
funcionário da gráfica sobre o pedido. Após o telefonema, o ex-gerente comunicou um diretor da
Schering sobre o telefonema e a
encomenda (leia texto ao lado).
O ex-gerente prestou ontem depoimento à polícia de Santo André, que investiga o caso do Androcur falso. Conti saiu da empresa há três meses por ter pedido a
aposentadoria, segundo informações da polícia.
De acordo com o delegado
Guerdson Ferreira, que apura o
caso, a entrega à polícia do papel
com as anotações do ex-gerente
ocorreu apenas no mês passado e
por um acaso.
Segundo o delegado, em setembro ele solicitou documentos sobre o roubo e a recuperação de
uma carga de medicamento da
Schering, ocorridos em 96.
A carga continha a substância
principal para fazer o remédio Androcur (acetado de ciproterona).
A Schering levantou os documentos, que provam que o material
roubado foi totalmente recuperado, e com eles estava anexado o
papel com as anotações de Conti.
De acordo com as informações
do ex-gerente, a direção da empresa ficou ciente de que havia sido feita a encomenda, mas não
procurou a polícia.
Inquérito
O delegado Guerdson Ferreira
deve entregar hoje ao juiz Iasin Issa Ahmed, da 1º Vara Criminal de
Santo André, a conclusão dos autos complementares do inquérito
sobre o caso do Androcur. Parte
do inquérito já havia sido entregue
e relatava principalmente a ação
dos distribuidores do Androcur.
O juiz Ahmed abriu processo
criminal contra 14 envolvidos na
distribuição do remédio falso e
decretou a prisão preventiva de
nove pessoas ligadas ao caso.
Nos autos adicionais aparece a
participação direta do ex-sócio da
Botica ao Veado D'Ouro, Ricardo
Garcia, que teria autorizado a fabricação na empresa de comprimidos sem princípio ativo, depois
vendidos como Androcur.
Também constam os atuais sócios Daniel Derkatscheff Vera e
Edgar Helbig, que afirmam que
não sabiam que o placebo seria
distribuído como Androcur falso.
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