São Paulo, sexta, 2 de outubro de 1998

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Schering foi alertada sobre Androcur falso

CARLA CONTE
da Reportagem Local

A direção da Schering do Brasil sabia de uma encomenda clandestina de embalagens, rótulos e bulas de Androcur, que posteriormente foram usados para colocar no mercado lote falso do remédio.
O alerta foi feito por um gerente da empresa, em setembro de 97 -três meses antes que o derrame da falsificação fosse descoberto.
O lote 351 do Androcur foi falsificado e colocado no mercado em vários Estados do país. O medicamento falso pode ter acelerado a morte de pelo menos dez pacientes que faziam tratamento contra câncer de próstata.
Segundo o ex-gerente de vendas da empresa, Léo Mauro Conti, ele recebeu um telefonema da gráfica Jocean em setembro do ano passado. Foi nessa gráfica que o corretor de remédios Élcio Ferreira da Silva, preso sob acusação de participar da fraude, encomendou os rótulos se passando por representante do laboratório.
O funcionário da gráfica que ligou à Schering procurou a empresa por causa do não-pagamento de uma encomenda já entregue.
Segundo Conti, ele anotou algumas informações passadas pelo funcionário da gráfica sobre o pedido. Após o telefonema, o ex-gerente comunicou um diretor da Schering sobre o telefonema e a encomenda (leia texto ao lado).
O ex-gerente prestou ontem depoimento à polícia de Santo André, que investiga o caso do Androcur falso. Conti saiu da empresa há três meses por ter pedido a aposentadoria, segundo informações da polícia.
De acordo com o delegado Guerdson Ferreira, que apura o caso, a entrega à polícia do papel com as anotações do ex-gerente ocorreu apenas no mês passado e por um acaso.
Segundo o delegado, em setembro ele solicitou documentos sobre o roubo e a recuperação de uma carga de medicamento da Schering, ocorridos em 96.
A carga continha a substância principal para fazer o remédio Androcur (acetado de ciproterona). A Schering levantou os documentos, que provam que o material roubado foi totalmente recuperado, e com eles estava anexado o papel com as anotações de Conti.
De acordo com as informações do ex-gerente, a direção da empresa ficou ciente de que havia sido feita a encomenda, mas não procurou a polícia.

Inquérito
O delegado Guerdson Ferreira deve entregar hoje ao juiz Iasin Issa Ahmed, da 1º Vara Criminal de Santo André, a conclusão dos autos complementares do inquérito sobre o caso do Androcur. Parte do inquérito já havia sido entregue e relatava principalmente a ação dos distribuidores do Androcur.
O juiz Ahmed abriu processo criminal contra 14 envolvidos na distribuição do remédio falso e decretou a prisão preventiva de nove pessoas ligadas ao caso.
Nos autos adicionais aparece a participação direta do ex-sócio da Botica ao Veado D'Ouro, Ricardo Garcia, que teria autorizado a fabricação na empresa de comprimidos sem princípio ativo, depois vendidos como Androcur.
Também constam os atuais sócios Daniel Derkatscheff Vera e Edgar Helbig, que afirmam que não sabiam que o placebo seria distribuído como Androcur falso.



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