São Paulo, Quinta-feira, 02 de Dezembro de 1999


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Recuo deve ser analisado com cuidado

AURELIANO BIANCARELLI
da Reportagem Local

A notícia de que a Aids poderia estar recuando entre os jovens carece de cuidadosa interpretação. Os casos são notificados quando a pessoa cai doente com Aids. Em geral, a doença se manifesta seis a dez anos depois da ocorrência da infecção.
Em 1991 foram registrados 4,4 novos casos de Aids a cada 100 mil habitantes na população de 15 a 19 anos. Em 1996, esse número caiu para 2. Vista por esse ângulo, trata-se de boa notícia.
Boa, mas velha. Porque os casos notificados em 96 remetem a infecções ocorridas entre 88 e 90. Vivíamos, naqueles anos, um dos períodos mais dramáticos e assustadores da doença. Enquanto muitos dos nossos conhecidos e ídolos da música e da TV se definhavam e morriam, o mundo nem sonhava com o coquetel. Eram os anos dos heróis mortos.
Portanto, uma das possíveis causas da redução seria a consciência de que a doença era uma ameaça cada vez mais próxima e que pesava sobre todos. Já os que adoeceram em 91, se infectaram nos primeiros anos da década de 80, quando a Aids nem nome tinha.
Por essas razões, a comparação entre esses dois anos de referência -91 e 96- é apenas uma fotografia amarelecida. Não há nenhum indicador de que as pessoas estariam se protegendo melhor e as infecções caindo. Pelo contrário, alguns serviços vêm observando crescimento no número de contaminações recentes.
A Aids pode não ser mais uma doença fatal, mas permanece incurável. O desafio está agora em substituir heróis mortos por heróis vivos.



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