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Recuo deve ser analisado com cuidado
AURELIANO BIANCARELLI
da Reportagem Local
A notícia de que a Aids poderia estar recuando entre os
jovens carece de cuidadosa
interpretação. Os casos são
notificados quando a pessoa
cai doente com Aids. Em geral, a doença se manifesta
seis a dez anos depois da
ocorrência da infecção.
Em 1991 foram registrados
4,4 novos casos de Aids a cada 100 mil habitantes na população de 15 a 19 anos. Em
1996, esse número caiu para
2. Vista por esse ângulo, trata-se de boa notícia.
Boa, mas velha. Porque os
casos notificados em 96 remetem a infecções ocorridas
entre 88 e 90. Vivíamos, naqueles anos, um dos períodos mais dramáticos e assustadores da doença. Enquanto muitos dos nossos conhecidos e ídolos da música e da
TV se definhavam e morriam, o mundo nem sonhava com o coquetel. Eram os
anos dos heróis mortos.
Portanto, uma das possíveis causas da redução seria
a consciência de que a doença era uma ameaça cada vez
mais próxima e que pesava
sobre todos. Já os que adoeceram em 91, se infectaram
nos primeiros anos da década de 80, quando a Aids nem
nome tinha.
Por essas razões, a comparação entre esses dois anos
de referência -91 e 96- é
apenas uma fotografia amarelecida. Não há nenhum indicador de que as pessoas estariam se protegendo melhor e as infecções caindo.
Pelo contrário, alguns serviços vêm observando crescimento no número de contaminações recentes.
A Aids pode não ser mais
uma doença fatal, mas permanece incurável. O desafio
está agora em substituir heróis mortos por heróis vivos.
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