São Paulo, Quinta-feira, 02 de Dezembro de 1999


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Os responsáveis pela maior investigação já feita sobre a corrupção em SP afirmam que a máfia da propina continua agindo e deve aumentar sua atuação no ano que vem, devido à eleição. A apuração completa um ano com 100 pessoas presas e 3 parlamentares cassados
Eleição deve reaquecer ação da máfia da propina em SP

OTÁVIO CABRAL
da Reportagem Local

Um ano de investigação, 88 inquéritos policiais, uma CPI, 100 pessoas presas, mais de 200 indiciadas e 3 parlamentares cassados. Nada disso foi suficiente para acabar com o esquema de corrupção na administração pública paulistana.
A ameaça atual à máquina administrativa e ao bolso do contribuinte é a eleição municipal do próximo ano. Vereadores, Polícia Civil e Ministério Público temem que a "rapinagem final" do último ano de mandato e a campanha de reeleição reaqueçam os esquemas de corrupção e causem mais prejuízo aos cofres públicos.
Hoje, 2 de dezembro, é um dia símbolo para o combate à corrupção na administração paulistana. Há exatamente um ano, Marco Antônio Zeppini, fiscal da Administração Regional de Pinheiros, era preso na rua Augusta tentando extorquir R$ 20 mil da comerciante Soraia Patrícia da Silva.
O dinheiro era exigido por Zeppini para que a regional autorizasse o funcionamento da academia de ginástica de Soraia.
Desde então, os personagens da história tomaram rumos diferentes. Soraia criou uma ONG para combater a corrupção. Zeppini cumpre pena de prisão pelo crime. Mas o caso, apesar de ter evidenciado o problema, não foi suficiente para acabar com a corrupção pública em São Paulo.
O promotor José Carlos Blat, um dos responsáveis pela investigação, acredita que ainda terá muito trabalho pela frente. Além de o esquema de corrupção nas regionais continuar em ação, ele aponta a eleição como um impulso a novos casos de corrupção.
"Quem quer se reeleger vai buscar esquemas para financiar a campanha. Quem não tem chance vai aproveitar o último ano para ganhar dinheiro."
Blat teme ainda uma enxurrada de acusações. Para ele, a disputa eleitoral deve gerar denúncias falsas entre candidatos. "Teremos trabalho para separar informação de contra-informação."
Prevendo um aumento nas investigações, o Gaeco (Grupo de Atuação Especial Sobre o Crime Organizado), grupo ao qual Blat é ligado, já pediu um reforço ao Ministério Público. A mesma medida deve ser tomada pelo Dird (Departamento de Investigações e Registros Diversos), órgão da Polícia Civil responsável pela investigação da máfia da propina.
O temor do Ministério Público e da polícia é compartilhado por vereadores que fazem oposição ao prefeito Celso Pitta. José Eduardo Cardozo (PT), presidente da extinta CPI da máfia da propina, considera que a cassação de três parlamentares e a prisão de vários assessores políticos foi um passo importante, mas não suficiente para "fechar a torneira de corrupção em São Paulo".
"Em uma estrutura de crime organizado, você corta uma parte e o tecido regenera com mais profissionalismo", exemplifica. "Por isso, o governo municipal vai viver a maior fase de rapinagem de todo o mandato", opina ele.
Cardozo considera que o projeto de criação de pedágios nas marginais é um exemplo de que o prefeito pretende "esvaziar os cofres" no último ano de mandato.
Para Pitta, entretanto, não há chance de a corrupção voltar, pois seu governo, diz o prefeito, tomou todas as providências possíveis para combatê-la. A principal medida, afirma, foi o fim da divisão das administrações regionais entre os vereadores.
Mas um governista contradiz a afirmação do prefeito.
Segundo ele, após um período de contenção, a administração voltou a ser loteada. Os vereadores continuam indicando cabos eleitorais para cargos de confiança da prefeitura.


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