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Os responsáveis pela maior investigação já feita sobre a corrupção em SP afirmam que a máfia da propina continua agindo e deve aumentar sua atuação no ano que vem, devido à eleição. A apuração completa um ano com 100 pessoas presas e 3 parlamentares cassados
Eleição deve reaquecer ação da máfia da propina em SP
OTÁVIO CABRAL
da Reportagem Local
Um ano de investigação, 88 inquéritos policiais, uma
CPI, 100 pessoas
presas, mais de 200
indiciadas e 3 parlamentares cassados. Nada disso foi
suficiente para acabar com o esquema de corrupção na administração pública paulistana.
A ameaça atual à máquina administrativa e ao bolso do contribuinte é a eleição municipal do
próximo ano. Vereadores, Polícia
Civil e Ministério Público temem
que a "rapinagem final" do último ano de mandato e a campanha de reeleição reaqueçam os esquemas de corrupção e causem
mais prejuízo aos cofres públicos.
Hoje, 2 de dezembro, é um dia
símbolo para o combate à corrupção na administração paulistana.
Há exatamente um ano, Marco
Antônio Zeppini, fiscal da Administração Regional de Pinheiros,
era preso na rua Augusta tentando extorquir R$ 20 mil da comerciante Soraia Patrícia da Silva.
O dinheiro era exigido por Zeppini para que a regional autorizasse o funcionamento da academia
de ginástica de Soraia.
Desde então, os personagens da
história tomaram rumos diferentes. Soraia criou uma ONG para
combater a corrupção. Zeppini
cumpre pena de prisão pelo crime. Mas o caso, apesar de ter evidenciado o problema, não foi suficiente para acabar com a corrupção pública em São Paulo.
O promotor José Carlos Blat,
um dos responsáveis pela investigação, acredita que ainda terá
muito trabalho pela frente. Além
de o esquema de corrupção nas
regionais continuar em ação, ele
aponta a eleição como um impulso a novos casos de corrupção.
"Quem quer se reeleger vai buscar esquemas para financiar a
campanha. Quem não tem chance vai aproveitar o último ano para ganhar dinheiro."
Blat teme ainda uma enxurrada
de acusações. Para ele, a disputa
eleitoral deve gerar denúncias falsas entre candidatos. "Teremos
trabalho para separar informação
de contra-informação."
Prevendo um aumento nas investigações, o Gaeco (Grupo de
Atuação Especial Sobre o Crime
Organizado), grupo ao qual Blat é
ligado, já pediu um reforço ao Ministério Público. A mesma medida deve ser tomada pelo Dird
(Departamento de Investigações
e Registros Diversos), órgão da
Polícia Civil responsável pela investigação da máfia da propina.
O temor do Ministério Público e
da polícia é compartilhado por
vereadores que fazem oposição
ao prefeito Celso Pitta. José
Eduardo Cardozo (PT), presidente da extinta CPI da máfia da propina, considera que a cassação de
três parlamentares e a prisão de
vários assessores políticos foi um
passo importante, mas não suficiente para "fechar a torneira de
corrupção em São Paulo".
"Em uma estrutura de crime organizado, você corta uma parte e
o tecido regenera com mais profissionalismo", exemplifica. "Por
isso, o governo municipal vai viver a maior fase de rapinagem de
todo o mandato", opina ele.
Cardozo considera que o projeto de criação de pedágios nas
marginais é um exemplo de que o
prefeito pretende "esvaziar os cofres" no último ano de mandato.
Para Pitta, entretanto, não há
chance de a corrupção voltar, pois
seu governo, diz o prefeito, tomou todas as providências possíveis para combatê-la. A principal
medida, afirma, foi o fim da divisão das administrações regionais
entre os vereadores.
Mas um governista contradiz a
afirmação do prefeito.
Segundo ele, após um período
de contenção, a administração
voltou a ser loteada. Os vereadores continuam indicando cabos
eleitorais para cargos de confiança da prefeitura.
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