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Impunidade e fiscalização falha alimentam corrupção
da Reportagem Local
A impunidade e a
falta de esquemas
confiáveis de fiscalização são as principais razões para a
continuidade do esquema de corrupção na administração pública paulistana.
Na opinião do promotor José
Carlos Blat, um dos responsáveis
pela investigação, a corrupção só
deixou de existir ostensivamente
enquanto a CPI e a ação do Ministério Público eram o foco das
atenções da mídia e da sociedade.
"Foi só o holofote sair de cima
para os agentes municipais voltarem a cobrar propina como antes", opina Blat. "E como em todo
esquema de crime organizado, a
reação provoca o surgimento de
métodos mais sofisticados de corrupção, tornando o combate cada
vez mais difícil."
Segundo ele, um exemplo de
que tudo continua como antes é a
presença maciça de camelôs na
região central de São Paulo, principalmente nas regiões da praça
da Sé e da rua 25 de Março.
"O trabalho de camelôs é ilegal.
Para eles conseguirem trabalhar
sem repressão, devem estar pagando propina a fiscais da regional", conclui o promotor.
Blat considera que a força-tarefa
de delegados e promotores e os
vereadores da CPI da máfia da
propina tinham capacidade de
combater apenas os efeitos da
corrupção. As causas da corrupção só podem ser combatidas
com mudanças na legislação municipal, o que não foi feito.
"É preciso haver mudanças profundas no plano diretor e nos
meios de fiscalização da prefeitura e das regionais. A fiscalização
precisa ser baseada em critérios
objetivos, sem tanto contato diretor entre fiscal e contribuinte",
afirma Blat.
"Sem essa mudança, o trabalho
da polícia e do Ministério Público
é como enxugar o chão de uma
casa com o telhado quebrado. O
certo seria trocar as telhas."
Mas, se depender da Câmara, as
telhas devem continuar as mesmas. Desde o início das denúncias
de corrupção, nenhum projeto foi
aprovado para tentar reverter a situação. A CPI, um mecanismo
para evitar irregularidades, foi arquivada no meio do ano.
Na época, os vereadores governistas afirmavam que mais eficiente que a CPI seria a aprovação
de projetos de controle e fiscalização, como a criação de uma corregedoria, de um código de ética e
de uma ouvidoria do Executivo e
do Legislativo. Mas nenhum dos
projetos foi aprovado.
Por falta de consenso entre as
bancadas, a aprovação do pacote
de medidas anti-corrupção ficou
para o próximo ano.
Para José Eduardo Martins Cardozo (PT), vereador que presidiu
a CPI, não há esperanças de mudar nada nesta legislatura.
"Para haver uma nova CPI será
preciso uma pressão social descomunal, muito maior do que a da
época da primeira CPI. Sinceramente, acho isso impossível", declarou. Além disso, Cardozo acha
que nenhum projeto de impacto
será aprovado até a eleição do ano
que vem.
Mesmo assim, Cardozo considera que a investigação trouxe
pontos positivos. Na Câmara, ele
aponta a cassação de dois vereadores "por corrupção" -na verdade, falta de decoro. "Foi um fato histórico, ninguém jamais havia sido cassado."
Na sociedade, ele acredita que
as pessoas tenham se conscientizado que a corrupção atinge diretamente seu bolso.
"Houve uma conscientização
do cidadão. Antes, a corrupção
não era condenada, pois o pensamento era que os corruptos lesavam apenas os cofres públicos.
Agora, todos sabem que o combate à corrupção é importante para melhorar a qualidade de vida
da população."
(OTÁVIO CABRAL)
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