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ARQUEOLOGIA
Empreiteiras descobrem peças índigenas e do período colonial durante construção de estradas e de hidrelétricas
Grandes obras "desenterram" história paulista
DA REPORTAGEM LOCAL
A descoberta, há dois meses, de
um sítio arqueológico de 16 mil
m2 em Sorocaba, 100 km a oeste
da capital, é o exemplo mais recente de um fenômeno que especialistas apelidaram de "época áurea da arqueologia brasileira".
Mantido em segredo, o sítio foi
encontrado em uma obra da
Viaoeste e repete a história da
maioria dos cerca de cem descobertos no Estado neste ano.
A maioria das descobertas surge
com o que o Iphan (Instituto do
Patrimônio Histórico e Arqueológico Nacional) denomina "arqueologia de contrato". São achados patrocinados por empresas
que executam obras de grande
impacto ambiental, como estradas e usinas hidrelétricas.
"É um estado de efervescência.
A demanda de descobertas, dependendo da região, vai além da
capacidade de estudá-las a fundo", afirma o arqueólogo Rossano Lopes Bastos, 41, que assumiu,
na última semana, em Brasília, a
Coordenadoria Nacional de Arqueologia do Iphan, criada para
organizar as descobertas.
Em 1986, o Conama (Conselho
Nacional de Meio Ambiente) baixou a resolução nš 1, que obrigava
a apresentação de estudos ambientais antes da execução de
grandes obras, inclusive a sondagem arqueológica. O procedimento foi regulamentado pela
portaria nš 7, de 1988, do Iphan.
A legislação começou a surtir
efeito na década de 90, quando,
afirma Bastos, as grandes obras
públicas retomaram o fôlego perdido nos anos 70.
Em 1993, a construção da rodovia Carvalho Pinto foi responsável
pela descoberta de quatro sítios
apenas na cidade de Caçapava,
112 km a nordeste da capital. No
local, foram resgatadas peças de
cerâmica indígena e colonial.
Com isso, mudou o perfil dos
arqueólogos brasileiros. "Está
acabando o exotismo da profissão", diz a arqueóloga Solange
Caldarelli, doutora pela Universidade de São Paulo que montou
uma empresa de consultoria especializada. "O lamentável é que a
arqueologia acadêmica não tem
sobrevivido paralelamente."
Cacos de cerâmica
O sítio arqueológico de Sorocaba foi descoberto durante as obras
de construção da estrada de ligação das rodovias José Ermírio de
Moraes, conhecida como Castelinho, e Raposo Tavares. No traçado de 6,8 km da via, a área ocupa
cerca de cem metros de extensão e
fica em terras desapropriadas do
empresário Mário Amato, ex-presidente da Federação das Indústrias do Estado (Fiesp).
Segundo o engenheiro Gustavo
Loiola Ferreira, 30, da Viaoeste,
como o local -o bairro Aparecidinha- é cercado de pontos históricos, a descoberta era previsível. "Havia cacos de cerâmica
quase na superfície. As peças foram encontradas assim que o terreno foi limpo", conta Ferreira.
No sítio, foram resgatadas partes de cerâmica histórica, que,
possivelmente, são do período colonial, entre os séculos 16 e 18.
Nesse período, Sorocaba foi uma
importante rota de bandeirantes e
tropeiros. A descoberta não deverá atrasar as obras, segundo o engenheiro. "Podemos executar outros trechos da estrada enquanto
o material é resgatado", afirma.
Conforme determinação do
Iphan, a empresa tem de se responsabilizar pelo resgate do material histórico, o que, por causa
do tamanho do sítio, exigirá equipe de 20 pessoas e prazo que deverá variar de 60 a 90 dias.
A Viaoeste tem plano próprio
de gestão ambiental, o que torna
atividades como essa parte da rotina da concessionária, previstas,
inclusive, no orçamento das
obras. A empresa fará do resgate
das peças um acontecimento histórico em Sorocaba, com a participação de estudantes e da equipe
do Museu Histórico Sorocabano,
destino final do material.
Segundo a arqueóloga Lúcia
Cardoso de Oliveira Juliani, que
coordenou os trabalhos em campo, está descartada, por enquanto, a hipótese de que os pedaços
de cerâmica sejam indígenas.
"Entre as peças, foi encontrada
uma alça. As cerâmicas fabricadas
pelos índios não tinham esse detalhe. Por outro lado, não foram
achadas louças, que são artigos
mais modernos", afirma Lúcia.
A expectativa é de retirar "centenas de peças históricas". Caso
contrário, a região nem seria declarada sítio arqueológico. "As
peças são importantes para estudar as relações sociais da época,
dos povos que fizeram o país",
diz.
(SÉRGIO DURAN)
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