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SAÚDE
Abuso de "gotinhas" pode ser perigoso
FABIANE LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL
Aquelas gotinhas para desentupir o nariz, que todo mundo já
usou durante um resfriado, podem virar um vício perigoso para
a saúde se houver abuso. Para largar a mania, pacientes já procuraram até psiquiatras. Outros precisaram de preparação especial para enfrentar a primeira noite sem
o descongestionante nasal.
Segundo o presidente da Sociedade Brasileira de Otorrinolaringologia, Luc Maurice Weckz, esses remédios, quando contêm
substâncias que contraem os vasos, devem ser utilizados por, no
máximo, cinco dias.
"Passado esse período, eles podem acarretar uma rinite [inflamação das mucosas nasais" medicamentosa, crônica, e levar à dependência. É muito sério", afirma.
A ação desses medicamentos se
dá sobre os cornetos ou conchas,
estruturas do nariz que incham e
desincham sob um estímulo (veja
quadro). Há três cornetos em cada lado do nariz.
Esses descongestionantes nasais
causam a constrição dessas estruturas, permitindo que haja mais
espaço para a passagem do ar.
O uso, geralmente, é feito por
quem tem um quadro de rinite
alérgica ou está gripado.
Nesses casos, os cornetos ficam
inchados e o uso dos descongestionantes alivia. O problema, diz
Weckz, é que após quatro horas,
ocorre o chamado "efeito rebote".
Os cornetos voltam a se dilatar.
Com o abuso, a vasodilatação é
cada vez maior, muda o ritmo natural de enchimento e esvaziamento das conchas nasais e o nariz fica cada vez mais obstruído.
O remédio passa também a atacar o revestimento do nariz, destruindo os cílios e atrapalhando a
produção do muco gelatinoso,
que servem como barreira de proteção. Eles aquecem o ar que vai
para o pulmão e varrem impurezas para a garganta e o estômago.
Por fim, as gotinhas nasais usadas em demasia podem piorar o
problema inicial ou causar o quadro de rinite medicamentosa, que
se mantém enquanto houver o
uso da droga.
Algumas pessoas precisam de
cirurgia para diminuir os cornetos e voltar a respirar normalmente pelo nariz.
De acordo com o chefe da clínica de Otorrinopediatria do Hospital São Paulo, da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo),
Reginaldo Raimundo Fujita, o
abuso dos remédios, por sua ação
vasoconstritora, pode causar arritmia cardíaca e aumentar a
pressão arterial principalmente
em idosos, faixa etária que abusa
bastante dessas drogas. Em crianças, pode causar convulsões. "Algumas pessoas usam como se fosse uma medicação inócua", diz.
Não há dados sobre o abuso
desse tipo de remédio, mas
Weckz calcula que receba no mínimo um paciente por dia dependente das gotinhas. "É um alerta
para clínicos e pediatras. Quando
vão fazer o histórico do nariz entupido, devem perguntar se a pessoa não faz o uso da gotinha."
O primeiro dia, especialmente a
primeira noite, sem os descongestionantes é difícil, afirma Weckz.
Para ele, a receita para largar o vício é composta de "70% de força
de vontade e 30% de orientação e
uso de alguns medicamentos".
Antialérgicos e antiinflamatórios
são aplicados no tratamento.
O otorrinolaringologista recomenda a seus pacientes que durmam sentados, comprem um
bom livro ou aluguem um vídeo
para "desmaiar" de sono e aguentar a primeira noite. "Na terceira
noite não é necessário tanto."
Já o otorrinolaringologista José
Eduardo Lutaif Dolci, professor-adjunto da Faculdade de Medicina da Santa Casa de São Paulo,
prefere que o corte seja brusco.
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