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São Paulo, segunda-feira, 03 de março de 2003

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NA PISCINA 1

Folia carioca

DANUZA LEÃO
COLUNISTA DA FOLHA

Como todo mundo sabe, gente fina ou famosa -nada a ver uma coisa com a outra- não vai à praia, a não ser em ilha particular. E onde elas vão, num deslumbrante dia de sol no Rio, e ainda por cima sábado de Carnaval? Às piscinas, naturalmente. Mas tem que ser uma animada, para poder entrar no clima, e fica óbvio que nenhuma tem um glamour igual à do Copacabana Palace.
Quem não ouviu falar dos tempos gloriosos em que Jorginho Guinle comandava o espetáculo recebendo Kim Novak e Gina Lollobrigida, comendo feijoada, tomando champanhe rosée e celebrando o Carnaval do Rio? Ah, as coisas mudaram. Onde estão as mulheres deslumbrantes, quase nuas e famosas, onde foi parar o mundo gay, ingredientes fundamentais ao Carnaval?
Na piscina do Copa só tinha estrangeiros tomando cerveja, e foi improvisada uma butique para alugar smokings e vender adereços a quem fosse ao baile do hotel, à noite. Às 2h da tarde um pequeno conjunto musical atacou com "Isto aqui, Iôiô, é um cantinho de Brasil, Iaiá, desse Brasil que canta e é feliz, feliz, feliz". Nós, nativos, ouvíamos e pensávamos: será que incendiaram algum ônibus hoje?
Como não acontecia mesmo nada, o programa foi subir e ver a decoração do baile, toda vermelha, glorificando a China. Logo na entrada, o idealizador da festa, Zeca Marques, exausto, comia um sanduíche tendo ao lado Eliana Pitman, a homenageada deste ano. Precinho da festa: R$ 750 por pessoa, sem direito a mesa, e R$ 1.000, com comida e bebida incluídas.
A decoração estava linda, e nem tudo está perdido: o internacional Eddie Barclay foi visto na área, se arrastando com dificuldade, levando pela mão sua nona e jovem esposa, uma asiática -para combinar com a decoração, é claro.
Informação cultural: as feijoadas se reproduziram, viraram temáticas e um bom negócio. Em algumas, pela módica quantia de R$ 200, podem ser encontradas moçoilas de shortinho e sandálias de salto altíssimo, candidatas a qualquer tipo de estrelato; quanto ao mundo gay, esse preferiu sair na Banda de Ipanema, onde a alegria é garantida -e grátis.
Mas vocês pensam que o Carnaval acabou? Imagina. Um verdadeiro carnavalesco tem é que ter preparo físico para enfrentar com galhardia a programação primordial de quem tem a obrigação de estar em to-das.
Tudo começou na sexta-feira, com uma bacalhoada em casa de um promoter carioca; de lá, foi o tempo de passar em casa, tomar um banho e ir para o coquetel de Linda Conde, que todos os anos se desloca de São Paulo para o Rio com o seu séquito -garotos bonitos e alugados-, para desfilar na Beija-Flor. Aí, uma passadinha rápida no jantar da revista "Caras" de Portugal -a fantasia, ufa.
No sábado, depois de uma das feijoadas, credenciamento para o camarote da Brahma no Porcão Rio's, mais complicado do que tirar um passaporte. Antes do baile, outro coquetel no famoso edifício Chopin, ao lado do Copa, onde o casal André e Bruno Ramos -ou seria Bruno e André Chateaubriand?- recebia.
Gente fina mesmo não chega a nenhum lugar cedo, e a turma do sereno que espere.
A turma é fogo; conhece os personagens cariocas de tanto ver as fotos nas revistas, e gritam os nomes, entusiasmados, na entrada do baile. O casal Ramos -ou seria Chateaubriand?-, com medo de uma vaia, se organizou: fez uma entrada triunfal à 1h da manhã, levando cestas cheias de bem-casados (aqueles docinhos divinos de casamento de rico) que foram distribuídos ao povo, uma coisa assim tipo Maria Antonieta. Os dois foram aplaudidíssimos, claro, e deram, à sua maneira, sua colaboração ao programa Fome Zero.
O baile foi assim assim, mais um desfile de roupas do que uma animação; mas valeu, para começar a folia.
Sim, porque domingo tinha o desfile das escolas de samba, segunda uma ida básica a Salvador com direito ao camarote do ministro Gil, e terça camarote de Daniela Mercury -fora os trios elétricos.
E a humilhação, se não tiver sido convidado para um, um só desses eventos?
A vida de um carnavalesco não é nada fácil.


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