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NA PISCINA 1
Folia carioca
DANUZA LEÃO
COLUNISTA DA FOLHA
Como todo mundo sabe, gente fina ou famosa -nada a
ver uma coisa com a outra- não
vai à praia, a não ser em ilha particular. E onde elas vão, num deslumbrante dia de sol no Rio, e ainda por cima sábado de Carnaval?
Às piscinas, naturalmente. Mas
tem que ser uma animada, para
poder entrar no clima, e fica óbvio
que nenhuma tem um glamour
igual à do Copacabana Palace.
Quem não ouviu falar dos tempos gloriosos em que Jorginho
Guinle comandava o espetáculo
recebendo Kim Novak e Gina Lollobrigida, comendo feijoada, tomando champanhe rosée e celebrando o Carnaval do Rio? Ah, as
coisas mudaram. Onde estão as
mulheres deslumbrantes, quase
nuas e famosas, onde foi parar o
mundo gay, ingredientes fundamentais ao Carnaval?
Na piscina do Copa só tinha estrangeiros tomando cerveja, e foi
improvisada uma butique para
alugar smokings e vender adereços a quem fosse ao baile do hotel,
à noite. Às 2h da tarde um pequeno conjunto musical atacou com
"Isto aqui, Iôiô, é um cantinho de
Brasil, Iaiá, desse Brasil que canta
e é feliz, feliz, feliz". Nós, nativos,
ouvíamos e pensávamos: será que
incendiaram algum ônibus hoje?
Como não acontecia mesmo
nada, o programa foi subir e ver a
decoração do baile, toda vermelha, glorificando a China. Logo na
entrada, o idealizador da festa,
Zeca Marques, exausto, comia
um sanduíche tendo ao lado Eliana Pitman, a homenageada deste
ano. Precinho da festa: R$ 750
por pessoa, sem direito a mesa, e
R$ 1.000, com comida e bebida incluídas.
A decoração estava linda, e nem
tudo está perdido: o internacional
Eddie Barclay foi visto na área, se
arrastando com dificuldade, levando pela mão sua nona e jovem
esposa, uma asiática -para combinar com a decoração, é claro.
Informação cultural: as feijoadas se reproduziram, viraram temáticas e um bom negócio. Em
algumas, pela módica quantia de
R$ 200, podem ser encontradas
moçoilas de shortinho e sandálias
de salto altíssimo, candidatas a
qualquer tipo de estrelato; quanto
ao mundo gay, esse preferiu sair
na Banda de Ipanema, onde a alegria é garantida -e grátis.
Mas vocês pensam que o Carnaval acabou? Imagina. Um verdadeiro carnavalesco tem é que ter
preparo físico para enfrentar com
galhardia a programação primordial de quem tem a obrigação de
estar em to-das.
Tudo começou na sexta-feira,
com uma bacalhoada em casa de
um promoter carioca; de lá, foi o
tempo de passar em casa, tomar
um banho e ir para o coquetel de
Linda Conde, que todos os anos
se desloca de São Paulo para o Rio
com o seu séquito -garotos bonitos e alugados-, para desfilar
na Beija-Flor. Aí, uma passadinha
rápida no jantar da revista "Caras" de Portugal -a fantasia, ufa.
No sábado, depois de uma das
feijoadas, credenciamento para o
camarote da Brahma no Porcão
Rio's, mais complicado do que tirar um passaporte. Antes do baile,
outro coquetel no famoso edifício
Chopin, ao lado do Copa, onde o
casal André e Bruno Ramos -ou
seria Bruno e André Chateaubriand?- recebia.
Gente fina mesmo não chega a
nenhum lugar cedo, e a turma do
sereno que espere.
A turma é fogo; conhece os personagens cariocas de tanto ver as
fotos nas revistas, e gritam os nomes, entusiasmados, na entrada
do baile. O casal Ramos -ou seria Chateaubriand?-, com medo
de uma vaia, se organizou: fez
uma entrada triunfal à 1h da manhã, levando cestas cheias de
bem-casados (aqueles docinhos
divinos de casamento de rico) que
foram distribuídos ao povo, uma
coisa assim tipo Maria Antonieta.
Os dois foram aplaudidíssimos,
claro, e deram, à sua maneira, sua
colaboração ao programa Fome
Zero.
O baile foi assim assim, mais um
desfile de roupas do que uma animação; mas valeu, para começar a
folia.
Sim, porque domingo tinha o
desfile das escolas de samba, segunda uma ida básica a Salvador
com direito ao camarote do ministro Gil, e terça camarote de Daniela Mercury -fora os trios elétricos.
E a humilhação, se não tiver sido convidado para um, um só
desses eventos?
A vida de um carnavalesco não
é nada fácil.
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