São Paulo, quarta, 3 de junho de 1998

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SAÚDE
Leonildo de Oliveira morreu 11h depois de chegar a posto de saúde para marcar consulta
Aposentado tem infarto em fila e morre

MARCELO OLIVEIRA
da Reportagem Local

O aposentado Leonildo Antonio de Oliveira, 74, morreu às 15h de anteontem na sala de emergência do PS Santana (zona norte de São Paulo), após sofrer um infarto e passar por uma via-crúcis de 12 horas, que incluiu um ambulatório estadual, um pronto-socorro e um hospital municipais.
Oliveira teve o infarto enquanto esperava numa fila, às 4h de anteontem, a abertura do posto de saúde estadual Maria Zélia, no Catumbi (zona sudeste), onde queria marcar uma consulta ambulatorial para tratar de seu diabetes.
Ele havia chegado ao posto às 3h30, meia hora depois de ter saído de sua casa, na Vila Ede (zona norte), levado pelo genro, o motorista João Antonio Calderari.
Na fila do posto, formada nas imediações do ambulatório, Oliveira teve a companhia do neto Ronaldo, 14, que ligou para casa assim que o avô passou mal.
"Cheguei às 4h30, ele estava caído no chão, parecia um mendigo, mas ele havia saído de casa bonzinho", lembra o genro.
Oliveira foi levado até o PS Santana, na zona norte, onde chegou às 5h e foi diagnosticado o infarto.
Segundo Calderari, funcionários do PS começaram a ligar para hospitais e avisaram a família, por volta das 7h, que havia uma vaga no Hospital do Tatuapé.
"Minha mulher, um médico e uma enfermeira o levaram de ambulância até o hospital, onde disseram que devia ter ocorrido um engano, pois não havia vaga lá."
Segundo o motorista, o aposentado foi levado de volta ao PS Santana, onde chegou por volta das 8h, permanecendo na sala de emergência até as 15h, onde morreu. Oliveira foi enterrado às 13h de ontem no Cemitério Primaveras 2, em Guarulhos.
Calderari afirma, que por falta de dinheiro, a família não processará o Estado ou o município pelo que considerou um descaso.
"Resolvemos denunciar o caso para mostrar o quanto isso é triste. Ele pagou o INPS a vida toda para depois ficar numa fila dessas e morrer sofrendo", diz Calderari.
Usuários reclamam
Usuários do posto de saúde Maria Zélia ouvidos pela Folha ontem reclamaram da fila para a marcação de consultas, a mesma na qual o aposentado Oliveira passou mal.
A costureira Anélia do Carmo, 51, chegou às 5h da última quinta-feira para marcar uma consulta com um otorrino e saiu do ambulatório às 8h30 com consulta marcada para as 15h de terça-feira.
"Quando cheguei na fila (4h30) já tinha umas 300 pessoas na minha frente." A direção do posto afirma estar aplicando medidas para diminuir as filas na madrugada.



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