São Paulo, sábado, 03 de agosto de 2002

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Dois ex-integrantes do Exército e um guarda municipal faziam parte da quadrilha que servia os morros do Rio

PF aprende no Rio contrabando de 50 mil munições

Jorge William/Agência"O Globo"
Munição contrabandeada do Paraguai encontrada pela polícia


MARIO HUGO MONKEN
DA SUCURSAL DO RIO

A PF (Polícia Federal) apreendeu ontem no Rio cerca de 50 mil munições contrabandeadas do Paraguai. O material foi encontrado em três carros que passavam pela avenida Brasil (ligação entre as zonas norte e oeste e uma das principais vias de acesso ao Rio) e em um depósito na favela da Carobinha (zona oeste). Em uma casa em Jacarepaguá (zona oeste), foram localizados US$ 25 mil.
Quatro homens e duas mulheres foram presos -entre eles, um ex-cabo e um ex-sargento do Exército que serviram em Foz do Iguaçu (PR), divisa com Paraguai, e um guarda municipal do Rio.
Segundo o superintendente da PF no Rio, Marcelo Itagiba, foi a maior apreensão de munições feita pela instituição no Rio desde que ele assumiu o cargo, em maio do ano passado.
A PF conseguiu apreender as munições quando três homens e duas mulheres se encontraram em frente à lanchonete Bob"s, na pista sentido centro da avenida Brasil, na altura de Bonsucesso (zona norte). Os suspeitos estavam sendo vigiados.

Fuga
Ao perceber a ação dos policiais, o grupo fugiu em três carros, sendo dois (um Palio Verde e um Uno Prata) com placa de São Paulo e um (Uno Azul), de Foz do Iguaçu (PR). Houve perseguição.
No acesso à favela Vila do João (zona norte), os policiais interceptaram os três carros. Os ocupantes (três homens e duas mulheres) tentaram fugir a pé. Houve troca de tiros. A polícia chegou a interromper o trânsito em duas pistas da avenida, por 20 minutos, antes de prender a quadrilha.
O delegado Roberto Prel, da Delops (Delegacia de Ordem Política e Social), que coordenou a operação, disse que as munições estavam escondidas nos forros dos bancos, nos filtros de ar e nos alto-falantes dos carros.
Em seguida, a polícia seguiu para a zona oeste, onde localizou o arsenal da favela da Carobinha. Um homem foi preso no local.
O delegado Itagiba disse que investigava a quadrilha havia cerca de dois meses. Até a conclusão desta edição os nomes dos presos não tinham sido divulgados.
"A quantidade apreendida me surpreendeu", disse. De acordo com ele, as munições abasteceriam as facções criminosas CV (Comando Vermelho), TC (Terceiro Comando) e ADA (Amigo dos Amigos), que disputam o controle dos pontos-de-vendas de drogas em favelas do Rio.
"Todas as facções utilizam o mesmo procedimento para fazer drogas e armas chegarem ao Rio. Foi uma apreensão importante, já que são essas balas que têm matado pessoas no Rio", declarou.
Itagiba disse que há a suspeita de que o traficante Celso Luiz Rodrigues, o Celsinho da Vila Vintém, preso na penitenciária Bangu 1 (zona oeste), esteja envolvido no caso. A favela da Carobinha, onde foi estourado o depósito, é um dos redutos do criminoso e um dos locais em que ele esconde os armamentos de sua quadrilha, segundo a Polícia Civil.
O delegado disse ainda que parte da munição apreendida foi fabricada no Brasil, já que possuía a sigla CBC (Companhia Brasileira de Cartuchos). Segundo ele, isso significa que as cápsulas foram importadas pelo Paraguai e retornaram ao Brasil por contrabando.
Para Itagiba, o contrabando de armas vindas do Paraguai é facilitado pelo fato de grande parte da fronteira com o Brasil ser seca. "Em Ponta Porã [MS", é só atravessar a rua que você já está no Paraguai", disse.
No material apreendido, havia balas para fuzis AR-15, M-16, Sig Sauer e HK G-3, exclusivos das Forças Armadas. Além de cápsulas da CBC, havia munições tchecas e paraguaias. A PF apreendeu também quatro pistolas e um revólver, cinco celulares e quatro uniformes do Exército.
O Ministério da Justiça, a coordenação da força-tarefa e o Ministério da Defesa não quiseram se pronunciar sobre o episódio.

Colaborou a Sucursal de Brasília



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